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Morto por espancamento no Carrefour, Beto Freitas era referência em torcida de clube do bairro

Pai de quatro filhos, João Alberto Silveira Freitas trocou a paixão futebolística do Grêmio pelo São José

22 nov 2020 - 19h52
(atualizado às 21h53)
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PORTO ALEGRE - Além da saudade, familiares e amigos relembram com carinho de João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, que foi espancado até a morte em uma unidade do supermercado Carrefour, em Porto Alegre, na noite da última quinta-feira, 19. Beto era o segundo filho de um casal dedicado à família. O pai é pastor e estreitou a relação com o filho após a morte da mãe dele.

Segundo João Batista Rodrigues Freitas, o filho era uma "pessoa de bem" e muito amorosa. "Eu amava ele. Ele era um cara muito amoroso", recorda. Beto era pai de quatro filhos, três meninas e um menino.

Inicialmente torcedor do Grêmio, ele trocou a paixão futebolística pelo São José, conhecido como Zequinha, clube de bairro da zona norte da cidade. Morador da região, o soldador era membro da torcida Os Farrapos. As lembranças da arquibancada seguem vivas na memória do amigo Everton da Silva dos Santos.

"A minha relação com nosso eterno irmão Beto era de família. Todo mundo curtia aquele trabalhador e pai de família. Ele era tudo. Sempre nos apoiava nos jogos e agora me acontece isso? Ninguém está acreditando no que aconteceu", emociona-se Santos.

O aeroportuário Robson Leite destaca a referência de Beto na torcida organizada. "Como o São José é um time de bairro, a gente conhece todo mundo. Sempre fazíamos churrasco e ele sempre estava disposto a ajudar. Ele era uma pessoa do bem e nunca teve problemas."

João Alberto e amigos membros da torcida organizada Os Farrapos, do clube São José
João Alberto e amigos membros da torcida organizada Os Farrapos, do clube São José
Foto: Divulgação/Torcida Os Farrapos / Estadão

Noivo de Milena Borges Alves, 43 anos, Freitas morava ao lado da cuidadora de idosos em um apartamento no bairro IAPI, zona norte de Porto Alegre. "Ele era muito brincalhão, estava sempre brincando", relatou a viúva em entrevista à Rádio Gaúcha.

A morte brutal de João Alberto causou uma onda de protestos em todo o País. Conforme laudo inicial da necropsia, a vítima morreu por asfixia. Em Porto Alegre, o protesto realizado em frente ao hipermercado terminou em confronto entre manifestantes e a Brigada Militar.

Vídeos das câmeras de segurança do Carrefour mostram o cliente negro sendo espancado e imobilizado por dois vigias. Após a detenção, Magno Braz Borges e Giovane Gaspar da Silva tiveram a prisão preventiva decretada pela Justiça. Os dois vão responder por homicídio triplamente qualificado: por motivo fútil, asfixia e recurso que impossibilitou a defesa da vítima.

Sob aplausos e homenagens, Beto foi sepultado neste sábado, 21, no cemitério municipal São João, no bairro IAPI, também localizado na zona norte de Porto Alegre. Durante o velório, duas coroas de flores ornamentaram o ambiente. Uma delas exibia homenagem de familiares. A outra ostentava uma faixa com os dizeres "Justiça por João Alberto Freitas". Uma bandeira do São José também foi estendida sobre o caixão.

Ele também tinha passagens pela polícia, por crimes de porte ilegal de arma (2010) e violência doméstica (2017), crimes pelos quais foi condenado. No primeiro caso, a pena foi substituída por prestação de serviços comunitários, o que ele descumpriu e enfrentou novo processo criminal em 2013. Já em relação à denúncia de violência doméstica, ele foi acusado de ameaçar e agredir a ex-esposa Marilene Santos Manoel. "Na audiência de instrução do dia 18/01/2018, foi deferida a liberdade provisória do réu, com a concordância do Ministério Público", está escrito nos autos. João Alberto, então, foi condenado a um mês e 20 dias de prisão em regime aberto. /COLABOROU CHICO GUEVARA

Estadão
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