Passageiros da CPTM são pegos de surpresa com paralisação
Duas linhas de trem fecharam as portas nesta quarta. Nem todos os usuários estavam cientes da greve
Por volta das 5h40 desta quarta-feira (3), o movimento já era grande nos arredores da Estação Prefeito Celso Daniel, da linha 10 da CPTM, em Santo André (SP). Em frente à entrada fechada, onde estavam colados diversos avisos de "estamos em greve", uma multidão que diz ter sido "pega de surpresa" se amontoava para pedir informações aos poucos funcionários presentes sobre a paralisação.
"Disseram que teria greve na semana passada e não teve, então não acreditei que teria hoje também. Não sei se isso é errado, talvez os trabalhadores não consigam aumento de salário de outra forma. O ruim é que sempre atrapalha quem não tem culpa", disse Mara Cunha, 25 anos, ao Terra. Ela é gerente de um restaurante na República, no Centro da capital, e , assim como a maioria, tentava incansavelmente ligar para os patrões para decidir o que fazer. "Só vou chegar ao emprego a tempo se alguém vier me buscar", completou.
A área dos portões estava isolada com fitas. Os únicos que podiam entrar ali eram os seguranças e os funcionários da Gocil, empresa que presta serviço para a CPTM. Procurados pelos usuários, eles orientavam um a um e sugeriam terminais e pontos de ônibus próximos. "Haverá uma assembleia às 14h. Não temos previsão de retorno do funcionamento, mas, pelo menos até lá, devemos continuar fechados", declarou um deles.
"Eu li na internet de manhã que haveria greve, mas entendi que seria parcial. Achei que eles deveriam manter certo contingente. Assim, pelo menos teríamos como chegar ao trabalho, mesmo com espera maior", afirmou Bruno Pelegrini, 24 anos. Ele é ajudante geral em uma empresa da região da 25 de Março. Para chegar, teria que pegar um trólebus até o Jabaquara para, depois, usar o metrô - que funciona normalmente o dia todo. "Não sei se vale a pena, vou demorar mais de duas horas".
Embora o clima fosse de preocupação, nenhuma ocorrência foi registrada no local no início da manhã. Alguns mais exaltados xingaram os funcionários e ameaçaram "quebrar tudo", mas não chegaram a causar tumulto.
O ascensorista Moésio Pereira de Oliveira, 75 anos, que trabalha na região de São Bento, preferiu levar tudo no bom-humor. "Como eu vou trabalhar? Estou pensando em ir a pé, o que acha? Será que aguento? Já tenho até comida se tiver fome", brincou, exibindo a sacola com sua marmita do dia.
Sobre a greve
Os ferroviários decidiram entrar em greve em assembleia realizada na noite de terça-feira (2). A paralisação foi iniciada às 0h de quarta-feira em quatro das seis linhas da CPTM: 7-Rubi, 10-Turquesa, 11-Coral e 12-Safira. As duas primeiras são de responsabilidade do Sindicato dos Ferroviários de São Paulo; as outras, do Sindicato dos Trabalhadores da Central do Brasil.
As linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda, cujos trabalhadores não aderiram à greve, por sua vez, são de competência do Sindicato dos Ferroviários da Sorocabana.