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Nível do Sistema Cantareira é menor do que em 2013

Outros 5 reservatórios também estão baixos; obras garantem abastecimento, diz Sabesp

13 jun 2018 - 03h04
(atualizado às 08h41)
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Dois anos após São Paulo decretar o fim da crise hídrica, um novo período de seca intensa baixou o nível do Sistema Cantareira a um índice menor do que o de junho de 2013, período que antecedeu a escassez de 2014/2015. Os outros cinco reservatórios da Sabesp também estão em patamar abaixo ao daquela época. A companhia afirma que as obras feitas durante a crise garantem o fornecimento de água ao menos até o fim de 2019, caso a falta de chuva persista. Especialistas dizem que o quadro não é de desespero, mas defendem controlar ainda mais o consumo.

"A entrada de água está bem abaixo das médias históricas, realmente. Só que isso não se transforma em condição pior de abastecimento", diz o superintendente de produção da água da Sabesp, Marco Antonio Lopez Barros. Com as obras, afirma, é possível fazer remanejamento de água entre os sistemas. São duas as principais obras: a que permite transferir água entre as Bacias do Jacareí e do Atibainha e o Sistema São Lourenço, que passou a tratar volume de 6,4 mil litros de água por segundo, o consumo de uma cidade como Curitiba.

Represa de Joanópolis, do sistema Cantareira, com o volume de água baixo em 2015, durante a crise hídrica
Represa de Joanópolis, do sistema Cantareira, com o volume de água baixo em 2015, durante a crise hídrica
Foto: Luis Moura / Estadão

"Os cenários que a gente tem trabalhado apontam que, mesmo com situações como a que tem acontecido nos últimos três meses, de uma seca maior do que o normal, a gente tem uma condição de atendimento praticamente até o final de 2019 sem necessidade de mudar as condições da atendimento que estão hoje", afirma o superintendente.

Nessa terça-feira, 12, o Cantareira operava com 45,7% do volume útil. Em 12 de junho de 2013, era 58,1%. Além do volume, a vazão - quantidade de água que entrou no sistema - está abaixo da média há 17 meses seguidos. Em maio, foi de cerca de um terço do esperado, 13,7 mil l/s - a média histórica do mês é de 37,5 mil l/s. O valor do mês passado é próximo ao de maio de 2014, no meio da crise, quando o volume foi de 10,1 mil /s. Os últimos três meses tiveram vazão próxima às de 2014, no auge da seca.

Outra diferença no cenário é que o consumo de água na Grande São Paulo, após medidas de combate ao desperdício e racionamento, é menor do que há cinco anos. No 1.º bimestre de 2018, a Sabesp produziu 60,9 mil l/s para atender 21 milhões de pessoas na região. No início da crise, a demanda era de 71,4 mil l/s.

Previsões

Para especialistas em hidrologia e climatologia, é cedo para falar se há risco de nova crise hídrica. Os serviços de meteorologia ainda estão terminando as previsões para os próximos meses. Os últimos dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), divulgados em meados de maio, indicavam que a estação deve trazer sua secura tradicional. Desse modo, caberá ao próximo verão a responsabilidade de reabastecer os reservatórios.

"Além da pouca chuva, o que contribuiu para a crise hídrica foi que no final de 2013 e no começo de 2014 também fez muito calor, o que aumenta a evaporação. Agora há motivo de preocupação porque real

mente a precipitação está mais baixa, mas quem vai ser determinante é o verão", explica o meteorologista Marcelo Schneider, do Inmet. A temperatura na região em janeiro de 2014 tinha sido recorde - 2,5°C acima da média histórica.

Mas se ainda não dá para prever o comportamento das próximas estações, o passado dá algumas pistas. Monitoramento que vem sendo feito desde 2013 pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) mostra que todas as estações chuvosas (outubro de um ano a março do seguinte) na bacia do Cantareira foram abaixo da média desde então, com a exceção do período entre 2015 e 1016, que ficou 7% acima. A análise é feita com 30 pluviômetros localizados em toda a bacia.

Estudos do hidrólogo Antonio Carlos Zuffo, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), também indicam que desde 2008 a região está passando por um período de menos chuvas, que pode durar mais uns 30 anos. Observando a hidrologia da região com dados desde 1910, ele notou que de tempos em tempos o volume se inverte. Segundo ele, até 1935 chovia mais; de 1936 a 1975 a média de chuva foi cerca de 10% inferior aos anos anteriores; entre 1976 e 2008, bem quando o Cantareira entrou em operação, a média voltou a subir; caindo novamente de lá para cá.

"Teremos ainda pelos próximos anos vários períodos com precipitações mais baixas, menos tempestades que levam a enchentes. De fato desde outubro tivemos a maior parte do período com chuvas abaixo da média. E esse é o período chuvoso. A tendência é o volume do Cantareira cair ainda mais até o início do próximo período chuvoso", afirma Zuffo, que também acompanha a situação do Cantareira desde o final de 2012 como consultor do consórcio PCJ.

Para ele, as obras que foram feitas pelo governo para evitar uma nova crise hídrica, como a transposição do Paraíba do Sul e a construção do sistema São Lourenço, podem compensar essa perda que ele acredita ser natural. "Mas os outros sistemas também devem ter perdas nos próximos meses", estima. "Pode ser que só as obras não sejam suficientes. E até quando vamos continuar buscando água longe? Precisamos investir na limpeza dos rios, para poder usar o Tietê para consumo, e reduzir as perdas do sistema", defende.

Para o hidrólogo, as obras podem compensar a redução de água. "Mas os outros sistemas também devem ter perdas nos próximos meses", estima. "E até quando vamos continuar buscando água longe? Precisamos investir na limpeza dos rios, para poder usar o Tietê para consumo, e reduzir as perdas do sistema."

A chefe da Divisão de Monitoramento e Alertas do Cemaden Luz Adriana Cuartas Pineda, do Cemaden, lembra que após a crise hídrica foram mudadas regras de operação do Cantareira. Agora há uma trava, que vai reduzindo o volume que pode ser extraído conforme cai a água armazenada. "Com essa restrição, mesmo chovendo menos no verão, fica mais difícil chegar ao quadro que tivemos em 2014 e em 2015. Mas ainda assim não é uma situação confortável, tem de ficar acompanhando de perto para ver como o clima vai se comportar. Se for muito extremo, temos de avaliar se só a restrição de uso será suficiente", diz.

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