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Flordelis vira personagem principal do julgamento dos filhos

Flavio teria dado os tiros que mataram o pastor Anderson do Carmo, e Lucas teria comprado a arma do crime; julgamento é o primeiro do caso

23 nov 2021 - 23h08
(atualizado em 25/11/2021 às 11h25)
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RIO - Mesmo ausente, a pastora e ex-deputada Flordelis dos Santos Souza transformou-se em personagem central do julgamento de dois de seus filhos pelo assassinato de seu ex-marido, pastor Anderson do Carmo, em 2019. Seis pessoas - dois delegados, três filhos adotivos e uma nora da ex-parlamentar - a acusaram de ser mandante do crime. Segundo essas testemunhas, a vítima controlava a distribuição dos lucros advindos da igreja e da carreira artística da mulher. Ele também tratava os filhos com muito rigor, por isso havia se tornado "um problema a ser eliminado", como Flordelis teria dito a uma das filhas.

A pastora, de acordo com as testemunhas, não queria se separar, porque seria um escândalo para os fiéis da igreja. Teria então planejado a morte do marido, junto com alguns dos filhos. Inicialmente, eles tentaram matar o pastor por envenenamento, segundo os depoimentos. Anderson foi internado várias vezes, mas resistiu ao veneno. Então, conforme essa versão, resolveram assassiná-lo a tiros, forjando um latrocínio (roubo seguido de morte), como chegou a ser dito à polícia na noite do crime.

Ex-deputada teria pressionado filhos para que não a comprometessem

As testemunhas relataram ainda suposta pressão de Flordelis para que os filhos não afirmassem nada de suspeito sobre ela, em seus depoimentos à polícia. A pastora também teria escrito uma carta atribuindo falsamente a autoria do crime a dois filhos adotivos. Essa carta foi entregue a Lucas. Ele foi convencido a copiar seu conteúdo com a própria letra, assumindo assim a autoria do texto.

Wagner Andrade Pimenta, conhecido como Misael, foi um dos filhos adotivos a testemunhar contra Flordelis. Ele contou aos jurados que em fevereiro de 2019 - quatro meses antes do crime - a pastora escreveu uma mensagem a outro dos filhos. Tentavam combinar a morte do pastor. Por um descuido, o próprio Anderson leu a mensagem, mas a atribuiu a uma das filhas. Embora soubesse que o texto havia sido escrito pela mãe, nenhum familiar contou isso ao pastor, porque temia ser repreendido por ele.

"O pastor era quem mais defendia Flordelis. Quem fizesse essa acusação (de que Flordelis queria matá-lo) poderia ser expulso da família", disse Luana Pimenta, mulher de Wagner.

Réus respondem por homicídio triplamente qualificado

Os réus são Flávio dos Santos Rodrigues, de 38 anos, filho biológico da pastora, e Lucas Cézar dos Santos de Souza, de 20 anos, adotivo. Eles respondem por homicídio triplamente qualificado: por motivo torpe, usando meio cruel e sem dar chance de defesa à vítima. O julgamento, presidido pela juíza Nearis dos Santos Arce, da 3ª Vara Criminal de Niterói, transcorre no Tribunal do Júri de Niterói, cidade da Região Metropolitana do Rio onde o crime ocorreu, em 16 de junho de 2019.

Flavio, acusado de dar os tiros que mataram o pastor, e Lucas, suspeito de comprar a arma, são os primeiros acusados do crime a serem julgados, dois anos, cinco meses e uma semana após o homicídio. Outras dez pessoas, inclusive a própria Flordelis, também respondem pelo mesmo assassinato, mas esses julgamentos ainda não têm data marcada. Ela recorre ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) contra a acusação.

Lucas confirmou ter feito a negociação, mas negou saber que a pistola seria usada para matar o pastor. Ele declarou aos jurados que Flávio disse querer a arma para se defender do então namorado da ex-mulher, com quem estaria tendo uma desavença. Ele indicou o vendedor, que, por R$ 8.500 pagos por Flávio, entregou uma pistola nove milímetros.

Durante o interrogatório, Lucas admitiu saber que Flávio reclamava do padrasto, a quem acusava de se aproveitar do dinheiro conquistado pela mãe. Apesar disso, ele afirmou não ter suposto que Flávio poderia usar a arma para matar Anderson do Carmo.

O depoimento de Lucas durou cerca de meia hora. Flávio, por sua vez, usou o direito de permanecer calado, então não fez nenhuma declaração sobre as acusações.

O advogado de Flordelis, Rodrigo Faucz, foi acompanhar o julgamento. Ele afirmou que nada do que se debata pode envolver sua cliente, que segundo ele é inocente. "Estamos aguardando os recursos ao STJ, para que se faça justiça", disse.

O julgamento começou no início da tarde desta terça, 23. No fim da noite, a expectativa era que o veredicto fosse dado na madrugada desta quarta, 24.

Estadão
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