Na manhã do dia 7 de fevereiro de 1974, apenas seis dias após o incêndio que matou 191 pessoas no Edifício Joelma, o prefeito de São Paulo, Miguel Colasuonno, publicou um decreto com normas específicas para a segurança dos edifícios na capital. A normativa foi uma resposta ao clamor popular pelo fim de incêndios tão graves quanto os dos edifícios Joelma e Andraus.
A nova lei foi aplicada diretamente em prédios em construção ou que passariam por reforma, além dos edifícios que fossem notificados como inseguros por fiscais da prefeitura. O decreto legislava sobre a classificação do prédio, materiais utilizados na construção, lotação máxima, rotas de fuga, resistência ao fogo, suprimento de água para combater o fogo, extintores e para-raios.
A amplitude do decreto mostra a fragilidade da legislação vigente até o incêndio trágico do Joelma.
Proteção contra o fogo
Segundo a recomendação pós-Joelma, todas as partes dos prédios deveriam apresentar resistência ao fogo por, no mínimo, 4 horas. Além disso, todas as paredes externas deveriam ser construídas com material à prova de fogo.
Pela primeira vez fica proibida a construção de coberturas com material combustível, a não ser em camada de impermeabilização. Também se tornou obrigatório o uso de material resistente ao fogo nas escadas. O uso de madeira só seria permitido nos corrimões.
<a data-cke-saved-href="http://noticias.terra.com.br/infograficos/joelma/" href="http://noticias.terra.com.br/infograficos/joelma/">Incêndio do Edifício Joelma - 40 anos </a>
Material inflamável
Uma das características mais marcantes do incêndio que atingiu o Joelma foi a rápida propagação das chamas. Temendo novo desastre, a prefeitura passou a classificar os prédios de acordo com os materiais depositados ou manipulados em seu interior.
Classe
Especificações
I
Materiais que apresentam combustão lenta ou moderada, incluindo líquidos com fonte de inflamabilidade acima de 83ºC
II
Materiais de combustão livre e intensa, incluindo os líquidos com ponto de inflamabilidade entre 38ºC e 83ºC
III
Materiais capazes de produzir vapores, gases ou poeiras tóxicas ou inflamáveis por sua combustão, ou que são inflamáveis por efeito da simples elevação da temperatura do ar. Incluindo líquidos com ponto de inflamabilidade inferior a 38ºC
IV
Materiais que se decompõem por detonação, o que envolve explosivos primários. Nesse caso, a aprovação de funcionamento do edifício deverá ser analisada caso a caso e aprovada pelo prefeito.
Hidrantes, Sprinkler e extintores
Com a nova determinação municipal, os hidrantes deveriam permanecer em locais estratégicos, ficando no máximo à distância de 30 metros do edifício. Pela primeira vez, a prefeitura estabelece que as tomadas de água devessem ser dotadas de conexões compatíveis com as mangueiras do Corpo de Bombeiros e que sejam independentes ao quadro de água do edifício em questão.
A resolução estipulou também que os edifícios deveriam implantar um sistema de chuveiros automáticos contra incêndios (sprinker). Segundo a norma, o suprimento deve ser assegurado por duas fontes independentes de água para evitar uma pane na irrigação.
Incêndio no Joelma completa 40 anos; veja relatos:
Pouco mais de um ano após a tragédia, o prefeito Egydio Setúbal promulgou a Lei 8.266, aprovando o Código de Edificações do município. A lei ampliou as exigências do decreto do ano anterior e especificou melhor as normas de segurança.
Ao contrário do decreto anterior, a nova lei foi feita com estudo de caso e preparada por uma comissão especial da Câmara dos vereadores. Cada tipo de prédio foi enquadrado em uma categoria, que por sua vez recebeu orientações específicas sobre o uso de material contra incêndio, extintores, escadas e incêndio e saídas de emergência.
Esse foi o passo definitivo para uma legislação precisa sobre segurança predial. Com a nova lei, as edificações passaram a seguir uma norma clara e objetiva. As leis de edificações foram alteradas diversas vezes ao longo do tempo, sempre se ajustando às necessidades das novas construções e atividades empregadas nesses prédios.
