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Intervencionista pede "respeito" a ex-agente do Dops dia 12

Ex-agente de um dos órgãos de repressão da ditadura militar discursou em ato na Paulista, dia 15, e deve ter espaço novamente, se quiser, no protesto do dia 12. "Até por respeito", justificou líder de movimento SOS Intervenção Militar

9 abr 2015 - 17h10
(atualizado às 17h42)
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Uma figura inusitada chamou a atenção no protesto do último dia 15 de março na Avenida Paulista, em São Paulo: em meio a partidários de uma autodenominada “intervenção militar constitucional”, um idoso de capacete com o símbolo do Exército posava para fotos com jovens e adultos, de terno e gravata, segurando um cartaz em tom jocoso: “Quero ser ouvido pela omissão da verdade”.

O alvo da ironia era a Comissão da Verdade, que, nos âmbitos nacional e estadual, vem, nos últimos meses, buscando a responsabilização de agentes que cometeram crimes na ditadura militar. O período bajulado, por sinal, é familiar ao dono do cartaz, o aposentado Carlos Alberto Augusto, conhecido como “Carteira Preta” da época em que havia sido agente no Departamento de Ordem Política e Social (Dops). O órgão, um dos braços fortes de operação o regime militar, era para onde eram levados e torturados os presos políticos considerados subversivos.

Se depender dos manifestantes pró-intervenção no protesto do próximo domingo, o aposentado não apenas será recepcionado caso apareça novamente, como terá tratamento especial.

Ex-agente do Dops, órgão de repressão da ditadura militar, aposentado poderá discursar na Paulista por "questão de respeito", diz líder de movimento
Ex-agente do Dops, órgão de repressão da ditadura militar, aposentado poderá discursar na Paulista por "questão de respeito", diz líder de movimento
Foto: Janaina Garcia / Terra

“Não o convidamos para o outro protesto, não temos contato direto com ele. Ele apareceu por um acaso – até por simpatia e por respeito às Forças Armadas que temos, nos demos ao luxo de colocá-lo no caminhão de som”, afirmou o microempresário Aparecido Duca de Almeida, 59 anos, um dos líderes do movimento SOS Forças Armadas. “Se ele aparecer novamente, vamos colocá-lo em cima caminhão, caso ele queira participar, até por questão de respeito”, definiu Almeida, que duvidara, inicialmente, da presença do ex-agente do Dops no carro de som do grupo, mês passado. Informado sobre vídeos, fotos e textos publicados pela imprensa sobre o manifestante, Almeida recuou: “No nosso caminhão? Ah, um senhor de idade? De capacete? Esse teve, se é esse senhor.”

Apesar da guarida ao ex-agente do órgão de repressão, o SOS Forças Armadas afirma-se como um grupo “extremamente democrático” e “contra golpe militar”.

“O PT está tramitando na Câmara Federal um projeto de lei para desarmar a Polícia Militar propositadamente – porque a ideia do PT é o projeto comunista e bolivariano de governar, e isso não aceitamos”, disse Almeida, que completou: “Somos a favor da democracia, tanto que, muito embora peçamos intervenção, não queremos a ditadura militar”.

Pelo projeto de “intervenção militar constitucional” proposto pelo grupo, militares deporiam a presidente e o vice, eleitos, assumiriam o poder e fariam o que eles chamam de “faxina na corrupção” – para, passados 90 dias, novas eleições democráticas serem supostamente convocadas.

O microempresário Aparecido Almeida é um dos líderes do movimento SOS Intervenção Militar - o qual, ele afirma, é "extremamente democrático" e "contra ditadura militar"
O microempresário Aparecido Almeida é um dos líderes do movimento SOS Intervenção Militar - o qual, ele afirma, é "extremamente democrático" e "contra ditadura militar"
Foto: Janaina Garcia / Terra

Presença de intervencionistas na Paulista é alvo de liminar

A proposta dos intervencionistas é vista com ressalvas e até preocupação por movimentos que também vão às ruas no dia 12, mas que dizem não concordar com a militarização.

Um deles, o Movimento Brasil Livre (MBL), chegou a pedir à Justiça uma liminar para que o SOS Forças Armadas mantivesse uma distância mínima de 500 metros, na Paulista, no ato de domingo.

“Respeitamos o direito de livre manifestação, garantido no artigo quinto, inciso 16 da Constituição, mas desde que ele não frustre outra manifestação convocada previamente – convocamos a nossa no último dia 15”, afirmou o advogado Rubens Alberto Nunes, um dos líderes do MBL. Segundo ele, o pedido de liminar não representa cerceamento de opinião.

“Eles não estão sendo cerceados de se manifestar – podem alocar o caminhão deles em qualquer outro local de São Paulo. Só não podem convocar ato para o mesmo local, mesmo horário e mesma data”, concluiu.

O representante do SOS Forças Armadas reagiu: “O MBL diz que queremos ditadura, isso é mentira. Me sinto cerceado, oprimido, essa liminar é fora da lei”, classificou  Almeida.

A liminar foi apresentada à Justiça em Carapicuíba semana passada. A estimativa do MBL é que ela seja julgada entre hoje e sexta.

Fonte: Terra
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