Faculdade nega emissão de diploma de técnica que assinou laudos de órgãos com HIV
Laboratório afirma que ela entregou diploma de biomedicina, mas a funcionária nega e diz ter sido usada como "laranja"
A Universidade Pitágoras Unopar Anhanguera afirmou, nesta terça-feira, 15, que não emitiu o certificado de biomedicina de Jacqueline Iris Bacellar de Assis, auxiliar administrativa que trabalhava no PCS Lab Saleme. De acordo com a Folha de S. Paulo, a assinatura da funcionária aparece em um dos laudos que atestam falso negativo para HIV dos órgãos de doares que provocaram a infecção de 6 pacientes no Rio de Janeiro.
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“A Instituição não emitiu certificado de conclusão de curso de graduação, de qualquer natureza, para a Jacqueline Iris Bacellar de Assis”, informou a Unopar ao Terra.
O laboratório investigado, segundo o jornal, afirma ter recebido o diploma de biomédica da funcionária no momento de sua contratação, além da carteira profissional com habilitação em patologia clínica. No entanto, ela afirmou desconhecer o documento. Inclusive, a clínica enviou o print da conversa em que a contratada teria enviado o documento da Unopar.
A assinatura de Jaqueline aparece em um dos laudos de uma mulher de 40 anos, que morreu no Hospital Municipal Albert Schweitzer, na Zona Oeste do Rio, depois de ter fígado e rins transplantados em maio deste ano. Cinco meses depois, um dos pacientes que recebeu os órgãos apresentou sintomas e, ao fazer a testagem, resultou positivo para HIV.
O PCS Lab Saleme é investigado pela Polícia Civil após seis pacientes de transplantes serem contaminados com HIV após receberem órgãos infectados com o vírus. Quatros pessoas são investigadas pelo caso. Dois já foram presos e dois seguem foragidos, um deles é a Jaqueline.
Prisões
Nesta segunda-feira, 14, o médico ginecologista Walter Vieira, apontado como o responsável técnico pelo laboratório e que assinou um dos laudos com o falso negativo para o vírus HIV, foi preso pela Polícia Civil na Operação Verum, que mirou os suspeitos de envolvimento no caso.
Ivanilson Fernandes dos Santos também foi preso pela ação. Ele seria um dos responsáveis técnicos pelos laudos. Segundo O Globo, Santos não quis falar com a imprensa e riu ao ser indagado sobre os crimes.
Outros dois alvos de mandados de prisão são: Cleber de Oliveira Santos, que também seria outro responsável técnico pelos documentos, e Jacqueline. Ambos são considerados foragidos pela polícia.
Além das prisões, os agentes também cumpriram 11 mandados de busca e apreensão em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, onde fica a sede do laboratório, e na capital.
Nega envolvimento
De acordo com a Folha de S.Paulo, a defesa da funcionária disse que ela "jamais trabalhou como biomédica", que "não tem capacidade técnica e nunca teve interesse na função". A mulher, conforme seu advogado, também alegou que não reconhece o diploma citado pelo laboratório, pois "jamais cursou ou tem a faculdade de biomedicina".
Antes de ser considerada foragida, ela deu entrevista ao jornal, ocasião em que relatou que passou a trabalhar na PCS Lab Saleme em outubro de 2023 como supervisora administrativa, e não assinava laudos. Jacqueline também disse que seu nome era usado como “laranja”.
Segundo a investigada, o que ela fazia era uma “conferência” na qual verificava se estava “tudo digitado corretamente”, e depois enviava para “os médicos liberarem”.
No último domingo, 13, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro autorizou a quebra de sigilo de dados de aparelhos eletrônicos apreendidos, conversas e análises de ligações efetuadas ou recebidas. Fotos e arquivos também poderão ser analisados.
‘Maximização de lucro’
"Houve uma quebra do controle de qualidade, visando à maximização de lucro e deixando de lado a preservação e a segurança da saúde dos testes", disse o delegado André Neves, titular da Delegacia do Consumidor, sobre a conduta do laboratório PCS Lab Saleme, responsável por realizar os exames dos doadores de órgãos.
"As informações iniciais colhidas até o momento dão conta de que houve uma falha operacional de controle de qualidade nos testes aplicados ao diagnóstico de HIV. E tudo isso com o objetivo de obter lucro nessa questão dessas análises. A questão contratual também está sendo investigada pela Polícia Civil", explicou o secretário de Polícia Civil do Rio de Janeiro, Felipe Curi, segundo O Globo.
Ainda não há informações sobre quem seria o responsável direto pela flexibilização da rotina de segurança para a realização dos exames. Segundo o delegado Wellington Dias, titular da Delegacia do Consumidor (Decon), cerca de 300 pessoas estão sendo testadas novamente.
"Todas as pessoas que foram receptoras de órgãos estão sendo testadas, em torno de 300. Isso demanda um pouquinho de tempo, começou a ser feito, mas ainda não terminou", pontuou.