Entidades condenam agressões a jornalistas em protestos no Brasil
Representantes de quatro associações de jornais e empresas de comunicação condenaram nesta segunda-feira os ataques a jornalistas em todo o País desde o início das manifestações.
Repórter do Terra é agredido pela PM em protesto em SP
De acordo com Théo Rochefort, diretor da Associação Brasileira das Empresas de Radio e Televisão (Abert), as ações revelam uma inabilidade destes manifestantes radicais em viver em uma democracia.
"Existem mais de 500 emissoras de televisão em todo o País. Só de noticiário nacional, são 14 programas. Se estão insatisfeitos com a cobertura atual, é simples: mudem de canal", afirmou Rochefort durante o Seminário Internacional sobre Violência contra Jornalistas organizado pelo Instituto Vladimir Herzog.
Segundo levantamento da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), 96 jornalistas foram agredidos desde o início dos protestos, em junho deste ano. As forças policiais ou agentes da Força Nacional foram responsàveis pela ampla maioria (74%) do total de agressões, ainda de acordo com a análise.
Para o diretor da Associação Nacional das Editoras de Revistas (Aner), Lourival J. Santos, é preciso desvincular o ataque aos jornalistas do ataque aos donos de jornais. De acordo com ele, qualquer manifestação à imprensa é dirigida "à sociedade como um todo".
"O jornalismo não é a manifestação da vontade do dono da empresa, mas um conjugado entre a liberdade de expressão e a liberdade pública de acesso aos meios comunicação", defende Lourival.
Presente no encerramento do seminário, o ex-secretário nacional dos Direitos Humanos José Gregori alertou para necessidade de se questionar o que tem levado ao aumento da violência contra os meios de comunicação. "Em qual momento se terá cometido alguma coisa para que a sociedade civil não tivesse aquele respeito e aquela noção da importância da imprensa no processo político?", questionou Gregori em seu discurso de encerramento.
Protestos contra tarifas mobilizam população e desafiam governos de todo o País
Mobilizados contra o aumento das tarifas de transporte público nas grandes cidades brasileiras, grupos de ativistas organizaram protestos para pedir a redução dos preços e maior qualidade dos serviços públicos prestados à população. Estes atos ganharam corpo e expressão nacional, dilatando-se gradualmente em uma onda de protestos e levando dezenas de milhares de pessoas às ruas com uma agenda de reivindicações ampla e com um significado ainda não plenamente compreendido.
A mobilização começou em Porto Alegre, quando, entre março e abril, milhares de manifestantes agruparam-se em frente à Prefeitura para protestar contra o recente aumento do preço das passagens de ônibus. A mobilização surtiu efeito e o aumento foi temporariamente revogado. Poucos meses depois, o mesmo movimento se gestou em São Paulo, onde sucessivas mobilizações atraíram milhares às ruas – o maior episódio ocorreu no dia 13 de junho, quando um imenso ato público acabou em violentos confrontos com a polícia.
A grandeza do protesto e a violência dos confrontos expandiu a pauta para todo o País. Foi assim que, no dia 17 de junho, o Brasil viveu o que foi visto como uma das maiores jornadas populares dos últimos 20 anos. Motivados contra os aumentos do preço dos transportes, mas também já inflamados por diversas outras bandeiras, tais como a realização da Copa do Mundo de 2014, a nação viveu uma noite de mobilização e confrontos em São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba,
Salvador, Fortaleza, Porto Alegre e Brasília.
A onda de protestos mobiliza o debate do País e levanta um amálgama de questionamentos sobre objetivos, rumos, pautas e significados de um movimento popular singular na história brasileira desde a restauração do regime democrático em 1985. A revogação dos aumentos das passagens já é um dos resultados obtidos em São Paulo e outras cidades, mas o movimento não deve parar por aí. "Essas vozes precisam ser ouvidas", disse a presidente Dilma Rousseff, ela própria e seu governo alvos de críticas.