Entenda como foi a operação que resultou em 25 mortes no Rio
Operação mirava esquemas de aliciamento de crianças e adolescentes para o tráfico; Polícia Civil do Rio nega abusos e MP investiga
Uma operação policial no Rio na favela do Jacarezinho terminou com 25 mortes na manhã desta quinta-feira, 6. A Operação Exceptis foi promovida a partir das 6h pela Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima (DCAV), em conjunto com outras delegacias da Polícia Civil do Rio, com o objetivo de prender 21 acusados de aliciar crianças e adolescentes para o tráfico de drogas na comunidade.
Qual foi a investigação, segundo a polícia?
A Polícia Civil informou que investigava esses crimes havia meses e, a partir da quebra de sigilo telemático de envolvidos, identificou 21 suspeitos. Pediu então a prisão deles, que foi decretada pela Justiça na última sexta-feira, 30.
Como começou a operação?
Cerca de 250 policiais participaram da operação, que começou às 6h, com o auxílio de helicóptero e de veículos blindados. Segundo a Polícia Civil, nenhum dos quatro veículos blindados conseguiu entrar na favela, no início, porque todos os acessos estavam bloqueados por obstáculos instalados por criminosos.
Quem são as pessoas que morreram na operação?
O policial André Frias, de 48 anos, estava com outros sete colegas em uma incursão pela favela quando foi atingido na cabeça por um tiro, disparado a partir de uma seteira (abertura feita em um muro de concreto para permitir o disparo de tiros). Ele chegou a ser levado ao hospital, mas morreu. A Polícia Civil disse que os outros 24 mortos eram criminosos, mas não apresentou as identidades das outras vítimas nem mais informações sobre as investigações. A Polícia Civil não fez estimativa de feridos, mas pelo menos dois policiais civis e dois passageiros do metrô foram atingidos. No trecho próximo à favela do Jacarezinho, o metrô transita pela superfície, daí os passageiros terem sido atingidos por balas perdidas.
Quais foram os resultados da operação?
Dos 21 procurados, três foram presos e três foram mortos. Outras três pessoas foram presas por outras razões, e 21 supostos criminosos que não eram alvo da operação morreram, assim como o policial civil. Foram apreendidas 16 pistolas, 12 granadas, seis fuzis, uma submetralhadora e uma escopeta, além de drogas em quantidade não contabilizada.
O que diz o Ministério Público?
O MP afirma ter sido comunicado pela Polícia Civil às 9h desta sexta, 6, da operação. Segundo a Procuradoria, a ação visava ao cumprimento de mandados judiciais e teve sua excepcionalidade - circunstância em que poderia ocorrer durante a pandemia - justificada com base na extrema violência dos criminosos que agem no Jacarezinho, "inclusive com a prática de homicídios, com constantes violação aos direitos fundamentais de crianças e adolescentes e demais moradores". Depois da ação que resultou em 25 mortes, o MP informou que adotou medidas para verificar os fatos, "de modo a permitir a abertura de investigação independente para apuração dos fatos, com a adoção das medidas de responsabilização aplicáveis". Por decisão do Supremo Tribunal Federal, operações policiais no Rio estão restritas durante a pandemia.
A Polícia Civil nega ter executado alguma vítima e afirma ter respeitado todos os protocolos, inclusive aqueles determinados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para realizar operações em favelas. Diz que os 24 mortos são criminosos que só morreram porque preferiram enfrentar a polícia a se render. A corporação também criticou "ativismo judicial".