Mudanças climáticas agravaram condições para incêndios no Pantanal em 40%
A pesquisa, realizada pela WWA (World Weather Attribution), apontou que as alterações causadas pelas ações humanas aumentaram de quatro a cinco vezes as chances de queimadas catastróficas no bioma
As mudanças climáticas agravaram em 40% as condições de seca, calor e vento no Pantanal em 2024, conforme estudo divulgado nesta quinta-feira (8). A pesquisa, realizada pela rede internacional de cientistas WWA (World Weather Attribution), apontou que as alterações no clima causadas pelas ações humanas aumentaram de quatro a cinco vezes as chances de queimadas catastróficas no bioma.
O estudo destaca que o mês de junho foi utilizado para a análise, momento em que o Pantanal já enfrentava incêndios recorde. Durante o período das festas juninas, um vídeo do Arraial do Banho de São João, em Corumbá (MS), com labaredas ao fundo, viralizou nas redes sociais.
Festa junina em Corumbá, o Pantanal, em chamas! pic.twitter.com/itu4Q8csym
— Henrique Barros (@HenriqueBa31414) June 24, 2024
Impacto das mudanças climáticas no Pantanal
De acordo com Filippe Lemos Maia Santos, cientista brasileiro que participou do estudo, em entrevista à Folha, os incêndios massivos estão se tornando a nova realidade do bioma. A área alagada, característica da região, está diminuindo à medida que as temperaturas aumentam, tornando a vegetação mais seca e inflamável.
"Esses fatores combinados criaram condições perfeitas para incêndios florestais de grandes proporções, pois a vegetação seca se torna altamente inflamável e as condições meteorológicas são favoráveis à propagação rápida das chamas", afirmou Santos.
O alerta dos pesquisadores é que a temporada de seca ainda não chegou ao seu auge, o que pode agravar a situação nos próximos meses. Tradicionalmente, o pico das queimadas no Pantanal ocorre em setembro, mas este ano, a temporada de fogo está antecipada.
O que causa os incêndios no Pantanal?
A temporada atual de incêndios no Pantanal geralmente ocorre entre julho e novembro e está frequentemente associada a ignições humanas. Segundo os estudos, apenas 1% dos incêndios florestais são causados por raios, destacando a predominância da atividade humana.
Para mitigar os efeitos das mudanças climáticas, os cientistas enfatizam a urgência da substituição dos combustíveis fósseis por energia renovável, além de reduzir o desmatamento e reforçar as proibições de queimadas controladas.
Como a atribuição climática funciona?
A atribuição climática busca determinar a influência do aquecimento global em eventos climáticos extremos. O grupo WWA é pioneiro nesse campo, realizando estudos rápidos com a participação de cientistas globais. Primeiramente, é verificado se o evento foi extremo em comparação a registros históricos.
Os cientistas utilizam um método revisado por pares para comparar cenários "com e sem" a influência humana no aquecimento global. Eventos extremos fazem parte da variabilidade climática natural e sempre têm várias causas, mas é possível criar modelos porque se sabe a quantidade de gases de efeito estufa lançados na atmosfera desde a Revolução Industrial.
Antes das mudanças climáticas que já aqueceram o mundo em ao menos 1,2°C desde a era pré-industrial, as condições de clima para incêndios observadas em junho eram extremamente raras e esperadas apenas cerca de uma vez a cada 161 anos. Atualmente, são quase cinco vezes mais prováveis, estimadas para ocorrer cerca de uma vez a cada 35 anos.
Se o aquecimento global alcançar 2°C, como previsto por estudiosos, condições semelhantes se tornarão 17% mais intensas e ocorrerão em média uma vez a cada 18 anos. "À medida que as emissões de combustíveis fósseis aquecem o clima, o Pantanal está esquentando, secando e se transformando em um barril de pólvora", explica Clair Barnes, pesquisadora do Instituto Grantham do Imperial College de Londres, à Folha.
Estatísticas dos incêndios
Os incêndios no Pantanal começaram no fim de maio, mais cedo que o normal, segundo a WWA. De janeiro até esta terça-feira, 6 de fevereiro, o bioma registrou 6.655 focos de calor, representando um aumento de 1.973% comparado ao mesmo período do ano passado. O acumulado atual também supera o de 2020, considerado o ano mais crítico da história, quando 30% do bioma foi consumido pelo fogo.
Em relatório recente, o MMA (Ministério do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas) informou que a área queimada no Pantanal, neste ano, varia entre 1.027.075 a 1.245.175 hectares, cerca de 6,8% a 8,3% do território total do bioma. A análise foi feita com dados do Laboratório de Aplicação de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Lasa/UFRJ).