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O que o delator do PCC morto no Aeroporto de Guarulhos contou às autoridades?

Aos promotores, Antonio Vinicius Gritzbach deu informações sobre elo da facção com futebol, imóveis e citou corrupção policial

11 nov 2024 - 16h04
(atualizado às 16h24)
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Delator do PCC executado em aeroporto levava R$ 1 milhão em joias dentro da mala, diz TV:

Morto a tiros no Terminal 2 do Aeroporto Internacional de Guarulhos, na Grande São Paulo, na sexta-feira, 8, o empresário Antonio Vinicius Lopes Gritzbach era delator de uma investigação sobre lavagem de dinheiro do Primeiro Comando da Capital (PCC).

Ex-funcionário de uma das maiores construtoras da cidade, Gritzbach também foi acusado de ter mandado matar dois integrantes da facção criminosa em 2021. Na delação, ele dá detalhes sobre o envolvimento do PCC com o futebol e o mercado imobiliário.

O empresário também falou sobre corrupção policial. Oito dias antes da execução, ele havia dado depoimento à Corregedoria da polícia, afirmando que havia sido roubado por investigadores, segundo reportagem da TV Globo. A Secretaria da Segurança Pública diz que todas as circunstâncias do caso “são investigadas”, mas não comentou as suspeitas de desvios de agentes públicos.

Gritzbach negava o envolvimento nos homicídios, mas havia admitido que ajudava a facção a lavar dinheiro com a compra de imóveis. Ele havia sido denunciado pelos assassinatos e aguardava o julgamento em liberdade.

As negociações com o Ministério Público Estadual (MPE) duraram cerca de dois anos e Gritzbach já havia dado seis depoimentos às autoridades. A deleção premiada foi homologada em abril e ele colaborava com o Ministério Público Estadual.

Gritzbach voltava de viagem quando foi atacado a tiros no Aeroporto de Guarulhos.
Gritzbach voltava de viagem quando foi atacado a tiros no Aeroporto de Guarulhos.
Foto: Ítalo Lo Re/Estadão / Estadão

Veja abaixo o que o delator falou sobre cada assunto, conforme apurado pelo Estadão:

Como a facção investia no mercado imobiliário?

Gritzbach trabalhou na Porte Engenharia e Urbanismo, responsável por erguer alguns dos prédios mais altos do Tatuapé, na zona leste paulistana. A delação premiada do empresário aponta que executivos da Porte receberam pagamento de imóveis em dinheiro em espécie e sabiam de registros de bens em que o nome do verdadeiro proprietário ficava oculto.

Em agosto, quando o Estadão publicou a reportagem sobre o assunto, a Porte Engenharia disse que não teve “conhecimento do documento da delação” e afirmou cumprir a lei. Na sexta-feira, acrescentou que Gritzbach foi “um corretor que atuou na empresa apenas entre 2014 e 2018″ e disse seguir à disposição para contribuir com as investigações.

O delator apresentou aos promotores cópias de mensagens que teriam sido trocadas com diretores da empresa. Gritzbach chegava a ganhar R$ 1 milhão de comissão por mês.

A construtora é alvo de investigação do Ministério Público por suspeita de ter vendido mais de uma dezena de imóveis para traficantes do PCC no Tatuapé. Conforme o Estadão revelou, a facção tem investido em imóveis de luxo na região, além de carros importados, bitcoins, fintechs e distribuição de combustível para lavar dinheiro.

Os bandidos também teriam lavado dinheiro adquirindo casas na Riviera de São Lourenço, litoral norte do Estado.

O que PCC tinha a ver com jogadores de futebol?

Promotores do Ministério Público Estadual têm em mãos mensagens, contratos e o depoimento de Gritzbach, que acusava dirigentes ligados a empresas que cuidam da carreira de jogadores de futebol de lavar dinheiro do PCC.

Os crimes investigados por enquanto não têm relação com atletas, cartolas e clubes, mas o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MPE apura se a origem dos recursos para a negociação de atletas foi o narcotráfico.

No acordo de delação, Gritzbach trata da atuação do empresário de futebol Danilo Lima de Oliveira, o Tripa, da Lion Soccer Sports. Ele ainda teria participação na UJ Football Talent. Quando o Estadão revelou a investigação, em agosto, a Lion não foi localizada.

