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'A gente gritava tão matando o cara, mas continuaram'

João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, foi morto; vizinho diz que outros seguranças impediram testemunhas de parar agressões

20 nov 2020 - 09h58
(atualizado às 10h21)
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Vizinho da vítima, Paulão Paquetá contou ao Estadão ter testemunhado o empancamento e a morte de João Alberto Silveira Freitas, 40 anos, em um supermercado Carrefour de Porto Alegre na noite de quinta-feira, 19. "Estava chegando no local na hora das agressões. Eu estava a uns 10 metros quando começou. Tentamos intervir, mas não conseguimos", relata.

Paulão diz que a esposa da vítima, um homem negro, também viu o espancamento, mas foi impedida de intervir. "Ela viu o marido sendo morto", lamenta.

Segundo ele, cerca de outros oito seguranças ficaram no entorno da área, impedindo a aproximação das pessoas que tentavam parar com as agressões. "Não pararam. A gente gritava 'tão matando o cara', mas continuaram até ele parar de respirar, fizeram a imobilização com o joelho no pescoço do Beto, tipo como foi com o americano (George Floyd, morto por policiais neste ano nos Estados Unidos)."

Vídeo compartilhado nas redes sociais mostra agressões a homem negro no estacionamento do Carrefour
Vídeo compartilhado nas redes sociais mostra agressões a homem negro no estacionamento do Carrefour
Foto: Twitter/Reprodução / Estadão

Presidente da Associação de Moradores e Amigos do Obirici, Paulão estima que as agressões duraram cerca de 7 minutos. Ele diz que alguns motoboys que filmaram a violência tiveram os celulares tomados para não registrar toda a ação. "Quando viram que ele parou de respirar, eles se apavoraram. Chamaram a Brigada (Militar), que isolou ali e a Samu tentou reanimar."

Segundo o líder comunitário, a vítima morava no IAPI, bairro nas proximidades do supermercado. "Não é primeira ocorrência do tipo. É a primeira de óbito. Todo mundo sabe que são agressores (seguranças do local) mesmo."

"É muito difícil. Revolta pela maneira que ele foi morto brutalmente. Ser humano nenhum merece ser agredido daquela jeito, ter a vida ceifada de maneira tão brutal, tão animal."

O homem foi espancado e morto por dois homens brancos no estacionamento do Carrefour Passo D'Areia, na zona norte da capital gaúcha na véspera do Dia da Consciência Negra. Informações preliminares apontam que um dos agressores é segurança do local e o outro é um policial militar temporário que fazia compras no local. Ambos foram detidos. Uma manifestação em frente ao supermercado está prevista para as 18 horas desta sexta-feira.

Pelo twitter, o vice-governador do Rio Grande do Sul e secretário estadual da Segurança Pública, Ranolfo Vieira Júnior, condenou a ação violenta dentro do supermercado e disse que irá apurar exaustivamente o caso. "Vamos apurar esse fato a sua exaustão, não podemos admitir ações dessa natureza", afirmou.

Vídeos compartilhados nas redes sociais mostram parte das agressões e o momento que o cliente é atendido por socorristas. Em uma das gravações, o homem é derrubado e atingido por ao menos 12 socos. Ao fundo, uma pessoa grita "vamos chamar a Brigada (Militar)".

Uma mulher vestindo uma camisa branca e um crachá, que também seria funcionária do supermercado, aparece ao lado dos agressores, filmando a ação. Ela já foi identificada e será ouvida. Outro registro mostra a vítima desacordada, enquanto há marcas de sangue no chão.

Estadão
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