Grupo suspeito de execuções ao qual Rogério de Andrade seria ligado tem ex-delegados e ex-PMs
Grupo foi alvo do Ministério Público em 2022
O bicheiro Rogério de Andrade, preso nesta terça-feira, 29, pelo Ministério Público do Rio (MPRJ), estaria ligado a um grupo envolvido com crimes de organização criminosa, corrupção ativa, lavagem de dinheiro e até ‘inúmeros homicídios’. Em 2022, ele foi apontado como o chefe que lidera a quadrilha, junto de seu filho Gustavo. Entre os integrantes estão ex-delegados e ex-policiais militares.
O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco-MPRJ) aponta que Andrade foi o mandante do assassinato de seu rival, Fernando Ignnácio, em novembro de 2020, e por isso, a 1ª Vara do Tribunal do Júri pediu a sua presão preventiva. Além dele, Gilmar Eneas Lisboa também foi alvo da ação, deflagrada nesta terça.
O grupo ao qual o maior bicheiro do Rio faria parte foi alvo da Operação Calígula também do Gaeco, em maio de 2022. Na época, a Promotoria denunciou 30 pessoas por uma estrutura criminosa voltada à exploração de jogos de azar não só no Rio.
Na época, o MP afirmou que o grupo quadrilha ‘há décadas exerce o domínio de diversas localidades, fundamentando-se em dois pilares: a habitual e permanente corrupção de agentes públicos e o emprego de violência contra concorrentes e desafetos, sendo esta organização criminosa suspeita da prática de inúmeros homicídios’.
Ao todo, 30 pessoas foram denunciadas, entre eles estão:
- Adriana Belém, delegada;
- Marcos Cipriano, delegado;
- Amaury Lopes Júnior, delegado aposentado;
- Ronnie Lessa, ex-PM e assassino confesso da vereadora Marielle Franco;
- Marcio Araújo de Souza, ex-PM;
- Daniel Rodrigues, ex-PM.
Ligação de criminosos com a polícia
A denúncia apontava que a organização criminosa fazia ‘acertos de corrupção estáveis’ com agentes da Polícias Civil e Militar do Rio de Janeiro. De acordo com a Promotoria, os integrantes da PCERJ que pertenciam à quadrilha ‘mantinham contatos permanentes com outros policiais corruptos, pactuando o pagamento de propinas em contrapartida ao favorecimento dos interesses do grupo liderado por Rogério’.
Já oficiais da Polícia Militar ‘serviam de elo entre a organização e Batalhões de Polícia, que recebiam valores mensais para permitir o livre funcionamento das casas de apostas do grupo’.
“Em um destes episódios, o delegado de Polícia Marcos Cipriano intermediou encontro entre Ronnie Lessa, Adriana Cardoso Belém, então delegada de Polícia titular da 16ª DP (Barra da Tijuca), e o inspetor de Polícia Jorge Luiz Camillo Alves, braço direito de Adriana Belém, culminando em acordo que viabilizou a retirada em caminhões de quase 80 máquinas caça-níquel apreendidas em casa de apostas da organização criminosa, tendo o pagamento da propina sido providenciado por Rogério de Andrade”, relata a Promotoria.
Entre os acusados de integrar o grupo sob suspeita, o MP cita ainda o policial civil aposentado Amaury Lopes Júnior. Segundo os promotores, ele seria o ‘elo do grupo com diversas delegacias’, sendo denunciado como ‘receptor de propinas, agindo em favor de integrantes do alto escalão da PCERJ, o Inspetor Vinícius de Lima Gomez’.
Durante a operação, foram apreendidos dezenas de celulares, alguns notebooks, pen drives. A operação apreendeu ainda quase R$ 2 milhões em espécie na casa da delegada licenciada Adriana Belém, bem como diversos documentos, chips, noteiros, máquinas de cartão, 107 máquinas de caça-níqueis, cópias de processos e componentes eletrônicos.
Morte de rival e relação com o crime
Conforme o Gaeco, Rogério de Andrade e Fernando Iggnácio são, respectivamente, genro e sobrinho do contraventor Castor de Andrade, que foi chefe do jogo do bicho no Estado do Rio de Janeiro. Ignnácio foi morto em 10 de novembro de 2020, no estacionamento de um heliporto, no Recreio dos Bandeirantes.
Por volta das 9h daquele dia, os acusados Rodrigo Silva das Neves, Ygor Rodrigues Santos da Cruz, vulgo Farofa, Pedro Emanuel D'Onofre Andrade Silva Cordeiro, vulgo Pedrinho, e Otto Samuel D'Onofre Andrade Silva Cordeiro, chegaram ao local de automóvel. Três deles invadiram um terreno baldio que faz divisa com o heliporto, com pelo menos dois fuzis, sendo uma AK-47 e uma ParaFAL.
Eles ficaram aguardando por quatro horas, até que a vítima desembarcou de seu helicóptero, retornando de Angra dos Reis. Nesse momento, os criminosos posicionaram suas armas em cima do muro do estacionamento e atiraram, a uma distância de, aproximadamente, quatro metros do local onde estava estacionado o automóvel dele. A vítima levou três tiros, sendo um deles na cabeça.
A denúncia do MP aponta também que Marcio Araujo de Souza, um dos responsáveis pela segurança pessoal de Rogério de Andrade, foi o responsável por contratar, a mando do patrão, os quatro denunciados. Dois deles, segundo a investigação, Rodrigo das Neves e Ygor da Cruz, já atuaram como seguranças da Escola de Samba Mocidade Independente de Padre Miguel, na qual Andrade é patrono.
Prisão
Andrade foi preso nas primeiras horas desta terça, em sua casa, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro, na operação Último Ato. Além dele, Gilmar Eneas Lisboa também é alvo da ação do Gaeco.
Após a prisão, ele foi encaminhado para a Delegacia de Serviços Delegados (DDSD), na Cidade da Polícia, e presta depoimento. Depois, passará por audiência de custódia, e então, para uma unidade prisional estadual, até que seja transferido para a cadeia de segurança máxima.
O MP informou ao Terra, em março de 2021, ele havia sido denunciado pelo assassinato de Iggnácio em uma emboscada no Recreio dos Bandeirantes. No entanto, a ação penal foi trancada por decisão da maioria dos votos da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), em fevereiro de 2022. A alegação foi de que havia falta de provas que demonstrasse o envolvimento dele como mandante do crime.
Um novo Procedimento Investigatório Criminal (PIC) foi aberto e foi identificado pelo Gaeco “não só sucessivas execuções” na disputa entre os dois contraventores, além da participação de uma outra pessoa no homicídio de Ignnácio. A denúncia do órgão aponta Lisboa como o responsável por monitorar a vítima até o momento do crime.