Médicos são investigados por deixar expediente em hospital
Funcionários teriam fraudado o sistema de ponto no Hospital Estadual de Mirandópolis para realizar atividades particulares quando deveriam estar atendendo pacientes
Médicos do Hospital Estadual de Mirandópolis, no interior de São Paulo, são investigados pelo Ministério Público Estadual por fraudar o sistema de ponto e deixar o hospital durante o expediente para fazer tarefas particulares. Os médicos deixam o hospital para atender em seus consultórios particulares, jantar ou almoçar, buscar filhos na escola, ir à missa ou mesmo praticar atividades de lazer.
Segundo o promotor de Justiça Carlos Alberto Pereira Leitão Júnior, autor de inquérito civil que apura a conduta dos médicos, “a situação é gravíssima”. Enquanto os médicos estão fora, as filas de atendimento aumentam no hospital, provocando denúncias de ausência de médicos, que chegam à promotoria. Em uma delas, uma paciente morreu porque o único cirurgião, que deveria estar de plantão no hospital, tinha deixado o posto para viajar e fazer uma cirurgia de apêndice na cidade de Birigui, distante a cerca de 100 quilômetros de Mirandópolis.
Avisado pelo telefone, o médico não quis retornar, optando por fazer a cirurgia de apêndice. Sem médico para atendê-la, Cristina Pereira de Souza, vítima de acidente moto, que estava com hemorragia, não resistiu. O caso está sendo apurado em um inquérito criminal. “A vítima era irmã de uma enfermeira, talvez por isso o caso tenha chegado até nós, mas deve haver muitos que não chegam”, diz o promotor.
Não é o único caso de morte no hospital. No dia 9 de dezembro, um médico do hospital foi condenado à prisão por omitir socorro a um paciente que estava agonizando em seu plantão.
O próprio promotor já flagrou pessoalmente a ausência de médicos. Em três oportunidades que esteve de surpresa no hospital, ele mesmo constatou a ausência dos médicos. “Embora estivessem com a presença confirmada no sistema de ponto, eles não estavam no hospital”, afirmou o promotor. “O mais revoltante é que a diretoria tem conhecimento das fraudes, já foi alertada por esta promotoria, mas não puniu qualquer médico. Só agora, com a abertura do inquérito criminal pela morte de Cristina é que a diretoria decidiu instalar sindicâncias”, diz.
Segundo Leitão Júnior, os médicos burlam o sistema de biometria e o livro de ponto que existem para controlar a frequência dos profissionais. De acordo com o promotor, um número considerável dos 60 médicos do hospital frauda o ponto para deixar o expediente e sair para desempenhar atividades particulares. A investigação também vai apurar as responsabilidades da direção do hospital. Se denunciados, os suspeitos podem ser condenados por improbidade administrativa e falsidade ideológica.
O Hospital Estadual de Mirandópolis divulgou nota na qual afirma que está colaborando do Ministério Público nas investigações e que abriu sindicância interna para apurar as denúncias investigadas pelo MP. "Caso elas sejam comprovadas, os responsáveis serão penalizados conforme a legislação vigente, podendo, inclusive, serem dispensados a bem do serviço público", diz a nota, concluindo que o caso também será encaminhado ao Conselho Regional de Medicina, para que sejam aplicadas as sanções profissionais cabíveis. Confira a íntegra da nota:
"O Hospital Estadual de Mirandópolis está colaborando com o MP e disponibilizando todas as informações necessárias para apuração de eventuais irregularidades das quais pode ter sido vítima. A unidade abriu sindicância interna para apurar as denúncias investigadas pelo Ministério Público. Caso elas sejam comprovadas, os responsáveis serão penalizados conforme a legislação vigente, podendo, inclusive, serem dispensados a bem do serviço público. O caso também será encaminhado ao Conselho Regional de Medicina, a quem cabe aplicar as sanções profissionais cabíveis."