Mulher morre após fazer lipoescultura em clínica e biomédica é presa em MG
Ela sofreu parada cardiorrespiratória e foi levada a uma unidade de saúde em estado grave, mas não resistiu
Uma mulher de 46 anos morreu após realizar uma lipoescultura em Divinópolis, Centro-Oeste de Minas Gerais, e sofrer uma parada cardiorrespiratória. A biomédica que realizou o procedimento e a técnica em enfermagem foram presas em flagrante por homicídio doloso, segundo a Polícia Civil de Minas Gerais.
De acordo com o boletim de ocorrência, o companheiro da vítima, Íris Doroteia Martins, a deixou na clínica na manhã de segunda-feira, 8, por volta das 6h30. A lipoescultura é um procedimento que retira gordura de determinada região e a distribui em outras partes do corpo com o objetivo de alterar o contorno corporal.
Íris teria sofrido uma parada cardiorrespiratória durante o procedimento e foi levada para uma unidade de saúde em estado grave. Ela não resistiu às complicações e faleceu.
A perícia da Polícia Civil foi até o endereço da clínica para realizar os primeiros levantamentos para a investigação do crime. No local, alguns equipamentos utilizados nos procedimentos foram apreendidos, além de prontuários de pacientes, caixa de injetáveis, dois computadores e um celular.
Algumas irregularidades foram constatadas, e por isso a biomédica e a técnica em enfermagem foram até a delegacia, onde foram presas em flagrante por homicídio. As duas foram encaminhadas ao sistema prisional e permanecem à disposição da Justiça.
Investigação
A perícia médico-legal constatou que Íris Doroteia Martins tinha sinais de importante hemorragia relacionada ao procedimento cirúrgico que foi realizado, e que esses sinais podem ter ligação com a causa da morte.
Em entrevista coletiva na terça-feira, 9, o chefe do Posto Médico-Legal, médico-legista Lucas Amaral explicou a investigação. Ele alegou que, ao todo, foram encontradas 10 perfurações no abdômen da vítima e duas nos glúteos, mas nenhum órgão foi perfurado.
“Foram coletados materiais biológicos, que serão periciados no laboratório do Instituto Médico-Legal Dr. André Roquetti, na capital, para pesquisa de possíveis agentes químicos utilizados no procedimento (anestésicos, epinefrina, sedativos, etc.). Precisamos aguardar os resultados dos laudos complementares para determinar a causa da morte”, explicou.
O estabelecimento tinha autorização para funcionar apenas como clínica estética, e não possuía alvará nem estruturas para atendimentos de emergência que são essenciais para a realização de cirurgias, segundo a polícia.
O equipamento usado para fazer lipoesculturas não foi encontrado na clínica. A biomédica afirmou que apenas tinha iniciado os procedimentos, e que o laser que seria usado na paciente ainda não teria chegado, já que era alugado por hora, conforme informou a perita criminal Paula Lamounier.
De acordo com o delegado Marcelo Nunes, que coordena a equipe de investigação de crimes contra a vida em Divinópolis, ao final do inquérito as investigadas poderão ser indiciadas por homicídio doloso. “A partir do resultado dos exames laboratoriais e toxicológicos, em conjunto com as demais provas, nós vamos concluir o procedimento policial para fins de remessa à Justiça e decidir pelo indiciamento ou não da biomédica e da técnica de enfermagem, responsáveis pela realização do procedimento cirúrgico na paciente”, explicou.
O chefe do 7º DEPPC, delegado-geral Flavio Tadeu Destro, pontuou que “os elementos colhidos até o momento já se mostram contundentes, mas é necessário aguardar a conclusão das demais provas periciais complementares, bem como a análise documental e testemunhal para a respectiva finalização das investigações”.
Conselho de Biomedicina
Em nota divulgada no site oficial do Conselho Regional de Biomedicina da 3ª Região, em Divinópolis (CRBM-3), há uma manifestação sobre o caso. Leia a seguir.
“O Conselho Regional de Biomedicina – 3ª Região (CRBM-3) lamenta a morte de Iris Doroteia Martins, após atendimento em clínica de estética na cidade de Divinópolis (MG), e se solidariza com a família da vítima.
O CRBM-3, dentro de suas atribuições, acompanha o caso e solicitou a instauração de processo ético-disciplinar à Comissão de Ética da entidade para apurar a conduta da profissional biomédica envolvida no episódio. Processos éticos-disciplinares correm em sigilo, como orienta a legislação da categoria (Código de Processo Ético), e podem resultar até na cassação do registro profissional.
Cabe destacar que esses processos têm etapas e prazos a serem cumpridos e que envolvem ambas as partes – Conselho e profissional -, o que justifica sua morosidade. Cabe ainda esclarecer que tanto a referida profissional quanto a empresa de sua propriedade estão regulares no CRBM-3.
O CRBM-3 tem atuado com ênfase para coibir a atuação de profissionais irregulares ou que extrapolem o que prevê cada uma das habilitações por meio da realização de procedimentos não autorizados.
Somente na cidade de Divinópolis (MG), a Fiscalização realizou um trabalho de ponta a ponta, ou seja, cobriu cem por cento dos estabelecimentos e clínicas com biomédicos na cidade, nos últimos anos. Entre o final do ano de 2021 e o ano de 2022 foram feitas 39 visitas da Fiscalização; recebidas e atendidas 17 denúncias e emitidos 98 autos de infração nesta localidade.
Para a sociedade, a orientação do CRBM-3, como em qualquer procedimento relacionado à área da saúde, é de que sejam feitas consultas públicas em relação ao profissional biomédico. No site do CRBM-3 temos um canal (https://crbm-03.implanta.net.br/ServicosOnline/Publico/ConsultaInscritos/) específico, entre outros que podem ser utilizados para obtenção de informações profissionais.”
O Terra entrou em contato com a clínica onde foi realizado o procedimento, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem.