Fila para emissão de visto no consulado da China em SP tem venda de lugar por R$ 5 mil
Consulado colocou aviso na porta admitindo alta procura; empresários tentam participar de uma das maiores feiras multissetoriais do mundo
Empresários e demais interessados em tirar ou renovar o visto chinês estão enfrentando longas filas de espera na capital de São Paulo. O consulado chinês, responsável pela emissão do documento, chegou a colocar um aviso na porta admitindo a alta procura e testemunhas relataram até mesmo a venda de lugares por altos valores.
A China suspendeu os vistos emitidos até 26 de março de 2020, fazendo com que todos tivessem que renovar. Antes, eram emitidos cerca de 300 vistos por dia; agora são no máximo 90 por causa da biometria e de outras burocracias.
O interesse para o visto chinês pode ser explicado, em parte, devido à realização de uma das maiores feiras multissetoriais no mundo, que acontecerá na China em abril, a Canton Fair, que volta a ser presencial após três edições remotas.
Todos os dias, a fila é grande e tem gente amanhecendo na calçada do consulado. O local funciona apenas na parte da manhã, entre 9h e 12h, e o processo é mais demorado, já que o visto agora é biométrico – são apenas dois funcionários para fazer tudo isso.
Além disso, o preço da taxa consular subiu: passou de R$ 460 para R$ 760.
Venda de lugar
Antes da pandemia, quem chegava ao local, saía com o visto. Agora, não é bem assim. A situação mudou: são 30 agendamentos por dia e mais 60 sem agendamento.
À Rádio CBN, um empresário confessou ter pago para pegar um lugar na fila que seria, em tese, atendido no mesmo dia. "Vim até aqui ver como estava a situação e percebi o caos. Assim, paguei R$ 5 mil por uma senha de número 44 para talvez ser atendido amanhã. Virou um negócio, quem paga mais leva uma senha prioritária. Já ouvi dizer de gente que está ofertando R$ 10 mil", disse.
Lincoln Fracari, diretor da China Link Trading, maior consultoria em importação do Brasil, só conseguiu renovar o próprio visto por se adiantar e estar bem-informado. “Tem inúmeras histórias de pessoas que compraram passagens de avião em promoções e que não tem reembolso. Agora não conseguem o visto e vão ficar no prejuízo. Fiz manobras com agendamento muito mais cedo porque preciso visitar a China em breve, mas faltou divulgar melhor a nova situação”, opinou.
O diretor explica que muitos empresários interessados na Canton Fair vão perder a oportunidade por causa da burocracia. “A China perde com isso, as fábricas menores que poderiam expandir os negócios ficam sem novos clientes. O governo chinês se beneficia com isso no que diz respeito aos impostos de importações, é claro”, disse.
O que é necessário para visitar a China agora?
O turismo continua proibido, mas a emissão de visto de negócios, trabalho, estudo e visita familiar está permitida. Além do documento, é necessário que o solicitante vá ao consulado para a biometria – antes, um consultor podia fazer o serviço.
Também são necessárias cartas convite por parte da China e do Brasil. Para a emissão do visto de negócios, o país asiático solicita certificado e carta convite carimbada e assinada por parte da empresa chinesa e carta assinada e com CNPJ por parte da empresa brasileira explicando o motivo da viagem.
Além disso, é necessário comprovante de vacinação, cópia do passaporte e cópia do visto anterior, se houver. Lembrando que as regras acima só valem para a China Continental - no caso de Hong Kong e Macau, brasileiros têm permissão de 30 dias.
A reportagem tentou contato com o consulado chinês, mas não obteve retorno.