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Mulher tem marido e filho mortos em confrontos policiais em intervalo de 9 meses: ‘Um pedaço de mim foi embora’

Pai da criança foi morta durante a Operação Verão, em fevereiro; família contesta versão de que houve confronto policial

7 nov 2024 - 12h33
(atualizado às 13h06)
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Leonel Andrade Santos e Ryan foram mortos em ações policiais em Santos
Leonel Andrade Santos e Ryan foram mortos em ações policiais em Santos
Foto: Reprodução/TV Tribuna

Uma família de Santos, no litoral paulista, vive um intenso luto. Há nove meses, Beatriz da Silva Rosa perdeu o marido, Leonel Andrade Santos, baleado por policiais durante a Operação Verão. Na noite desta terça-feira, 5, a dor da cozinheira se tornou ainda mais intensa, pois seu filho, Ryan da Silva Andrade Santos, de 4, também foi baleado e morto em uma ação policial

O caso envolvendo a criança ocorreu durante a noite, no Morro do São Bento, região periférica da cidade. A Secretaria de Segurança de Segurança Pública de São Paulo (SSP) informou ao Terra que policiais militares faziam um patrulhamento de rotina pelo local, quando foram atacados por um grupo de aproximadamente 10 criminosos. 

Houve troca de tiros e dois suspeitos foram baleados e socorridos, mas um deles, de 17 anos, não resistiu aos ferimentos. O outro segue internado sob escolta. Ryan também foi atingido na região do abdômen, e também não resistiu. Segundo a PM, o tiro que atingiu a criança pode ter sido disparado por um policial.

Embora as autoridades afirmem que se trata de uma troca de tiros com criminosos, Beatriz, de 29, contesta a versão. Em entrevista à TV Tribuna, afiliada da Rede Globo, ela diz que os policiais atiraram para cima e que não houve confronto. 

"Eu estava na rua na hora, tinha aproximadamente umas 15 crianças, eles [policiais] viram que tinha um monte de gente, um monte de morador, mesmo assim, chegaram atirando e uma bala acertou meu filho. Não teve confronto, não teve troca de tiros, que eles falam sempre assim, não teve. Eles chegaram e mataram”, declara. 

A cozinheira afirma que seu filho era um menino alegre, gostava de brincar, correr e fazer bagunça. “Eu ainda estou em estado de choque, tentando entender o que está acontecendo, porque eu não acredito. Para mim, meu filho vai se levantar dali a qualquer momento. É muito difícil, um pedaço de mim foi embora. Nada do que eles fizerem, vai trazer meu filho de volta. Tiraram a infância da criança”, desabafa. 

Mãe de Ryan e esposa de Leonel contesta a versão dada pela Polícia Militar
Mãe de Ryan e esposa de Leonel contesta a versão dada pela Polícia Militar
Foto: Reprodução/TV Tribuna

Morte do marido

Leonel tinha uma deficiência nas pernas e usava muletas. Inclusive, ele foi fotografado usando-as na noite do dia 9 de fevereiro, poucas horas antes de ser morto a tiros. De acordo com o Estadão, os PMs alegaram que ele havia apontado uma arma na direção deles, enquanto ocorria uma investigação de tráfico de drogas. Além dele, seu amigo Jeferson Miranda, de 37 anos, também foi baleado e morto. 

Beatriz cuidava dos três filhos do casal. Com a morte do menino, a viúva ficou com um casal de filhos pequenos. Em sua rede social, a mulher ainda estampava o luto pela perda do marido. "Quantas saudades eu sinto, meu menino de você, me sustenta aí de cima", escreveu. 

Em nota ao Terra, a SSP lamentou a morte de Ryan, e afirmou que as polícias Civil e Militar instauraram inquéritos para apurar os fatos. Exames periciais já foram solicitados para esclarecer a origem do disparo que atingiu a criança. Os agentes envolvidos na ocorrência estão afastados da atividade operacional.

Já com relação ao caso de Leonel, a SSP esclareceu que ele é investigado pela Deic de Santos sob sigilo determinado pela Justiça. O Inquérito Policial Militar sobre os fatos foi concluído e encaminhado ao Poder Judiciário.

Operação Verão

O pai de Ryan foi uma das 56 vítimas da Operação Verão, realizada na Baixada Santista. Após 105 dias, a ação foi encerrada em abril e teve o saldo de 1.025 prisões, 47 menores de 18 anos aprendidos, bem como 2,6 toneladas de drogas e 119 armas de fogo ilegais, segundo a SSP. As mortes pela polícia representavam uma média de 1 óbito a cada dois dias.

A ação foi criticada pela alta letalidade policial - famílias dizem haver inocentes entre os mortos. À época, o governo negou irregularidades e disse investigar os casos. O Estado também atribuiu a necessidade do policiamento ostensivo ao avanço do crime organizado na região.

A Operação Verão é investigada pelo Grupo de Atuação Especial da Segurança Pública e Controle Externo da Atividade Policial (Gaesp), do Ministério Público de São Paulo.

Fonte: Redação Terra
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