Mãe de jovem atropelado viu notícia antes de saber da morte: "Já era meu filho debaixo do carro"
Matheus Campos da Silva foi atropelado pelo motorista de aplicativo Christopher Rodrigues, que debochou da morte do jovem
A catadora de lixo e aposentada Gina Campos, de 45 anos, tem vivido os piores dias de sua vida após a morte de um de seus filhos, atropelado e ridicularizado por um motorista de aplicativo identificado como Christopher Rodrigues, de 27 anos.
Em entrevista a O Globo, Gina contou que estava assistindo à televisão quando viu a notícia do atropelamento, ainda sem saber que era seu filho, Matheus Campos da Silva, de 21 anos.
"O repórter no helicóptero disse que estava acontecendo alguma coisa na estrada e falou que depois voltava para ver o que era. Já era meu filho debaixo do carro", disse.
O atropelamento aconteceu na região central de São Paulo. Na ocasião, Christopher usou uma rede social para debochar da morte do jovem: "Menos um fazendo o L", escreveu. Em um vídeo também obtido pelo jornal, é possível ouvir Matheus ainda vivo, implorando por socorro, mas o motorista se negou a ajudar alegando que o jovem estaria praticando roubo na região.
Para a mãe, nenhum delito que o filho tenha cometido justifica a sua morte. "Por que ele não prendeu o meu filho? Eu ia agradecer. Ele viu ele roubar? Chamasse a polícia, por que não fez isso? Por que tanta brutalidade? Eu queria ficar frente a frente com ele e fazer essas perguntas. Eu queria que ele me respondesse por que tanto ódio. Será que ele tem mãe?", questiona Gina.
Ela descreveu Matheus como um jovem tranquilo. "Era 20, 30 reais que ele trazia. Era pouco, mas ajudava até nos gastos com Uber que eu preciso usar para fazer as sessões de hemodiálise", contou Gina, se referindo ao trabalho do rapaz como ambulante.
"O que eu sei é que ele vivia de vender as coisinhas dele, bala no farol, água, capinha de celular. Na última hemodiálise, ele me acompanhou e vendeu duas capinhas para uma senhora que estava lá."
Matheus era um dos cinco filhos da catadora, o único homem. Era ele quem acompanhava a mãe nas consultas de hemodiálise e outros afazeres em que precisava ser carregada.
Agora, tendo que lidar com notícias uma atrás da outra sobre a morte do filho, Gina pede Justiça e torce pela volta da normalidade em sua vida, que não sabe quando vai alcançar. "Tenho fé em Deus que o assassino do meu filho não ficará impune", afirma.
A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo disse que já ouviu o autor do atropelamento e está aguardando os resultados dos laudos periciais, além de estar ouvindo testemunhas sobre o caso. A única punição recebida por Christopher Rodrigues, até o momento, foi ter sido banido das platadormas Uber e 99, mesmo não estando ativo em nenhuma das duas quando ocorreu o acidente.
"O motorista teve sua conta desativada da plataforma após o episódio", afirmou a Uber, em nota enviada ao Terra. A empresa disse ainda que está à disposição dos órgãos de segurança para colaborar com as investigações.
A 99 informou que o perfil de Christopher foi permanentemente bloqueado da plataforma. "A empresa ressalta que repudia veementemente e tem uma política de tolerância zero a qualquer forma de violência", afirmou em nota.