Morte de grávida no Rio tem evidências de homicídio pela PM
Representante da OAB acompanhou depoimentos de parentes de Kathlen Romeu e disse estar convicta da autoria por parte dos agentes
A família de Kathlen de Oliveira Romeu, morta na última terça-feira, 8, na comunidade de Lins de Vasconcelos, na zona norte do Rio, prestou depoimento nesta sexta-feira, 11, à Delegacia de Homicídios do Rio, na Barra da Tijuca (zona oeste), que investiga o caso. Uma representante da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ) disse que o caso tem evidências de homicídio pela Polícia Militar.
"Eu preciso gritar por justiça por Kathlen. Não foi em vão. Não vai ser em vão. Ela foi a última. Gravem esse nome, não foi em vão", afirmou a mãe da vítima, Jaqueline de Oliveira Lopes, ao sair da delegacia. Kathlen, de 24 anos, era designer de interiores, trabalhava numa loja de roupas em Ipanema (zona sul) e estava grávida de 14 semanas. O bebê também não resistiu.
A avó dela, Sayonara Fátima, que estava com a neta no momento em que ela foi baleada, também prestou depoimento, assim como o pai de Kathlen, Luciano Gonçalves, e o namorado dela, o tatuador Marcelo Ramos Silva.
A vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ, Nadine Borges, acompanhou os depoimentos e disse estar convicta de que houve um homicídio. "Foi muito chocante o que nós ouvimos, sobretudo da avó dela, que presenciou a cena do crime. O depoimento da avó só reforça os indícios de que houve homicídio por parte da Polícia Militar. Não há registro, no depoimento, de que houvesse confronto no momento. Apenas a existência de muitos tiros. O que ela disse é que ouviu muitos tiros e só viu policiais militares", contou Nadine.
"A Polícia Civil vai ter que investigar isso com muita cautela, porque as evidências são muito fortes de um homicídio, de fraude processual (por supostamente terem alterado a cena do crime antes da realização da perícia), de crime de desobediência em relação à decisão do STF (Supremo Tribunal Federal, que no ano passado proibiu a realização de operações policiais em favelas a não ser em situações extraordinárias). Essa operação configura uma afronta ao Supremo Tribunal Federal", afirmou a advogada.
"Nós não vamos descansar um segundo até esclarecer e responsabilizar quem está por trás desse comando e também esses agentes que atuaram dessa forma e mataram uma menina negra de 24 anos grávida. É mais um homicídio de uma pessoa negra pobre num território de favela nessa cidade", concluiu.
O namorado de Kathlen pediu punição aos responsáveis: "As pessoas vão pagar, não só os policiais que estavam lá na hora e que dispararam contra ela, o comandante também, porque o policial não age sozinho. O comandante também tem que pagar", afirmou Silva. "Eu não tenho mais medo da morte, porque eu sei que quando essa hora chegar vou encontrar com ela e com meu filho", disse, muito emocionado, ao sair da delegacia.
A Polícia Militar afirma que policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) foram atacados por criminosos, quando estavam em uma localidade chamada "Beco da 14", e reagiram. Eles só souberam que Kathlen havia sido atingida quando o tiroteio terminou, sem que ninguém fosse preso.
A Delegacia de Homicídios da capital já ouviu cinco dos 12 policiais militares que participaram da ação. Segundo a polícia, o cabo Marcos Felipe da Silva Salviano disse ter trocado tiros com quatro criminosos, todos armados e pelo menos um deles portando fuzil, por volta das 14h15 da terça-feira.
A Polícia Militar do Rio afastou 12 policiais que atuaram na ação que terminou com a morte da jovem. Os PMs tiveram suas armas recolhidas para perícia - ao todo, 21 armas foram recolhidas.