'Moïse foi morto como animal peçonhento', diz MP em denúncia
Promotoria acusa os três presos de homicídio triplamente qualificado e apoia transformação de prisão temporária em preventiva
RIO - Os três homens presos pelo assassinato do jovem imigrante congolês Moïse Kabagambe foram denunciados pelo Ministério Público do Rio (MP-RJ) por homicídio triplamente qualificado. De acordo com o MP, o crime foi cometido por motivo fútil, sem dar chance de defesa para a vítima e de forma cruel. "A vítima foi agredida como se fosse um animal peçonhento", escreveram os promotores.
Fábio Pirineus da Silva, o Belo, Aleson Cristiano de Oliveira Fonseca, o Dezenove, e Brendon Alexander Luz da Silva, o Tota, estão presos desde 2 de fevereiro. Eles foram denunciados na última segunda-feira, pelo assassinato de Moïse em 24 de janeiro. O jovem foi espancado até à morte em um quiosque na Barra da Tijuca, na zona oeste carioca, onde o congolês trabalhava.
Imagens da câmera de segurança do quiosque mostram os três homens dando socos, chutes e golpes com pedaços de pau no jovem até a sua morte. Segundo a denúncia, "Tota derrubou a vítima, que já caiu indefesa. A seguir, com Moïse já imobilizado por Brendon, Bello, armado com um bastão de madeira, covardemente, passa a agredir a vítima".
Em seguida, narra o MP, Bello passa o bastão para Dezenove que, mesmo com a vítima indefesa, continua as agressões. Mesmo sem reagir, o jovem congolês foi amarrado por Brendon e Fábio, e deixado no chão, sem qualquer defesa.
Moïse foi morto por discussão, diz MP ao apontar motivo fútil
"Os denunciados Fábio, Brendon e Aleson, ao agredirem a vítima com tamanha violência e por longo tempo, mesmo quando ela já estava indefesa, concorreram eficazmente para a morte de Moïse", sustenta a denúncia. O homicídio, sustenta a promotoria, foi praticado por motivo fútil, já que decorreu de uma mera discussão.
"O crime foi praticado com emprego de meio cruel, eis que a vítima foi agredida como se fosse um animal peçonhento", destaca o documento. O fato de Moïse ter sido derrubado e imobilizado, sem ter como reagir às agressões, caracterizou a terceira qualificadora do crime.
No documento, o MPRJ opina favoravelmente à conversão da pena de prisão temporária em preventiva. Argumenta que, em liberdade, os denunciados poderiam interferir na investigação e representar ameaça à família do jovem assassinado.
Uma audiência preliminar deve ser realizada para análise da conduta de outros três indiciados. Jailton Pereira Campos, o Baixinho; Matheus Vasconcelos Lisboa; e Viviane Mattos são suspeitos de omissão de socorro. A promotoria pediu ainda que seja encaminhada cópia do inquérito à Vara da Infância e Juventude, para análise da conduta de Alexandre da Rocha Telles, que é menor de 18 anos.
O Estadão não conseguiu falar com os defensores dos acusados.