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Ícone do centro de SP, Galeria Prestes Maia vai virar Museu dos Direitos Humanos

Prefeitura de São Paulo quer resgatar memória cívica do Vale do Anhangabaú; espaço ganhará elevador de acesso na calçada do Viaduto do Chá

9 dez 2019 - 13h11
(atualizado em 10/12/2019 às 09h50)
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SÃO PAULO - O ato que reuniu 1,5 milhão de pessoas no Vale do Anhangabaú pelas eleições diretas em abril de 1984 é um dos momentos históricos que serão lembrados em um novo lugar de memória na cidade de São Paulo. E a poucos metros de onde tudo ocorreu: na histórica Galeria Prestes Maia, que completa 80 anos em 2020.

O novo espaço foi batizado de Museu da Cidadania e Direitos Humanos e será dividido em painéis de vídeos, três salões de eventos e exposições temporários, um auditório de 100 lugares e um hall de entrada, com espaço para intervenções artísticas. O projeto deve ser anunciado ainda este mês pela gestão Bruno Covas (PSDB), que não quis comentar o assunto com o Estado.

Uma proposta inicial foi aprovada na segunda-feira, 9, pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp). Ela também foi enviada ao Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat) e ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), segundo foi destacado em reunião do conselho municipal.

Com a aprovação, poderá ser contratado um projeto executivo do restauro e da reforma de toda a galeria, além da implantação de um elevador na calçada do Viaduto do Chá, ao lado da banca de jornais e próxima da Rua Líbero Badaró.

Reforma da Galeria Prestes Maia inclui instalação de elevador no Viaduto do Chá
Reforma da Galeria Prestes Maia inclui instalação de elevador no Viaduto do Chá
Foto: SPObras/Reprodução / Estadão

O estudo conceitual é do diretor do Museu da Cidade, o arquiteto Marcos Cartum, que viajou em setembro com uma assessora para visitar e se reunir com representantes do Museu da Memória e dos Direitos Humanos do Chile, que deve ser uma das inspirações para a gestão municipal e é focado especialmente no período da ditadura de Augusto Pinochet.

"Será um espaço destinado a dar visibilidade à história das lutas e conquistas pelos direitos civis no Brasil, com foco nos fatos ocorridos na cidade de São Paulo. Apresentará um percurso expositivo, fundado na diversidade e na polifonia, sobre os caminhos da construção da cidadania para todos e do enfrentamento de suas violações", diz descrição do projeto, que o Estado teve acesso.

Imagem em baixa resolução mostra esboço do futuro Museu da Cidadania e Direitos Humanos
Imagem em baixa resolução mostra esboço do futuro Museu da Cidadania e Direitos Humanos
Foto: Plano municipal de aplicação do Fundurb/Reprodução / Estadão

"O museu pretende estimular a consciência sobre os temas da cidadania e dos direitos humanos, promovendo a reflexão e o debate acerca da importância do respeito e da tolerância, com ênfase nas questões da democratização da cultura e do vínculo do cidadão com a sua história. Cumprirá assim um relevante papel na formação de um senso crítico, contribuindo para a ampliação da cidadania dos paulistanos e dos brasileiros", continua o texto.

O espaço ocupará o pavimento Almeida Júnior, abaixo do acesso da Praça do Patriarca. O piso Vale do Anhangabaú, por sua vez, receberá uma unidade do Descomplica, chamado de "Poupatempo municipal" pela Prefeitura. Um dos objetivos também é restabelecer o fluxo de pedestres dentro da galeria, que hoje é reduzido.

Ícone. Hoje subutilizada, a galeria foi um marco arquitetônico e urbanístico na inauguração, em 1940, evento que teve a presença do então presidente Getúlio Vargas. Ela tem um acabamento luxuoso, em estilo art déco, com duas esculturas de Victor Brecheret, Graça I e Graça II.

A construção foi projetada pelo arquiteto Elisiário Bahiana, que trabalhava na reconstrução do Viaduto do Chá. "É um 'edifício' em três níveis, que conjuga as cotas que estão entre a Praça do Patriarca e o Vale do Anhangabaú. A bela e astuciosa solução encontrada tem a função de estabelecer uma ligação urbana exclusivamente pedestre, é um projeto moderno na sua concepção funcional", comenta a professora Regina Meyer, da Faculdade de Urbanismo e Arquitetura da USP.

Ao longo das décadas, a galeria perdeu frequentadores, junto da própria decadência da região central nos anos 70. "Quando o Vale do Anhangabaú perdeu suas funções de convergência do transporte público, a própria galeria deixou de ter serventia para a população que frequentava o centro. Para que atravessar a galeria se não encontrava mais os pontos de ônibus de lotação distribuídos ao longo do vale? Ela perdeu a principal função", comenta.

Escadas rolantes da galeria estão fora de operação

O espaço é também pioneiro por ter recebido escadas rolantes em 1955, atraindo a atenção de paulistanos e da imprensa. Na sexta-feira, 6, quando o Estado visitou o local, contudo, as atuais escadas estavam desligadas e fechadas para acesso - o que foi questionado à gestão municipal, que não se manifestou.

Outro ponto marcante na história da galeria foi a inauguração da nova cobertura, com projeto do arquiteto Paulo Mendes da Rocha, em 2002 - dois anos após se tornar o "Masp Centro", proposta que durou alguns anos até ir parar na Justiça. Hoje, a marquise da Praça do Patriarca serve de abrigo para pessoas em situação de rua, barracas de comida e, eventualmente, carros oficiais - além da presença de pombos na parte superior.

Renovação. O restauro da galeria e a criação do museu se inserem em uma série de iniciativas polêmicas da gestão Covas para a região central, como a remodelação do Vale do Anhangabaú, a troca do piso dos calçadões e a implantação do Parque Minhocão. A iniciativa também está dentro de um momento de revalorização do centro, com a abertura de bares, restaurantes e espaços culturais, a exemplo do Farol Santander e do Bar dos Arcos, no subsolo do Theatro Municipal, dentre outros.

"A Galeria Prestes Maia continua sendo um símbolo muito forte da cidade de São Paulo. E o centro está vivendo um processo saudável de retomada da cidadania", aponta Valter Caldana, professor da Arquitetura e Urbanismo da Mackenzie.

"Essa reocupação do centro, em especial do Anhangabaú, é muito simbólica para a cidade. O conjunto do Vale do Anhangabaú e da Praça da Bandeira compõe a nossa grande praça cívica, que tem a Câmara Municipal como pano de fundo. Por isso, a Prefeitura foi levada para o Edifício Matarazzo (em 2004)", comenta.

"É importante que, em um futuro breve, seja feita a retirada dos terminais de ônibus da Praça da Bandeira e da Praça do Correio. Essas áreas hoje ocupadas por estacionamento poderiam estar compondo espaços públicos privilegiados do centro.

Estadão
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