Ministério Público diz que mãe de motorista do Porsche tentou atrapalhar investigação
Promotora afirma ser necessário apurar circunstâncias que levaram empresário a deixar local do acidente sem fazer teste do bafômetro
O Ministério Público de São Paulo afirma, em parecer, que Daniela Cristina de Medeiros Andrade, mãe do empresário envolvido no acidente que resultou na morte do motorista de aplicativo Ornaldo da Silva Viana, 52 anos, tentou obstruir as investigações. As informações são da Folha de S.Paulo.
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Conforme informações da Polícia Civil, Fernando Sastre de Oliveira Filho, motorista do Porsche, foi levado do local do acidente no veículo de sua mãe, sob a justificativa de que seria levado ao Hospital São Luiz para receber atendimento médico. Por isso, os policiais militares que responderam à ocorrência não teriam realizado teste do bafômetro.
Após chegarem à unidade hospitalar, os policiais militares foram informados de que o condutor não havia dado entrada no pronto-socorro. Eles tentaram, então, entrar em contato por telefone com a mãe e o filho envolvido, porém as chamadas não foram atendidas.
Fernando só compareceu à Polícia Civil mais de 30 horas após o acidente, "a fim de afastar indícios de embriaguez", de acordo com o parecer da promotora Monique Ratton, da 6ª Promotoria de Justiça da Primeira Vara do Júri da Capital.
"O que denota que os envolvidos agiram de forma a tentar se furtar da aplicação da lei penal já tendo desrespeitado solicitações policiais durante o momento do flagrante do crime, trazendo prejuízos à investigação, o que demonstra que não houve pedido arbitrário ou ilícito de prisão no caso", completa.
O que alegou a mãe do motorista
Ao ser interrogada na delegacia sobre por que não levou o filho ao hospital, como havia informado aos policiais, Daniela alegou que o levou para casa devido à sujeira resultante de uma queda no asfalto. Ela também mencionou que precisava de um banho, pois havia se ajoelhado no chão.
A mãe informou à polícia que, ao chegar ao local do acidente, perguntou a um policial se poderia levar seu filho ao hospital, pois ele estava sentindo dores. Em seguida, outro policial registrou o depoimento do empresário e anotou seu número de celular. Com a permissão dos policiais, mãe e filho deixaram o local.
Sobre as chamadas perdidas, Daniela explicou que havia tomado um relaxante muscular e só depois percebeu que havia deixado o celular no carro. Em relação a uma das ligações dos policiais durante a madrugada, ela comunicou que pretendia levar seu filho ao pronto-socorro do Hospital São Luiz. Entretanto, acabou desistindo da ideia devido aos efeitos do relaxante muscular e ao receio de causar outro acidente caso dirigisse até lá.
Daniela também mencionou ter recebido ameaças por mensagens de texto e, temendo pela sua segurança, optou por não sair de casa na manhã seguinte ao acordar. Além disso, ela relatou ter tentado ligar para o policial para explicar a situação, porém não obteve resposta. Foi somente na tarde de segunda-feira, 1º, que eles compareceram à delegacia, quando o filho se apresentou acompanhado de seus advogados.
A promotora, por sua vez, afirmou se tratar de "justificativa pouco crível". "Os fatos acima inclusive, em tese, podem configurar crimes autônomos e deverão também ser apurados no bojo desta investigação por conexão probatória e teleológica com o crime principal", concluiu em parecer.
O 30º Distrito Policial (Tatuapé), encarregado das investigações, abriu um inquérito policial para apurar a conduta dos policiais militares. Além disso, a Corregedoria da Polícia Militar foi notificada sobre o caso.
O acidente
A colisão traseira ocorreu por volta das 2h de domingo, 31, na Avenida Salim Farah Maluf, na capital paulista. Testemunhas informaram à Polícia Civil que o empresário de 25 anos, que conduzia o Porsche, seguia em alta velocidade pela via, que tem limite de 50 km/h, e, ao fazer uma ultrapassagem, perdeu o controle do veículo.
Ele teria batido contra a traseira de um Sandero, conduzido pelo motorista de aplicativo. O condutor chegou a ser socorrido com parada cardiorrespiratória para o Hospital Tatuapé. Ele morreu por causa de "traumatismos múltiplos".
Policiais militares que atenderam ao caso informaram à Polícia Civil que a mãe de Andrade Filho compareceu ao local e disse que levaria o filho ao Hospital São Luiz, localizado no Ibirapuera, para tratar de um ferimento na boca.
Quando os agentes foram até ao hospital para fazer o teste do bafômetro e colher sua versão do acidente, eles não encontraram nenhum dos dois.
Em nota ao Terra, a Secretaria de Segurança Pública informou que a prioridade em casos de acidente de trânsito é garantir o resgate das vítimas e preservar o local do acidente --o que foi feito pelos PMs. Os policiais também fizeram diligências na residência do suspeito, mas ele não havia sido encontrado.