O prédio foi consumido pelas chamas do incêndio que começou no 12º andar
Foto: Jornal do Brasil/Arquivo / Reprodução
Bombeiros trabalhando no combate às chamas no Edifício Joelma
Foto: Jornal do Brasil/Arquivo / Reprodução
A densa fumaça prejudicou o trabalho de resgate
Foto: Jornal do Brasil/Arquivo / Reprodução
A região da praça da Bandeira foi tomada por equipes de resgate e curiosos
Foto: Jornal do Brasil/Arquivo / Reprodução
Vítimas observam as labaredas nas salas ao lado
Foto: Jornal do Brasil/Arquivo / Reprodução
O calor e a fumaça fizeram com que muitas pessoas ficassem isoladas em parapeitos
Foto: Jornal do Brasil/Arquivo / Reprodução
Vítimas do incêndio são resgatadas pela escada do Corpo de Bombeiros
Foto: Jornal do Brasil/Arquivo / Reprodução
Relatos de sobreviventes viraram destaques no jornal O Globo
Foto: Reprodução
O jornal Folha de S, Paulo destacou a tragédia na cidade
Foto: Reprodução
No dia seguinte ao incêndio, o jornal O Estado de S. Paulo destacou o número de mortos até então
Foto: Reprodução
O prédio foi rebatizado após a tragédia que deixou quase 200 mortos. Hoje, o edifício se chama Praça da Bandeira
Foto: Marcelo Pereira / Terra
O prédio ainda é um importante centro comercial no centro de São Paulo
Foto: Marcelo Pereira / Terra
O incêndio começou com uma pane em um aparelho de ar-condicionado, como algumas dezenas que ainda fazem parte do cenário do Edifício Praça da Bandeira
Foto: Marcelo Pereira / Terra
A arquitetura do Joelma mudou muito pouco nas últimas décadas
Foto: Marcelo Pereira / Terra
Com a reforma, o prédio passou a seguir as novas normas de prevenção a incêndios
Foto: Marcelo Pereira / Terra
Muitas vítimas ficaram esperando socorro no parapeito das janelas do prédio
Foto: Marcelo Pereira / Terra
O edifício fica em uma das avenidas mais movimentadas da capita, a Nove de Julho
Foto: Marcelo Pereira / Terra
Hiroshi Shimuta trabalhava no 22º andar do Joelma e conseguiu escapar das chamas: "Parece que isso aconteceu ontem"
Foto: Marcelo Pereira / Terra
"Quando chega fevereriro, anualmente eu rezo e acendo uma vela", disse Shimuta
Foto: Marcelo Pereira / Terra
O sobrevivente disse que o nascimento dos filhos, 12 dias antes da tragédia, lhe deu força para conseguir escapar daquilo que ele chamou de "inferno"
Foto: Marcelo Pereira / Terra
"Pedia a Deus toda hora, que me desse uma segunda chance", falou
Foto: Marcelo Pereira / Terra
"A minha dívida é muito grande diante da sociaedade e perante ao nosso pai (Deus)"
Foto: Marcelo Pereira / Terra
Shimuta lembra de ter visto muitas mortes e como esse evento marcou a sua vida para sempre
Foto: Marcelo Pereira / Terra
"Eu vi que algumas pessoas tentavam descer pela escada Magirus, contei cinco pessoas descendo. A sexta pessoa, talvez por desespero, passa a escorregar, ele acabou levando todo mundo e as seis acabaram morrendo
Foto: Marcelo Pereira / Terra
Shimuta olha para o edíficio onde quase perdeu a vida há 40 anos
Foto: Marcelo Pereira / Terra
Relembrando a tragédia, ele mostra onde estava no dia do incêndio
Foto: Marcelo Pereira / Terra
Shimuta celebra a "nova vida" após ter saído do incêndio
Foto: Marcelo Pereira / Terra
Manuel Nogueira Neto passa em frente ao edíficio todos os dias. Em 1974, seu irmão foi um dos últimos a ser resgatado pelo helicóptero da FAB. "Ele se aguentou sobre corpos de colegas deles", disse
Foto: Marcelo Pereira / Terra
"Para o meu irmão, o dia 1º de fevereiro é um aniversário. Toda a família comemora o aniversário duas vezes"
Foto: Marcelo Pereira / Terra
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