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Intimidade dos jovens com universo virtual ajuda no isolamento, afirma especialista

Efeitos da crise podem ser sentidos por muitos anos e varia conforme o grupo social; 'Sequestraram o futuro, o tempo está em suspenso', diz outro pesquisador

27 out 2020 - 18h01
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Em um processo contínuo de adultização, os jovens vivem as consequências da pandemia de formas distintas de outras faixas etárias, destaca o antropólogo e pesquisador Michel Alcoforado. Para ele, o impacto do momento atual acaba se assemelhando ao de uma guerra ou outras grandes epidemias. "Tem reflexos na vida toda."

Ele destaca o aspecto de os jovens atingirem a independência e a autonomia na rua, seja no trabalho, seja na faculdade, seja nas relações. "A primeira grande ruptura (da pandemia) é que esse espaço está interditado para quem é jovem. Sequestraram o futuro, o tempo está em suspenso."

Para o antropólogo, por mais que os valores e ambições não sejam os mesmos, esse grupo precisa ter uma ideia de projeto futuro muito clara. "É como se o cara tivesse treinado para correr uma maratona, mas, quando chegou nos 20 dos 42 km, não é mais aquele percurso que se está acostumado. E, se perguntar para onde correr, não tem para onde correr, tem de ficar paradão."

Já o sociólogo Rodrigo Prando, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, acredita que os jovens podem até se adaptar melhor às condições atuais do que outras gerações, embora ressalte que as experiências são bastante distintas entre diferentes grupos sociais, raciais e de gênero. "São muito mais adaptados a esse universo virtual, do home office, do teletrabalho, do que as pessoas mais velhas", diz. "Eles têm a vida real a virtual em paralelo, conseguem lidar melhor com a não presença."

Para ele, o resultado desse período vai depender das experiências individuais. "Pode-se levar para o pós-pandemia o conhecimento adquirido, os hábitos que desenvolveram. Vai depender de cada um, do apoio da família, da rede de sociabilidade."

Pesquisa aponta piora no lazer, estado emocional e renda dos jovens na pandemia

Uma pesquisa com 33,6 mil adolescentes e jovens de 15 a 29 anos divulgada no fim de junho demonstrou as dificuldades e angústias desse grupo na pandemia, realizada pelo Conselho Nacional da Juventude (Conjuve) em cooperação com a Unesco, braço das Nações Unidas para a educação, e outras organizações.

Do total, a maioria relatou piora em aspectos da qualidade de vida, como lazer (73%), estado emocional (70%), disponibilidade de recurso financeiro (58%) sono (55%) e alimentação (42%). Já os dados positivos foram restritos às relações dentro de casa (melhora em 33%, enquanto 41% se mantiveram como antes) e à higiene (62% melhoraram e 32% se mantiveram).

Entre os que atuavam profissionalmente, 27% perderam o trabalho. Além disso, 33% buscaram outras formas para complementar a renda. No geral, há mais pessimistas (34%) em relação ao futuro do que otimistas (27%), embora a maioria seja neutra nesse tema.

Ao falar de preocupações, as mais relatadas foram: perder a família (75%), infectar-se com a covid-19 (48%), transmitir a doença para outras pessoas (45%), morrer (27%) e passar por dificuldade financeira (26%). Além disso, em relação aos estudos, 80% concordam que o lado emocional tem atrapalhado, 82% têm dificuldade para se organizar para estudar, 80% estão com dificuldade para tirar dúvidas com professores e 63% sentem falta de um ambiente tranquilo para estudar.

Estadão
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