Novos blocos do carnaval de rua de SP têm de música judaica a forró e Tom Zé

Dezenas de agremiações desfilam pela primeira vez nas ruas de São Paulo; programação oficial começa em 14 de fevereiro

Priscila Mengue

17 jan 2020 - 15h34

(atualizado em 13/2/2020 às 14h58)

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SÃO PAULO - O carnaval de rua de São Paulo cresce mais uma vez neste ano. Dezenas de blocos estreiam na cidade, com propostas que vão de homenagens a artistas e ritmos brasileiros, como o forró e o cantor Tom Zé, até misturas com outras culturas, como a música judaica. A programação oficial começa em 14 de fevereiro.

Um dos blocos que desfilará pela primeira vez é o Kipá-rada Jewish Bloco, que mistura músicas de festividades judaicas com canções brasileiras. "A música judaica é muito alegre. Quem já foi a um casamento, a uma festa judaica ou até viu um filme mesmo sabe que tem aquelas brincadeiras de roda, de levantar a cadeira, é sempre animado", comenta o publicitário Leonardo Mizrahi, de 33 anos.

Com 5 anos de experiência no carnaval de rua, Leonardo reuniu uma bateria com cerca de 15 pessoas. O processo de transposição das canções para ritmos como frevo, samba reggae e xote levou pouco mais de um ano. "Tem uma mistura também. No meio de uma música judaica entra um Jorge Ben, no meio de uma música do (Gilberto) Gil toca uma música judaica. Também tem paródias de músicas brasileiras com letras relacionados ao universo judaico."

O trajeto do desfile foi escolhido especialmente para passar por Higienópolis, bairro do centro expandido com forte ligação à cultura judaica. "A gente está trazendo uma ideia nova para a comunidade e para todo mundo que vive perto e que tem contato", diz. "Vai ser uma festa de bairro e para se aproximar do público. O bloco é aberto para todo mundo, para quem quer ver novas ideias, para conhecer um pouco mais da cultura judaica."

Outro bloco previsto para estrear era o Unidos do K-Pop (conforme assinalava a versão original desta matéria), criado em meio à popularização de grupos pop da Coreia do Sul e idealizado por quatro amigos que trabalham com cultura sul-coreana. O desfile foi, contudo, cancelado pelos organizadores por falta de patrocínio e mudanças na data e trajeto do bloco - reclamação comum entre os organizadores dos cerca de 30% dos desfiles cancelados.

Novos blocos homenageiam Tom Zé e forró pé de serra

Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethânia e outros tantos artistas brasileiros são tema de blocos em São Paulo. Então, por que não estender essa lista para Tom Zé? Com essa proposta, o artista plástico David Galasse, de 39 anos, reuniu amigos que já tocavam no carnaval de rua e até ex-parceiros musicais de Tom Zé para criar o Abacaxi de Irará, em referência à canção homônima e à cidade baiana em que o artista nasceu.

O grupo escolheu as cores vermelho, amarelo e verde e a temática tropical, em referência à participação de Tom Zé na Tropicália. A ideia é tocar canções de todos os períodos da carreira do artista, principalmente dos discos Estudando o Samba e Todos os Olhos, e incluindo várias que fazem referência à São Paulo, como Augusta, Angélica e Consolação. "Pela importância histórica, para a cidade, ele já merecia ter sua homenagem", defende David.

O Abacaxi de Irará desfilará por Perdizes, na zona oeste, e passará em frente ao edifício em que o músico reside. "Nosso desejo é que ele apareça no dia, desça, venha curtir com a gente, seria um sonho. Se sair na janela e dar uma flor, já seria lindo."

Já o Forró do Provolone levará zabumba, triângulo e sanfona para o carnaval paulistano, tocando Luiz Gonzaga, Dominguinhos e sucessos do forró pé de serra. Ele nasceu a partir de uma roda de forró criada no ano passado pelos mesmos organizadores do bloco Nega Fulô e o Palhaço Bebum, que desfilará pela quinta vez em 2020.

"Quando acabava o carnaval, a gente praticamente não fazia mais nada. No ano passado, a gente resolveu fazer diferente, reunir a galera na Santa Cecília e começou a fazer forró todas as quintas", conta o agente de finanças Léo Lopes, de 37 anos, um dos idealizadores do bloco.

Bloco vai misturar música judaica e canções brasileiras
Foto: Kipá-rada Jewish Bloco/Divulgação / Estadão

São Paulo terá carnaval com blocos voltados ao público infantil

O carnaval de rua também terá novos blocos voltados às famílias com crianças pequenas. Um dos estreantes nesse meio é o Fora da Casinha, criado pela produtora cultural Luísa Alves, de 35 anos. "As famílias com crianças pequenas querem uma coisa mais tranquila, porque bloquinho, às vezes, é aquele 'fervo', fica difícil ir no banheiro, às vezes não é legal", comenta.

O Fora da Casinha não terá desfile e ficará estático na Praça Rotary, no centro expandido. A ideia é facilitar que as famílias se distribuam pela área verde e tenham facilidade para se deslocar, inclusive para a minitenda com fraldário que será instalada. "As pessoas vão poder ficar no gramadinho, sem precisar estar com a cara no sol."

A principal atração do bloco é o grupo A Bandinha, que costuma se apresentar no carnaval pernambucano. Também está em planejamento a participação de brincantes no meio do público. "A banda vai tocar ritmos brasileiros, muito maracatu, muito frevo, marchinha."

Assim como outros estreantes, o Fora da Casinha também vai arrecadar fundos com venda de camisetas e financiamento coletivo, além de procurar patrocínio. "O carnaval (para crianças) ainda está engatinhando, tem algumas coisas que estão acontecendo, que acho muito louvável. Mas vejo que as famílias ainda têm muito receio de saírem nos dias de carnaval com criança, pela muvuca, pelo trânsito e tudo mais."