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O que se sabe sobre o atentado à sede do Porta dos Fundos

Edifício onde são feitas as gravações do canal de humor foi atacado com coquetéis molotov na última terça-feira. Polícia investiga o caso como vandalismo e tentativa de homicídio.

26 dez 2019 - 17h54
(atualizado às 19h10)
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A Polícia Civil do Rio de Janeiro disse estar investigando o ataque à produtora do canal Porta dos Fundos como vandalismo e tentativa de homicídio. Informou ainda que a possibilidade de o caso ser classificado como ato de terrorismo ainda depende da obtenção de mais informações sobre as razões do atentado.

"A polícia precisa de um tempo de maturação de todas as provas que estão sendo coletadas para que a ação seja técnica. Não podemos trabalhar com suposições, temos que trabalhar com fatos comprovados", disse Marco Aurelio de Paula Ribeiro, delegado titular da 10ª DP, responsável pelo caso.

O Porta dos Fundos foi bastante criticado por um filme exibido pelo Netflix em que Jesus é retratado como homossexual
O Porta dos Fundos foi bastante criticado por um filme exibido pelo Netflix em que Jesus é retratado como homossexual
Foto: Divulgação / BBC News Brasil

As gravações do canal de humor são feitas em um edifício no Humaitá, na Zona Sul do Rio, que foi atacado por pelo menos quatro pessoas na madrugada da última terça-feira (24/12).

Imagens de câmeras de segurança obtidas pela TV Globo mostram que os autores do crime estavam um carro e uma moto e lançaram coquetéis molotov contra a sede do Porta dos Fundos.

Em um vídeo da rede interna da produtora, um segurança que estava na portaria do edifício no momento do ataque aparece assustado com as bombas caseiras e busca um extintor para apagar as chamas. Ninguém ficou ferido.

"Pela análise das imagens, verificamos que houve de fato um perigo concreto contra o segurança que estava no local, o que por si só caracteriza uma tentativa de homicídio, que só não morreu por uma circunstância alheia à vontade dos autores", disse Fabio Barucke, subsecretário de Planejamento e Integração Operacional do governo do Estado do Rio.

Por que houve um ataque?

O Porta dos Fundos foi bastante criticado em razão de filme "A primeira tentação de Cristo", exibido pelo serviço de streaming Netflix em que Jesus é retratado como homossexual.

Desde o início do canal, em 2013, o Porta dos Fundos lança todos os anos um especial de Natal. O grupo ganhou um Emmy Internacional de Melhor Comédia com a edição de 2018, "A Última Ressaca", também exibida no Netflix. Na sátira, os apóstolos acordam de ressaca no dia seguinte à última ceia e percebem que Jesus Cristo sumiu.

Grupos cristãos protestaram contra a produção por entenderem que é ofensivo à sua fé. Um abaixo assinado criado na plataforma Change.org, que pede a proibição da veiculação do filme, tem 2,3 milhões de assinaturas.

Acredita-se que o ataque esteja relacionado ao filme e à repercussão negativa.

Grupos cristãos protestaram contra o filme por entenderem que é ofensivo à sua fé
Grupos cristãos protestaram contra o filme por entenderem que é ofensivo à sua fé
Foto: Divulgação / BBC News Brasil

Em nota, o Porta dos Fundos afirmou que "gostaria de reforçar nosso compromisso com o bom humor e declarar que seguiremos mais fortes, mais unidos, inspirados e confiantes de que o Brasil sobreviverá a essa tempestade de ódio, e o amor prevalecerá junto com a liberdade de expressão."

O ator Fábio Porchat, um dos fundadores do canal, repudiou o ataque em um post publicado nas redes sociais: "Não vão nos calar. Nunca! É preciso estar atento e forte".

Em entrevista ao jornal O Globo, ele disse que "esse tipo de intolerância tem se mostrado cada vez mais comum".

"Se não identificarmos esses terroristas, isso pode soar como um aval para que mais atentados sejam encorajados a acontecer. O país e o Estado precisam mostrar que não aceitamos ataques violentos de qualquer espécie contra quem quer que seja. Contra o presidente, contra o Porta dos Fundos ou contra você", afirmou.

No entanto, a polícia disse que, a princípio, o caso não é tratado como terrorismo. "Não descartamos qualquer hipótese, mas não temos como deduzir a intenção dos agentes", disse Barucke.

Segundo a lei 13.260, de 2016, que trata deste tipo de crime, "o terrorismo consiste na prática por um ou mais indivíduos dos atos previstos neste artigo, por razões de xenofobia, discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia e religião, quando cometidos com a finalidade de provocar terror social ou generalizado, expondo a perigo pessoa, patrimônio, a paz pública ou a incolumidade pública".

O delegado responsável pelo caso disse que "existe a possibilidade" de que seja um ato de terrorismo, mas, como a investigação ainda está no início, não é possível ter certeza sobre a causa.

"Todas as hipóteses serão investigadas. Esperamos que isso sirva como um freio inibidor de outros atos que porventura possam estar sendo planejados", disse Ribeiro.

Quem são os autores?

A polícia afirmou que já identificou as características físicas dos envolvidos e os donos dos veículos usados. Por enquanto, trabalha com a participação de quatro indivíduos, mas não descarta que outras pessoas possam ter colaborado.

"Por enquanto, tudo será mantido em sigilo, mas os suspeitos serão intimados e ouvidos para identificar os possíveis autores", disse Barucke.

Em vídeo divulgado na internet, três mascarados que dizem fazer parte do "Comando de Insurgência Popular Nacionalista da Grande Família Integralista Brasileira" leem um manifesto no qual assumem a autoria do ataque.

Na gravação, eles aparecem em frente a uma bandeira do integralismo, um movimento brasileiro de extrema-direita de inspiração fascista, e atrás de uma mesa coberta com a bandeira do Brasil império.

Eles afirmam que cometeram o atentado para "justiçar os anseios de todo povo brasileiro contra a atitude blasfema, burguesa e antipatriótica que o grupo de militantes marxistas Porta dos Fundos tomou quando produziu o Especial de Natal a mando da mega corporação bilionária Netflix".

No entanto, a Frente Integralista Brasileira (FIB) afirmou em nota divulgaa nesta quinta-feira não ter ligação com o ataque e que o uso de máscaras é "proibido para fins de militância" e constitui uma "atitude anti-integralista".

"O grupo em questão é desconhecido pela FIB e não possuímos com ele qualquer relação", disse a FIB.

"Não temos certeza sobre a autenticidade do vídeo, e por isso não descartamos a possibilidade de ter sido um material forjado com o fim de incriminar os integralistas."

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