Lama de obra parada do Rodoanel invade casa em São Paulo
Família foi levada a hotel com conta bancada pela Dersa, responsável pela construção; empresa está na mira do governo do Estado
A forte chuva que atingiu São Paulo no último fim de semana se misturou à terra exposta e solta da obra parada de trecho do Rodoanel no norte da capital paulista, formou uma enxurrada de lama e invadiu uma residência de família na redondeza. Também foi atingida uma casa em construção.
A família – um casal e três filhos – moradora do local foi levada a um hotel pela Desenvolvimento Rodoviário S.A. (Dersa), responsável pela obra viária.
A construção fica na parte alta de um morro. A diferença de altura em relação às casas, em um ponto mais baixo, deu força à enxurrada.
Funcionários da Dersa têm pressionado deputados estaduais para que não seja concedida ao governador João Doria (PSDB) autorização para dissolver a empresa.
Um dos trabalhadores envolvidos na campanha disse ao Terra que também estão pedindo que deputados façam vistorias nas obras da firma.
Construções paralisadas encarecem o investimento em infraestrutura. Expostas ao tempo, começam a deteriorar antes mesmo de serem terminadas.
Procurada, a Dersa afirmou que atendeu os moradores imediatamente e está auxiliando na limpeza do imóvel. Não respondeu, porém, desde quando a obra está parada e nem qual o prazo para ser terminada. Leia a íntegra da nota enviada à reportagem:
"A Dersa informa que imediatamente atendeu os moradores do imóvel que foi invadido pelo volume de águas com o carreamento de lama, provocada pelas fortes chuvas. A Companhia providenciou a hospedagem e está prestando todo o auxílio para a limpeza do imóvel. A família permanece no hotel.
Na próxima semana, o imóvel passará por vistoria do IPT para verificar condições e auxiliar a elaboração de relatórios técnicos.
O segundo imóvel atingido, que estava em construção, também recebeu atendimento imediato e já está liberado para os proprietários."
O governo e a Dersa
Em seu primeiro dia no Palácio dos Bandeirantes, o governador João Doria enviou à Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) um projeto para vender, fundir ou extinguir seis estatais, inclusive a Dersa.
Por ser muito ampla, a proposta sofre resistência dos deputados estaduais. O texto não explica o que será feito de cada empresa. O governo deverá deixar a proposta mais clara num futuro próximo – assim, provavelmente terá força para aprova-la.
A Dersa é a mais importante e conhecida das firmas na mira de Doria. Também é o foco de corrupção mais visível do Estado. A dissolução é o destino que o Palácio dos Bandeirantes planeja para a firma.
Nas últimas semanas a Alesp tem sido palco de discussões sobre o projeto de Doria para as estatais. Os funcionários das empresas sustentam que elas são importantes para São Paulo.
Os trabalhadores da Dersa, especificamente, dizem que a organização é protagonista do noticiário sobre corrupção no Estado por causa das diretorias nomeadas pelos sucessivos governos tucanos. Deputados do PSDB negam a correlação.