Melara: a cabeça pensante por detrás do motim do Presídio Central em 1994 e um dos primeiros líderes de facções do RS
Ex-agricultor, ele começou sua trajetória criminosa nos anos 1970, tornando-se um dos principais nomes do crime organizado no Rio Grande do Sul
Era 8 de julho de 1994 quando todo o Brasil virou os olhos para Porto Alegre. Uma dezena dos criminosos mais perigosos do Rio Grande do Sul, integrantes da Falange Gaúcha, prosseguiram com um dos motins mais notórios da história do sistema prisional do estado. Tudo começou no Hospital Penitenciário, anexo ao Presídio Central. Durante a rebelião, 24 pessoas foram feitas reféns, incluindo dois líderes trazidos da Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas, Dilonei Francisco Melara e Celestino Linn. Porém, Melara era tido como a cabeça pensante por detrás de toda aquela situação.
Ex-agricultor, ele começou sua trajetória criminosa nos anos 1970, tornando-se um dos principais nomes do crime organizado no Rio Grande do Sul, conhecido por liderar facções e protagonizar eventos como a primeira fuga da Penitenciária de Charqueadas e o maior motim do estado, em 1994. Melara também foi pioneiro na criação de uma estrutura organizada para os criminosos dentro das prisões.
Em janeiro de 2005, a tranquilidade de uma área rural em Dois Irmãos foi abalada pelo assassinato de Dilonei Francisco Melara, então com 46 anos. Conhecido como o preso mais notório do sistema penitenciário gaúcho, Melara estava foragido há quase dois meses quando foi morto com diversos tiros, principalmente no rosto. Uma das principais suspeitas recaiu sobre Paulo Márcio Duarte da Silva, o Maradona, que assumiu a liderança da facção após a morte de Melara. No entanto, a ascensão de Maradona foi curta, já que ele enfrentou resistência dentro do grupo por acumular riquezas e decisões de forma unilateral.
A morte de Melara simbolizou um ponto de transição no sistema prisional e no crime organizado gaúcho. Se por um lado sua liderança personificou um período de instabilidade e violência, por outro, sua ausência abriu caminho para transformações no modo como o crime é gerido dentro das prisões. Essas mudanças, como a divisão de poder e a busca por uma convivência mais pacífica com as autoridades, revelam uma reorganização estrutural que impacta tanto a dinâmica criminal quanto às estratégias de enfrentamento das forças de segurança.
Julho de 1994
O desfecho da rebelião envolveu uma série de eventos violentos e cinematográficos. Divididos em três veículos, os criminosos fugiram com reféns, resultando em uma intensa perseguição policial. Enquanto alguns criminosos foram mortos em confrontos, Melara, Linn e outros dois comparsas invadiram o Plaza São Rafael, um dos principais hotéis da cidade, com três reféns. A cena, digna de um filme de ação, gerou pânico e colocou a segurança pública em xeque. Após 15 horas de negociações tensas, os criminosos restantes se renderam, encerrando o motim. Linn faleceu no dia seguinte, enquanto Melara sobreviveu, mantendo sua reputação como um dos criminosos mais perigosos do Estado.
O episódio do motim de 1994 foi um divisor de águas na administração prisional do Rio Grande do Sul. Desde então, rebeliões de tamanha proporção não ocorreram mais, apesar da evolução das facções criminosas que substituíram a extinta Falange Gaúcha. Especialistas apontam que o aumento na organização das facções, aliado a mudanças na gestão das penitenciárias, trouxe novos desafios e transformou a dinâmica do crime no Estado, tornando ainda mais complexo o combate à violência e ao tráfico. A memória do motim, no entanto, permanece como um símbolo da necessidade de reformas no sistema prisional e no enfrentamento ao crime organizado.