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Foi o PCC que mandou matar Gritzbach? Onde estava a escolta? Quais as questões sem resposta do caso?

Empresário foi alvejado na saída do desembarque do Terminal 2 do Aeroporto de Guarulhos; ele era delator de uma investigação sobre lavagem de dinheiro do Primeiro Comando da Capital

9 nov 2024 - 15h08
(atualizado em 10/11/2024 às 13h59)
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São muitas as perguntas sem resposta no caso do empresário assassinado a tiros de fuzil nesta sexta-feira, 8, no Aeroporto Internacional de Guarulhos, na Grande São Paulo. Ainda assim, algumas informações ajudam a entender a dinâmica do atentado, ocorrido em plena luz do dia na área de desembarque do terminal mais movimentado do País.

Como mostram imagens de câmeras de segurança, Antonio Vinicius Lopes Gritzbach foi alvejado na saída do Terminal 2, destinado a voos domésticos. Ele era delator de uma investigação sobre lavagem de dinheiro do Primeiro Comando da Capital (PCC). Durante o tiroteio, um motorista de aplicativo foi atingido nas costas. Ele faleceu na noite de sábado, 9. Outras duas pessoas ficaram feridas - um terceirizado do aeroporto e uma passageira.

Quantos disparos foram efetuados pelos criminosos?

Cerca de 27 tiros de fuzil foram efetuados por dois criminosos por volta das 16h no maior aeroporto do País. Imagens de câmeras de segurança mostram que a dupla saiu de um carro preto e surpreendeu o empresário, que morreu já no local. Eles entraram rapidamente no carro e fugiram em seguida.

Mais pessoas ficaram feridas?

O tiroteio gerou correria no terminal, bastante movimentado no momento do ataque. O motorista de aplicativo Celso Araújo Sampaio de Novais, de 41 anos, foi atingido por um tiro de fuzil nas costas e encaminhado para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Geral de Guarulhos (HGG). Ele foi submetido a um procedimento cirúrgico, mas não resistiu aos ferimentos e faleceu na noite deste sábado, 9.

Conforme o boletim de ocorrência, ao qual o Estadão teve acesso, além de Sampaio, outras duas pessoas foram atingidas: um funcionário terceirizado, de 39 anos, que teve ferimentos na mão e no ombro e recebeu alta do Hospital Geral de Guarulhos neste sábado, 9, e uma mulher, de 28 anos, que teria tido um ferimento superficial na região do abdômen. Ela recebeu atendimento médico e foi liberada em seguida, após ser ouvida pelos policiais no local.

Não havia guardas fazendo a segurança do local?

O Estadão apurou que uma dupla da Guarda Civil Municipal (GCM) de Guarulhos estava em ronda onde houve o tiroteio até por volta das 13 horas, quando identificou um suspeito de ter adulterado a placa de um carro. Depois disso, eles o conduziram para a delegacia do aeroporto. Como a ocorrência demorou três horas para ser registrada, os agentes não estavam no local do ataque a tiros.

Antonio Gritzbach não contava com escolta armada?

Conforme informações preliminares, Gritzbach havia acabado de chegar de viagem com a namorada e seria recebido no terminal onde o tiroteio ocorreu pelo filho e um grupo de quatro seguranças, composto por policiais militares que faziam a proteção particular do empresário. No caminho para o aeroporto, porém, um dos carros usados por eles teria supostamente apresentado falha mecânica. Três dos seguranças, então, teriam ficado no veículo. A conduta dos agentes é investigada pela polícia.

Como os atiradores sabiam do horário do voo da vítima?

A polícia ainda não divulgou essa informação, mas pesquisadores e autoridades consideram que, pelas características do atentado, ele foi planejado com antecedência e houve vazamento de informações, possivelmente por parte de quem conhecia bem a rotina do delator - o boletim de ocorrência do caso aponta que Gritzbach chegava com a namorada de uma viagem ao Nordeste.

"O vazamento de informação é uma suspeita relevante. Como é que vazou? Como é que eles (criminosos) puderam chegar no alvo? Como é que eles tiveram a chance de fazer esse planejamento? São perguntas que ainda não têm respostas", escreveu pesquisador Bruno Paes Manso, do Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da Universidade de São Paulo (USP), em análise publicada no Estadão.

