O que aconteceu antes de PM arremessar homem de ponte na zona sul de São Paulo?
Porta-voz da Polícia Militar diz que imagens indicam que indivíduo não oferecia nenhum risco; 13 policiais envolvidos na ocorrência foram afastados
Um agente da Polícia Militar foi flagrado arremessando, com as próprias mãos, um homem do alto de uma ponte na madrugada da segunda-feira, 2, na região de Cidade Ademar, zona sul de São Paulo.
Nesta terça-feira, 3, a corporação instaurou inquérito policial militar (IPM) e afastou 13 agentes envolvidos na ocorrência - as identidades dos envolvidos não foram reveladas. O grupo é do 24.º Batalhão de Polícia Militar (BPM), de Diadema, região metropolitana.
Segundo a corporação, os PMs fizeram o registro no sistema operacional da polícia de uma perseguição de um homem considerado suspeito, mas sem mencionar qualquer arremesso de viaduto.
PM joga homem de ponte durante abordagem em São Paulo, até o momento não se sabe se o homem sobreviveu a queda. pic.twitter.com/8WOyNI4gxc
— RayD (@rayhdiniz) December 3, 2024
No Instagram, o secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite, prometeu "severa punição" aos envolvidos. O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o comandante-geral da PM, coronel Cassio Freitas, também repudiaram o ocorrido. Para o Ministério Público, a conduta é "inadmissível".
"Uma ação desmedida, inexplicável", afirmou ao Estadão o coronel Emerson Massera, porta-voz da Polícia Militar. Segundo ele, as imagens indicam que o indivíduo não oferecia risco no momento em que foi jogado da ponte. "Sugere uma violação de direitos humanos grave."
Conforme a Polícia Militar, um grupo de 13 policiais militares tentou abordar uma moto em Diadema, mas a dupla que estava no veículo não teria atendido à voz de parada. Os agentes, então, os perseguiram por cerca de dois quilômetros e só conseguiram alcançá-los justamente onde o vídeo foi gravado, na Rua Padre Antônio de Gouveia.
"Quando fogem, eles ampliam a suspeita (de que há algo irregular). Uma coisa não justifica a outra, mas os policiais suspeitaram por algum motivo", afirmou Massera. Ainda não está claro o que teria levado à abordagem da dupla.
Segundo informações preliminares, o registro feito pelos agentes envolvidos indica que não foi encontrado nada de irregular com os dois homens durante a ocorrência. "Eles só qualificaram o colega dele (do homem agredido) e liberaram (a dupla)", disse.
Antes de os dois irem embora, porém, um dos agentes comete a ação flagrada pelo vídeo. Uma das hipóteses apuradas é que o policial militar teria arremessado um dos homens da ponte como forma de represália pela perseguição.
"A gente não sabe, nesse trajeto (da perseguição), o que aconteceu: se ofenderam os policiais, o que é muito comum", disse. "Mas, é claro, o policial não pode fazer isso. Ele tem que ter resiliência, tem que ter preparo para isso."
O homem que foi alvo da agressão do policial ainda não foi identificado, mas ele teria saído do local andando, segundo testemunhas relataram posteriormente à polícia. Não há informações sobre o estado de saúde do motociclista.
A PM disse que ainda não sabe qual foi o papel de cada agente na ocorrência. Por isso, a decisão de afastar todos os 13 agentes envolvidos, até para conseguir individualizar as condutas. "Tem a atitude do policial que praticou a ação e de todos os policiais que se omitiram", disse Massera.
Segundo ele, os PMs fizeram o registro da perseguição no sistema operacional da corporação, mas sem mencionar qualquer arremesso de viaduto. Como não foi encontrada nenhuma irregularidade com os homens que estavam na moto, a informação é que não foi registrado boletim de ocorrência junto à Polícia Civil.
Os agentes envolvidos na ocorrência estavam com câmeras corporais, segundo o porta-voz. A PM agora trabalha com três vertentes para tentar esclarecer o caso: "Primeiro, estamos procurando esse homem, que começou como um suspeito e terminou como vítima. Além disso, estamos fazendo a oitiva desses policiais e analisando as câmeras corporais."