Justiça absolve PMs acusados de matar Claudia Ferreira, mulher negra arrastada por viatura
Dez anos após caso, juiz considerou que PMs agiram em legítima defesa, pois estavam em uma troca de tiros
A Justiça do Rio de Janeiro absolveu os Polícias Militares acusados de assassinar Claudia Silva Ferreira, uma mulher negra que morreu após ter sido baleada durante uma operação e depois arrastada por uma viatura policial por 350 metros. O crime aconteceu em 2014.
Foram absolvidos o capitão Rodrigo Medeiros Boaventura, que comandava a patrulha naquele dia, e o sargento Zaqueu de Jesus Pereira Bueno. Os dois respondiam o processo por homicídio em liberdade.
Embora a investigação da Polícia Civil concluiu que o disparo que acertou Claudia tenha vindo da direção dos policiais, o juiz Alexandre Abrahão Dias Teixeira, da 3ª Vara Criminal, considerou que no momento em que a vítima foi atingida os militares estavam trocando tiros com os traficantes e que morte foi um “erro na execução”.
"Os acusados agiram em legítima defesa para repelir a injusta agressão provocada pelos criminosos, incorrendo em erro na execução, atingindo pessoa diversa da pretendida", escreveu o juiz no documento divulgado pelo jornal O Globo.
Além deles, também foram absolvidos os subtenentes Adir Serrano e Rodney Archanjo, sargento Alex Sandro da Silva e o cabo Gustavo Ribeiro Meirelles pelo crime de fraude processual, onde foram acusados de removerem o corpo da vítima para modificar a cena do crime.
“Eles tentaram socorrer a vítima de imediato, em que pese vários populares agirem de modo a impedir o socorro”, escreveu o magistrado.
Após a absolvição, o capitão Rodrigo Boaventura foi nomeado superintendente da Vice-Governadoria do estado. A nomeação foi divulgada no Diário Oficial, no último dia 14.
Relembre o crime
O crime aconteceu em 16 de março de 2014 durante uma operação policial no Morro da Congonha, em Madureira, Rio de Janeiro. De acordo com informações divulgadas na época, Claudia, também conhecida como ‘Cacau’, era auxiliar de serviços e tinha saído para comprar pão para os filhos quando foi atingida.
Claudia foi baleada no pescoço e nas costas. Sob o pretexto de socorrê-la, os militares a colocaram no porta-malas da viatura, porém, durante o trajeto o compartimento abriu. A vítima foi arrastada por 350 metros presa apenas por uma tira de roupa.
Os militares foram alertados por pedestres e motoristas, mas não pararam. Um motorista chegou a fazer imagens da mulher ainda presa no veículo. As imagens ganharam visibilidade internacional e causaram revolta.
Na época, a ex-presidente Dilma Rousseff disse que o caso “chocou o país”. “Nessa hora de tristeza e dor, presto a minha solidariedade à família e amigos de Cláudia. A morte de Cláudia chocou o país”, escreveu em seu perfil no X (Twitter). O ex-governador Sérgio Cabral chamou o caso de “desumano” e “cena abominável” e pediu a expulsão dos PMs da corporação.
Foram feitos protestos na comunidade e pedidos por justiça. Ainda em 2014, a família da vítima recebeu uma indenização do estado, cujo valor não foi revelado, e se mudou da região onde aconteceu o crime.