Moradores de Bauru podem ficar sem água se seca continuar
Quase 40% dos moradores de Bauru, no interior de São Paulo, podem ficar sem água nos próximos dias. Isso porque o nível da represa de captação do rio Batalha, responsável pelo abastecimento de 158 bairros, está com menos da metade do volume normal que é de 2,60 m. Nesta sexta-feira o nível do rio é de 1,17 m e, segundo o presidente do DAE (Departamento de Água e Esgoto), Giasone Cândia, quando a represa atingir 80 centímetros a captação terá que ser interrompida.
"Nesse nível as bombas não conseguem captar a água. Nesse caso a solução seria o uso de caminhões pipas. O nível agora é considerado bastante baixo, temos quatro máquinas no rio Batalha, mas apenas uma em funcionamento. Às vezes ligamos a segunda, mas logo depois volta a ser só uma”, explica o diretor da autarquia.
Caso não volte a chover principalmente em Agudos, município vizinho a Bauru e onde está a cabeceira do rio Batalha, a captação de água no leito do rio pode estar com os dias contados. “Não dá pra especificar um prazo. Podem ser dois dias ou mais, vai depender muito do consumo também”, afirma.
“Ao contrário de outras cidades no Estado que também enfrentam uma crise hídrica e precisam de um período longo de chuvas para recuperar os reservatórios, o abastecimento em Bauru, voltaria a um nível considerado normal com a incidência de uma forte chuva por um período mínimo 30 minutos”, explica o diretor da autarquia.
Giasone explica que o DAE realizou uma análise nas regiões atingidas pela falta de água e constatou que o moradores das regiões dos bairros Jardim Bela Vista, Vila Falcão e Jardim Ouro Verde - onde se concentram 104 bairros - são os de menor poder aquisitivo, sendo que algumas residências possuem caixa d’água pequenas e outras nem possuem esse tipo de reservatório. Já nas regiões central e sul (que incluem 54 bairros) também atingida pelo rodízio, a situação é inversa: as residências possuem caixas com maior capacidade de armazenamento de água.
Em busca de amenizar a crise no abastecimento na cidade, o DAE tem recorrido aos caminhões pipas que dispõe na frota para reforçar a distribuição de água nos bairros afetados pelo desabastecimento. “Temos dois caminhões de 15 mil litros cada e outros dois de 8 mil litros que estão socorrendo esses bairros das 6h até às 22h diariamente. Tentamos alugar outros caminhões, mas não conseguimos, por isso vamos comprar outros três caminhões, mais dois de 15 mil litros e outro com capacidade para oito mil. Acredito que até novembro ou dezembro eles já estejam à disposição”, adianta Cândia.
O diretor explica que 62% da cidade recebe água captada do Aquífero Guarani, por meio de 38 poços profundos. E que, por enquanto, não sofrem com o racionamento, que voltou a ser realizado no município na última quarta-feira. “Infelizmente não temos como desviar a água captada por esses poços e atender as regiões desabastecidas com a seca do rio Batalha”, lamenta.
O diretor da autarquia afirmou que um Plano Diretor de Água está sendo formulado e que deve ficar pronto até o final deste ano. Ele vem sendo visto como a solução para crise de abastecimento de água em Bauru. Uma empresa contratada pelo DAE estuda a situação atual da cidade para oferecer soluções, no mínimo, para os próximos 20 anos.
De acordo com Giasone, será preciso um investimento de aproximadamente R$ 117 milhões, o que corresponde a duas vezes o orçamento anual da autarquia. “Com esse plano vamos poder, por exemplo, remanejar a água de um local para ou outro da cidade garantido assim a manutenção do sistema abastecimento. Claro que vai levar algum tempo, não vai se na minha gestão, mas posso começar a execução dele”, explica.
Com caneca
Fabiana Ventura Borges, 31 anos, sócia proprietária de um salão de beleza localizado no Jardim Aeroporto, em Bauru, um dos bairros afetados pelo rodízio no abastecimento, conta que está no local há sete anos e afirma que sempre faltou água, mas que a situação piorou muito de uns meses pra cá.
Segundo ela, o fornecimento é interrompido geralmente entre 11h e 12h e à tarde o salão fica sem água. O jeito encontrado por ela é ir buscar água em uma fonte no parque Vitória Régia, onde enche galões e leva para o salão. Chegando lá a cabeleireira coloca a água em baldes e usa uma canequinha para lavar o cabelo das clientes.
"É constrangedor tanto para a gente do salão quanto para as clientes. Pra lavar um cabelo geralmente demora 5 minutos e desse jeito leva uns 20. Com isso atrasa o atendimento. Além disso, pra fazer alguns procedimentos como mexas a gente prefere nem fazer quando falta água porque corre o risco de manchar o cabelo", explica.
Fabiane conta que busca água no parque pelo menos duas vezes por dia. Ela enche galões de 10 e 20 litros e retorna para o salão. "Tem cliente que prefere não vir quando falta água. A gente já sentiu uma queda no movimento de pelo menos 10%", conta. "Eu penso que há uma falta de planejamento, pessoas com conhecimento nessa área. Sou bauruense, nasci aqui e vejo que faltam poços, investimento. Não posso dar conforto pras minhas clientes e nem 100% do meu trabalho para todas. Não tem como trabalhar", reclama.
Calor recorde
Bauru registrou esta semana a maior temperatura dos últimos treze anos no município. Os termômetros do IPMet (Instituto de Pesquisas Meteorológicas) da Unesp, registraram 39,2°C às 15h10 da última terça-feira (14). Mas no centro da cidade a temperatura ultrapassou a casa dos 41°C. “A área do IPMet tem muita vegetação, então pode não refletir exatamente o que acontece na região central da cidade”, explica o meteorologista Fernando de Almeida Tavares.
Segundo ele, a última vez que choveu no município foi no dia 30 de setembro e a precipitação foi de apenas 10 milímetros. O meteorologista explica ainda que uma massa de ar quente e seco permanecerá influenciando nas condições do tempo sobre o interior do estado de São Paulo, mantendo o predomínio de sol, temperaturas elevadas e baixos valores de umidade relativa do ar até o domingo. “Só deve chover em boa parte do Estado, inclusive em Bauru, na segunda e terça-feira com a chegada de uma frente fria fraca. E depois, só no dia 31. Mas, mesmo assim, deve chover pouco”, afirma.
13,7 milhões desabastecidos
A crise no abastecimento de água atinge, total ou parcialmente, ao menos 70 cidades do estão de São Paulo onde vivem mais de 13,7 milhões de pessoas. Grandes cidades o interior do Estado como Itu, Campinas, Piracicaba e Americana enfrentam a falta de água, além da capital do Estado. E segundo o presidente do DAE de Bauru, Giasone Cândia, outras 200 cidades do Estado têm perspectivas de também ficar sem água em breve.
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