Quem investiga a morte do empresário?

A investigação do caso está a cargo do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa Humana (DHPP) da Polícia Civil, com sede na capital paulista. Assim que assumiu o caso, o setor especializado realizou a perícia do local onde o empresário foi morto (averiguação que durou cerca de 5h30) e apreendeu os dois carros utilizados pela escolta particular da vítima. A área do terminal onde o tiroteio ocorreu voltou a ser liberada para movimentação de passageiros por volta de 21h30.

Foi o PCC que mandou matar o delator?

Ainda não se sabe a autoria do crime. Gritzbach fechou acordo de delação premiada, homologado pela Justiça em abril. As negociações com o Ministério Público Estadual duravam dois anos e ele já havia prestado seis depoimentos. Na delação, o empresário falou sobre envolvimento do PCC, a maior organização criminosa do País, com o futebol e o mercado imobiliário. O empresário também deu informações sobre os assassinatos de líderes da facção, como Cara Preta e Django.

O delator já havia sido alvo de algum atentado?

Gritzbach já havia sido alvo de um atentado na véspera do Natal de 2023, quando um tiro de fuzil foi disparado contra a janela do apartamento onde mora, no Tatuapé, na zona leste, mas o autor errou o alvo. A reportagem apurou que a polícia já identificou o responsável por esse atentado.

Esse pode ser o pior ataque da história do PCC?

Para o procurador de Justiça do Ministério Público de São Paulo (MP-SP) Marcio Sérgio Christino, ouvido pelo Estadão, o assassinato do empresário Antonio Vinicius Lopes Gritzbach, se confirmado que tenha sido praticado pelo Primeiro Comando da Capital, não representa mudança de patamar ou aumento expressivo da violência da facção. Christino é autor do livro Laços de Sangue, sobre a história da organização criminosa.

"A facção matou o juiz Machado (Antonio José Machado Dias), em Presidente Prudente, em 2003, em frente ao fórum; matou o Ismael Pedrosa (diretor da Casa de Detenção em 1992, quando 111 presos foram mortos por policiais militares) em 2005; matou 70 policiais durante os atentados de 2006, e o que aconteceu agora é que espanta? Tudo isso é mais grave do que o crime desta sexta-feira", avalia Christino. "Parece que o pessoal esqueceu (dos crimes anteriores)."

Para outros analistas, porém, a audácia do crime chama atenção. É o caso da desembargadora Ivana David, juíza do Tribunal de Justiça de São Paulo com experiências em casos ligados a organizações criminosas: "A audácia do local, o maior aeroporto do País, às 4 horas da tarde de uma sexta-feira, na faixa de pedestre, a tiros de fuzil", ela comentou.

Qual é a relação de Gritzbach com a Porte Engenharia?

Gritzbach trabalhou na Porte Engenharia e Urbanismo, uma das maiores construtoras da cidade, de 2014 a 2018. Aos investigadores, ele disse que conheceu os integrantes da facção "no âmbito do ambiente de trabalho da Porte" por meio de um corretor de imóveis em razão da venda de dois apartamentos no Tatuapé, na zona leste paulistana, região que virou um reduto da cúpula do PCC.

O Ministério Público Estadual (MPE) está investigando a Porte, sob a suspeita de ter vendido mais de uma dezena de imóveis para traficantes de drogas, segundo a delação do ex-funcionário. Segundo a delação premiada, executivos da Porte receberam pagamento de imóveis em dinheiro em espécie e sabiam de registros de bens em que o nome do verdadeiro proprietário ficava oculto.

Em nota, a Porte disse, nesta sexta, que foi informada pela imprensa sobre a morte de Gritzbach, "com quem não mantém negócios há anos". E afirma que ele foi "corretor de imóveis na empresa apenas entre 2014 e 2018?. A construtora afirmou que o assassinato no aeroporto deve ser "acompanhado e esclarecido pelas autoridades competentes". E acrescentou que, "como sempre, a empresa segue à disposição para contribuir com os processos investigativos em curso".

Estadão
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