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Moradores de São Sebastião, no litoral de SP, relatam momentos de terror: "Fim dos tempos"

Relatos de moradores do litoral norte paulista detalham clima "fúnebre" devido à destruição

22 fev 2023 - 16h46
(atualizado às 19h57)
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Destruição em praias de São Sebastião após as chuvas e enchentes
Destruição em praias de São Sebastião após as chuvas e enchentes
Foto: Suellen Nóbrega/Arquivo pessoal

O cenário de destruição causado pelas chuvas no litoral norte paulista deixou sequelas em moradores da região, que agora tentam se reerguer e ajudar os mais necessitados. As enchentes e deslizamentos de terra deixaram dezenas de vítimas e desaparecidos. O clima foi descrito como "fúnebre", e as cenas lembravam um "filme de terror", de acordo com moradores ouvidos pelo Terra.

No total, já são mais de 40 mortes confirmadas pela Defesa Civil do Estado de São Paulo. A chuva foi a maior já registrada no período de 24 horas no País, de acordo com o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) e do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).

A fotógrafa Suellen Nóbrega, de 37 anos, é moradora de Maresias, região de São Sebastião, que foi afetada pelas chuvas que começaram no último fim de semana na cidade. Ela relata que não teve grandes perdas materiais, mas que precisou abrigar um amigo de seu filho, que teve a casa tomada pela enchente e agora luta para manter a casa e a família em segurança.

Veículos foram deslocados pela força das águas na cidade
Veículos foram deslocados pela força das águas na cidade
Foto: Suellen Nóbrega/Arquivo pessoal

"A gente ficou sem comunicação nenhuma, nem TV, nem rádio, nem internet, o que dificultou muito para a gente mandar notícias e saber o que estava acontecendo. Era uma coisa meio que fim dos tempos assim, esses filmes que a gente assiste de terror, com todo mundo desesperado, meio que sem consciência do que fazer, sem informação, dependendo do celular, dependendo das informações da rede", disse.

Suellen diz que ajudou a fazer a limpeza da casa do amigo de seu filho. Ela abrigou o garoto em sua casa, oferecendo água e comida, mas agora diz que está sem gasolina para seu carro, e que, nos supermercados, as prateleiras estão cada vez mais vazias. 

Residência ficou completamente alagada após a chuva
Residência ficou completamente alagada após a chuva
Foto: Suellen Nóbrega/Arquivo pessoal

A fotógrafa diz que um dos lugares mais afetados na cidade foi a Praia do Toque-Toque, além de Boiçucanga, Camburi, Barra do Sahy e Praia da Baleia.

Suellen também está tentando auxiliar outras pessoas que precisam de doações, mas, por ser autônoma, também precisa suprir suas necessidades básicas e de sua família. Por isso, lançou nas redes sociais a venda de uma fotografia de sua autoria, que retrata a cachoeira de Toque-Toque Grande, que não existe mais devido à destruição. "Dependo do meu trabalho, então agora fiquei de mãos atadas. Todos os meus ensaios foram cancelados, então eu lancei a campanha da fotografia", explicou.

"Hoje a gente não tem gasolina aqui, acabou a água, as coisas no mercado estão acabando também, mas ainda não está chegando pra gente. Então a gente precisa realmente que os turistas vão embora para que possa ficar só os locais, para a gente começar a se reerguer e receber as coisas que necessita. A sensação é de impotência frente à força da natureza, que eu acho que vale a reflexão para que a gente possa aprender a respeitar cada vez mais essa força da natureza e viver em comunhão com ela", concluiu.

Carros foram levados pela enxurrada em São Sebastião
Carros foram levados pela enxurrada em São Sebastião
Foto: Suellen Nóbrega/Arquivo pessoal

'Clima fúnebre'

Thiago Oliveira, que também é morador de Maresias, conta que o clima na cidade é de muita tristeza. "O clima é fúnebre e muito triste. A gente está dilacerado emocionalmente, é a maior tragédia do município. Ali é uma rede de pessoas que são conectadas, a gente tem muitos amigos na Barra do Sahy, onde foi o epicentro do 'furacão'", lamentou.

Ele conta que muitas pessoas estão trabalhando no local como voluntários e até atuando em conjunto com o Instituto de Medicina Legal (IML) para a identificação dos corpos encontrados nos escombros de deslizamentos. "Está tudo muito terrível, muito tenebroso. Todo mundo se conhecia ali, muitas pessoas da nossa comunidade, do Moinho de Maresias, têm parentes lá. Essa forma de se mobilizar é até um jeito de reduzir um pouco da dor, que é muito grande".

Veículo estacionado ficou submerso
Veículo estacionado ficou submerso
Foto: Suellen Nóbrega/Arquivo pessoal

Thiago está à frente de um projeto social e abriu pontos de coleta de doações. Nas redes sociais, o perfil do projeto, chamado Desengarrafando Mentes, detalha sobre os pontos de arrecadação. 

"Já são quase 2.000 desabrigados, então a gente vai ter muito trabalho e, claramente, trabalho para reconstruir. É o momento de falar sobre políticas públicas porque não é só um fato natural, de certa forma existe uma omissão governamental. E quem paga a conta são sempre os corpos pretos, em sua maioria periféricos, empurrados para as margens da sociedade desse País", considerou.

Thiago ainda diz que, caso nada seja feito, o problema pode se repetir. "É só para olhar para essa questão que está por todo Brasil, no litoral norte, e é um fator que já vem acontecendo há muitos anos. Se nada for feito, outras tragédias vão acontecer, e as pessoas vão ocupar esse espaço pela falta de moradia. Ninguém quer estar ali", finaliza.

Fonte: Redação Terra
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