Empresário executado pediu mais segurança ao MP para colaborar em investigação contra o PCC:

Outro empresário apontado pelo delator como ligado à lavagem de dinheiro é Rafael Maeda Pires, o Japa do PCC, que teria participado do cotidiano das decisões da FFP Agency Ltda, do empresário Felipe D’Emílio Paiva.

Procurada, a FFP disse não ter conhecimento da delação. O Japa do PCC, por sua vez, foi assassinado em 2023.

Quais são as denúncias de corrupção na polícia?

Na delação, o empresário entregou aos promotores do Gaeco um áudio de 4 minutos e 59 segundos de duração com denúncias de corrupção policial.

A conversa se dá entre um investigador não identificado que trabalhava no Departamento Estadual de Investigações sobre Narcóticos (Denarc) e o advogado Ahmed Hassan, o Mude, acusado de ser ligado à cúpula da facção, e foi gravada pelo próprio Gritzbach sem o conhecimento dos outros dois no escritório dele.

Estadão não conseguiu localizar o advogado, que sempre negou as acusações quando foi ouvido pela polícia.

Além da denúncia apresentada ao Gaeco, segundo reportagem da TV Globo, oito dias antes de ser executado, Gritzbach tinha denunciado à Corregedoria da Polícia Civil que havia sido roubado por investigadores.

Delator do PCC se recusou a entrar em programa de proteção por estilo de vida, diz promotor:

À Corregedoria, conforme a emissora, ele contou que quando foi preso, no início de 2022, acusado de mandar matar um integrante do PCC, policiais levaram uma bolsa com R$ 20 mil de sua casa e uma caixa com uma coleção de relógios luxuosos. O estojo foi devolvido, mas com cinco relógios a menos.

Ainda segundo a reportagem, o empresário reconheceu um desses relógios em fotos nas redes sociais de um dos policiais. As imagens, segundo o delator, foram apagadas depois da denúncia.

O que ele dizia sobre assassinato de chefão do tráfico?

Ao MP, Gritzbach também deu informações sobre o assassinato de um dos principais traficantes do PCC. Anselmo Bechelli Santa Fausta, conhecido como Magrelo ou Cara Preta, foi assassinado em 27 de dezembro de 2021 em uma emboscada no Tatuapé.

O empresário negava ser mandante da execução de Cara Preta e também de Sem Sangue, que fazia a segurança do chefe da facção.

Segundo o Estadão apurou, ele mencionou corrupção policial e suspeita de pagamento de propina na investigação da morte de Cara Preta. Procurada pela reportagem, a Secretaria da Segurança Pública ainda não se manifestou sobre esse caso.

Gritzbach dizia que conheceu Cara Preta porque ele seria dono de dois apartamentos no Tatuapé que foram vendidos por um corretor de imóveis que ele conhecia.

Ligado ao envio de drogas para a Europa, Cara Preta era ainda acionista da empresa de ônibus UPBUs. Em apenas 9 meses de 2020, Cara Preta movimentou R$ 160 milhões em contas bancárias, conforme relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). A direção da UPBUs nega ter lavado dinheiro do PCC.

O empresário Antonio Vinícius Lopes Gritzbach foi morto a tiros no Aeroporto Internacional de Guarulhos
O empresário Antonio Vinícius Lopes Gritzbach foi morto a tiros no Aeroporto Internacional de Guarulhos
Foto: Reprodução

Recompensa de R$ 3 milhões e plano de morte

No acordo de delação, o empresário também contou sobre uma oferta milionária entre os bandidos pela sua cabeça. Gritzbach entregou aos promotores um áudio em que o advogado Mude, segundo ele ligado à cúpula da facção, falava do prêmio. A ação contaria com a anuência da cúpula do PCC.

No bate-papo por telefone, Mude concorda em aumentar o prêmio de R$ 300 mil para R$ 3 milhões pela morte do empresário. Ele é acusado de elo com os chefes da facção. A reportagem não conseguiu localizar o advogado, que sempre negou as acusações quando ouvido pelas autoridades. A conversa foi gravada pelo próprio Gritzbach sem o conhecimento dos outros dois no escritório dele.

A Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou que “todas as circunstâncias do caso são investigadas”. Em nota, afirmou ainda que “as corregedorias das polícias Civil e Militar apuram a atuação de seus agentes no caso.”

Estadão
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