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Homem linchado no Guarujá: áudio da vítima faz polícia adotar nova linha de investigação; ouça

Comerciante teria levado uma surra a mando da ex-mulher dois dias antes do espancamento que o matou

9 mai 2023 - 19h03
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GUARUJÁ - A Polícia Civil conseguiu identificar três suspeitos de espancar até a morte o comerciante Osil Vicente Guedes, de 49 anos, na última quarta-feira, 3, no Guarujá, litoral de São Paulo. Dois deles têm antecedentes criminais, de acordo com os investigadores. Os nomes foram preservados para não atrapalhar as investigações.

Os policiais buscam confirmar a motivação do crime. As duas principais hipóteses são de um crime encomendado ou de linchamento após fake news. Na primeira, uma das suspeitas é o envolvimento da psicóloga Vanessa Almeida, ex-mulher de Osil. De acordo com os familiares, a vítima enviou um áudio aos parentes em Pernambuco informando que ela havia sido responsável por uma sessão de espancamento que ele sofreu. O áudio foi divulgado por familiares nesta terça-feira, 9, dia do enterro do comerciante.

Um dos suspeitos é o ex-cunhado da vítima, segundo apurou o Estadão. O homem de 35 anos foi identificado a partir das imagens que mostram a vítima sendo espancada. Em depoimento, ele negou participação. O outro suspeito teria usado um pedaço de madeira. O terceiro foi flagrado nas imagens arrastando a vítima.

Vanessa já foi chamada pela polícia para depor. Ela negou envolvimento no espancamento. Fontes ligadas à polícia afirmam que sua versão não convenceu totalmente os investigadores e ela pode ser chamada novamente. O Estadão tenta contato com Vanessa desde a última segunda-feira, sem sucesso.

Outra linha de investigação, que perdeu força nos últimos dias, se refere à acusação falsa de que Osil teria roubado uma motocicleta. No momento da agressão, ele circulava com um veículo emprestado - o proprietário, que não quis se identificar, confirmou o empréstimo. Testemunhas relataram à PM que gritos de "pega ladrão" foram direcionados a Osil. A polícia quer entender quem deu esse grito e a razão, questões que os investigadores consideram fundamentais.

A família descarta essa versão. "Isso não é verdade. É uma pessoa direita. Inventaram uma desculpa para poder bater nele. Eu acho que queriam justificar que estavam batendo nele", diz o irmão. Osil estava internado desde o dia da agressão na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Santo Amaro, no Guarujá, onde foi declarada sua morte encefálica no domingo. Ele deixa três filhos. Todos estão com a mãe, no interior de São Paulo.

Linchamento de comerciante choca o Guarujá: 'Fiquei com os gritos na cabeça'

Os vizinhos, comerciantes moradores de Vicente de Carvalho, bairro onde Osil morava e trabalhava, estão chocados com o crime que aconteceu há uma semana. É uma percepção subjetiva, não há números, não há dados, mas o choque é real. As pessoas não se identificam com medo de retaliações dos autores do crime; quando falam sobre a tragédia, algumas olham para o céu ou para o chão buscando uma explicação.

O Estadão esteve no local da tragédia, entre a Avenida Oswaldo Cruz e Rua Tambaú. Comerciantes relatam ter ouvido os barulhos da briga - gritos, gemidos e batidas -, mas só perceberam a gravidade da situação com a chegada da ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) para socorrer o morador descrito como pessoa tranquila, evangélico e que convivia com problemas emocionais relacionados à depressão.

É um impacto que vai demorar a passar, como tenta explicar a comerciante de uma loja de material para construção praticamente ao local em que Osil foi brutalmente espancado por quatro homens. "Fiquei com os gritos na cabeça. Na hora, não caiu a ficha. Depois, quando vi a ambulância, percebi que era grave. Quando veio a notícia da morte, fiquei sem chão", diz uma senhora de 67 anos.

O choque e o espanto são acompanhados do medo. Todas as pessoas ouvidas pelo Estadão só aceitam ser entrevistadas sob a condição de anonimato. Só depois de estabelecida a condição, elas falam. E, mesmo assim, escolhem bem as palavras. Silêncios. Há receio de retaliação por parte dos responsáveis pelo crime. "A gente nem sabe o que dizer. A gente entende quando uma pessoa vai, mas não dessa forma", diz uma vizinha do depósito de reciclagem que Osil administrava.

Vizinhos do depósito de reciclagem que ele administrava, a quase um quilômetro de distância do local da morte, estranham o silêncio no local. Osil morava no mesmo endereço da própria empresa de reciclagem. Eles dizem que o movimento era constante, com entrada e saída de plásticos, madeira, ferro - tudo o que permitisse reaproveitamento.

Cláudio Guedes, de 61 anos, planeja fechar o depósito. Ele também atua no ramo, mas vai ficar apenas com seu depósito. Para isso, ele pretende vender materiais, concluir negociações que ficaram no meio do caminho e pagar algum eventual credor. Não quer deixar dívidas. Os dois cães de Osil, entre eles um pitbull, não estão se alimentando. "A gente coloca a comida, mas eles não comem. Já perceberam alguma coisa estranha."

Estadão
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