Jovens mortos em SC tiveram intoxicação por monóxido de carbono após modificações em BMW
O carro passou por ao menos quatro grandes modificações para aumentar a potência e o ruído do motor
Os quatro jovens encontrados mortos dentro de uma BMW em Balneário Camburiú foram vítimas de intoxicação por monóxido de carbono, após modificações do veículo que aumentaram sua potência.
Os quatro jovens que foram encontrados mortos dentro de uma BMW em Balneário Camburiú, em Santa Catarina, tiveram intoxicação por monóxido de carbono, concluiu a perícia. Os detalhes da investigação sobre o caso foram divulgados nesta sexta-feira, 12, pela Secretaria de Segurança Pública de Santa Catarina em uma coletiva de imprensa.
As vítimas são Gustavo Pereira Silveira Elias, 24 anos, Karla Aparecida dos Santos, 19, Tiago de Lima Ribeiro, 21, e Nicolas Kovaleski, 16. Eles passaram a virada do ano na cidade, e iriam embora logo pela manhã, mas foram encontrados desmaiados por Geovana, uma quinta pessoa que estava com eles e namorava uma das vítimas.
As análises feitas comparando o veículo em que os jovens estavam e um original de fábrica mostraram que modificações para aumentar a potência e o ruído da BMW aumentaram o escapamento de monóxido de carbono para dentro do carro.
"Próximo ao ponto de ruptura do downpipe dentro do compartimento do motor foi observado o valor de mil partes por milhão imediatamente, assim que aproxima o medidor do local ele já retornava esse valor. Para efeito de referência, colocando o medidor na ponteira do escapamento do veículo original disponibilizado lá na concessionária os valores verificados são da ordem de 30 a 50 ppm", exemplificou o perito Luiz Gabriel, ao falar apenas sobre uma das muitas modificações sofridas pelo veículo. Segundo ele, foram quatro as principais alterações.
Agora, a Polícia Civil de Santa Catarina está ouvindo os proprietários das oficinas onde Tiago fez as modificações, além dos mecânicos que trabalham nelas. Segundo os agentes, em uma delas, localizada em Aparecida de Goiânia, o dono relatou que o downpipe - equipamento que proporciona maior vazão do fluxo de gases e gera mais potência para o carro - era construido na própria oficina.
"Não foi um downpipe comprado de uma indústria, de uma fábrica. Esse era um downpipe de certa forma caseiro e ele foi instalado ali. Então, vão ser ouvidos ainda agora os mecânicos que trabalhavam nessa oficina que auxiliavam nessa construção do downpipe para a conclusão do inquérito policial", afirmou o delegado Vicente Soares.
O inquérito policial ainda vai ser concluído, mas segundo o delegado, ao que tudo indica até o momento deve haver um indiciamento por homicídio culposo, quando não há intenção de matar.
Como ocorreu a intoxicação
A investigação mostrou que os jovens passaram períodos extensos dentro do veículo. Confira o trajeto percorrido por eles:
- As vítimas saíram da cidade de Paracatu, Minas Gerais, para Florianópolis, saindo de Paracatu no dia 23 de dezembro e chegando em Florianópolis na madrugada do dia 25;
- Ficaram em Florianopólis do dia 25 ao dia 31, utilizando o veículo durante a viagem;
- No dia 31, foram para Balneário Camburiú por volta das 17h. Durante o trajeto, Tiago, que dirigia o veículo, relata um "engasgo" no carro. Eles chegam a parar o veículo, mas seguem viagem;
- Eles passam a virada na praia e por volta das 1h20 vão para a rodoviária buscar Giovana, namorada de um dos ocupantes do carro;
- Eles pegam um engarrafamento na estrada e só chegam na rodoviária por volta das 3h15, já passando mal;
- Giovana sugere que eles fiquem no carro descansando para se recuperarem antes de voltar à viagem. Ela checa como estão de vez em quando e os encontram dormindo. Por volta das 7h15, percebe que eles não estão respirando e chama o SAMU.
Para o perito Luiz Gabriel, o fato de eles terem ficado por muito tempo dentro do carro em pouco movimento - como quando estavam descansando e no engarrafamento - potencializou a criação de uma atmosfera tóxica dentro do veículo.
"Essa situação é potencializada pelo veículo em repouso ou em velocidade baixíssima. O veículo em movimento, andando normalmente, forma uma certa ventilação, o escoamento de ar ele tende a fazer o arraste desses gases. Então é uma situação mais segura. Mas, nesse caso, com o rompimento da peça, o grande volume de monóxido extravasado e o veículo em repouso por tempo prolongado acabou resultando nessa atmosfera tóxica dentro do habitáculo", afirmou.