Grávida atingida na cabeça por pedaço de poste ainda tem dificuldade para andar: 'Achei que tinha tomado um tiro'
Clesiane de Fátima Viana precisou passar por cirurgia após ser atingida por pedaço de concreto em Vila Velha, no Espírito Santo
A empresária Clesiane de Fátima Viana, de 34 anos, enfrenta o desafio de se ajustar a uma nova realidade após ser atingida na cabeça por um fragmento de poste na Praia de Itaparica, localizada em Vila Velha, no Espírito Santo. Grávida de seis meses, ela contou ao Jornal da Gazeta, afiliado à Rede Globo na região, que agora lida com a dificuldade de locomoção ao mesmo tempo em que se prepara para a chegada do seu filho.
O caso ocorreu no começo de dezembro e ela precisou ficar 10 dias internada, além de passar por uma cirurgia na cabeça após o incidente. A lesão também afetou o movimento das pernas da empresária e ela continua fazendo fisioterapia.
"Era para ser um domingo normal. E aí a gente decidiu ir almoçar na praia, comer um camarãozinho, uma porção, para depois continuar o serviço. Quando a gente parou – ficamos naquela dúvida, vendo se o quiosque estava com mesa vazia –, de repente senti uma pressão na cabeça, um barulho, um zumbido muito forte, e caí", disse ela ao telejornal.
Cleisiane contou que no dia do ocorrido, inicialmente, não entendeu o que havia ocorrido. "Eu achei que eu tinha tomado um tiro ou algo assim. Já deitada no chão, olhei a mão do João, ensanguentada, e falei assim: 'aconteceu alguma coisa'. No momento do desespero, eu também percebi o formigamento das pernas", relembrou.
No primeiro hospital para o qual foi encaminhada, ela afirma que a equipe médica apenas realizou uma sutura e em seguida já recebeu alta. "Só suturaram. Deram remédio para dor, porque estava doendo muito a minha cabeça. Anestesiaram o local, fizeram a limpeza, rasparam o meu cabelo e fizeram a sutura. E aí me deram alta. Voltei carregada. Cheguei em casa trocando os pés. Mas a gente já tinha decidido no caminho voltar para um hospital particular, para procurar mais exames e investigar melhor".
No hospital particular ela fez exames e foi constatado que ela estava com afundamento no crânio. Após receber alta no dia 13 de dezembro, a empresária afirma que a situação ainda é difícil, mas conta com o apoio da família. "Nossa prioridade é ele [bebê] estar bem, e eu me recuperar, para poder cuidar dele depois. As partes materiais vão ficar para um segundo momento, quando a gente for melhorando. O quarto do neném está uma zona. Do jeito que saí para almoçar no domingo, ficou", brincou.
Clesiane ainda expressou preocupação com a segurança na praia e a irresponsabilidade envolvida no incidente. "Muita irresponsabilidade, porque se tem que ser trocado em um determinado prazo, por que não foi? E se é uma criança atingida, se eu tô com eu filho no colo, se é um idoso, uma pessoa mais debilitada? Isso não pode acontecer. Está chegando o verão, turistas, e acontece uma coisa dessas?".
Devido aos ferimentos, a empresária terá que realizar uma cesariana, abandonando a expectativa de um parto normal. Emocionada, ela compartilhou: "Felicidade seria uma palavra muito forte. Estou feliz em estar bem. Mas falar 'ai, que felicidade', não. Minha vida está parada. Minha empresa está parada. O quarto do meu filho está parado".
Relembre o caso
Clesiane foi atingida na cabeça por um pedaço de concreto que despencou de um poste no dia 3 de dezembro. A empresária de 34 anos teve uma fratura e afundamento do crânio devido ao incidente, e precisou passar por cirurgia.
O caso ocorreu por volta de 12h, quando o casal saiu para passear à beira mar e decidiu sentar em um quiosque para almoçar. Enquanto Clesiane e João Martinez olhavam se havia mesa para sentar no estabelecimento, ocorreu o incidente.
"Nesse momento, eu escuto uma pancada bastante abafada e vejo uma pedra caindo depois de ter batido na minha esposa, e ela indo para o chão", explicou o marido à época. Inicialmente, ele achou que alguém tivesse jogado uma pedra, mas depois foi avisado por pessoas que pararam para ajudar que, na verdade, um pedaço do poste havia caído em sua esposa.
Ele relata que a cabeça dela sangrava muito. O socorro foi acionado e demorou pelo menos 20 minutos, até que ela foi encaminhada pelo Corpo de Bombeiros até o Hospital Estadual de Urgência e Emergência (HEUE), em Vitória.
"Ela perdeu muito sangue, mas não chegou a desmaiar por muito tempo. Mas desde aquele momento, ela estava sentindo as pernas dormentes", relatou na ocasião.
Na unidade, ela foi examinada e suturada. Ao entrar para ver Clesiane, o marido viu que ela já estava com a alta assinada. Então, ele questionou o médico, que informou que não seria necessário fazer nenhum exame mais aprofundado, pois "não valia o risco". Segundo ele, nem a ultrassom fizeram para checar se o bebê estava bem.
João saiu com a esposa da unidade, a levou para casa, para que ela tomasse um banho e comesse algo, antes de levá-la a um hospital particular. Enquanto dava banho nela, a mulher chegou a desmaiar.
Depois disso, eles partiram direto para o Hospital Meridional, em Vitória. Na unidade, ela passou por uma ressonância, que apontou uma fratura e afundamento do crânio. "Isso estava pressionando para as pernas ficarem dormentes e ela perder mobilidade", explicou João.
O que diz a prefeitura
Em nota, a Prefeitura de Vila Velha informa que mantém contato com a família da empresária e que acompanha a situação. O prefeito Arnaldinho Borgo esteve no hospital, ao lado de sua esposa Andressa, conversou com o casal e ofereceu auxílio.
Sobre a estrutura do poste, a Prefeitura de Vila Velha reforça que a iluminação da cidade, em áreas públicas comuns, como a orla e parques, é de responsabilidade do consórcio SRE IP Vila Velha, fruto de uma PPP (Parceria Público Privada) vigente desde 2020, pelo prazo de 20 anos.
Desde maio de 2022, o consórcio de empresas vem recebendo notificações da prefeitura apontando a necessidade urgente de substituição de diferentes postes, contendo relatórios fotográficos, incluindo o que atingiu a empresária. A última notificação ocorreu em 23 de novembro deste ano, sem resposta. No dia 4 de dezembro deste ano o consórcio foi novamente notificado.
"Por obrigação contratual (item 4.2.1.2), o consórcio deve manter a estrutura dos postes segura, o que não aconteceu. Por isso, o consórcio de empresas acumula multas que superam o valor de milhões. Outra cláusula, prevê pagamento de seguro, em caso de acidente, por parte do consórcio", informou a administração municipal.
A Prefeitura de Vila Velha afirma que continua exercendo o papel de fiscalizador do contrato e não descarta novas multas por descumprimento das cláusulas contratuais por ineficiência no serviço prestado e omissão de informações e socorro à vítima.