Script = https://s1.trrsf.com/update-1731009289/fe/zaz-ui-t360/_js/transition.min.js
PUBLICIDADE

Ocupação na Câmara Municipal do Rio completa uma semana

16 ago 2013 - 20h38
(atualizado às 20h38)
Compartilhar
Exibir comentários
<p>Os manifestantes n&atilde;o revelam nomes nem fornecem informa&ccedil;&otilde;es pessoais como endere&ccedil;o, ocupa&ccedil;&atilde;o e idade para n&atilde;o &quot;individualizarem o movimento&quot;</p>
Os manifestantes não revelam nomes nem fornecem informações pessoais como endereço, ocupação e idade para não "individualizarem o movimento"
Foto: Tânia Rêgo / Agência Brasil

Entre lustres e móveis históricos do Palácio Pedro Ernesto, 11 manifestantes completaram nesta sexta-feira uma semana de ocupação na Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Com uma lista de nove reivindicações, o grupo diz estar aberto a negociá-las para deixar o prédio. A Câmara reafirmou que não tem como atendê-las.

Os manifestantes não revelam nomes nem fornecem informações pessoais como endereço, ocupação e idade para não "individualizarem o movimento" e pedem para serem chamados de Amarildo, em referência ao ajudante de pedreiro Amarildo de Souza, desaparecido desde o dia 14 de julho após ter sido levado por policiais militares para averiguação na Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Rocinha. Eles são mantidos à base de doações que são entregues aos que estão fora da Casa, grupo maior que está desde a primeira sessão da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Ônibus, na sexta-feira passada, acampado nas escadarias e na Cinelândia. No grupo dentro da Câmara, há um voluntário da Mídia Ninja.

"Nossa ideia é não permitir nenhuma mitificação ou glorificação dos nossos nomes. Algumas pessoas passam lá fora e gritam que somos heróis. É isso que não queremos. Nem de longe somos isso", explicou um jovem manifestante, que se identificou como Amarildo de Santa Cruz.

O grupo pede que a comissão seja reformulada, com a saída de quatro vereadores que a integram, mas foram contra sua criação. São eles: Chiquinho Brazão (PMDB), o presidente; Jorginho da SOS (PMDB); Renato Moura (PTC) e Professor Uoston (PMDB), o relator. Outro pedido dos manifestantes é que o vereador Eliomar Coelho (Psol), proponente da CPI, seja o presidente. Eles reivindicam ainda que todas as reuniões sejam amplamente divulgadas e feitas em locais com participação popular irrestrita, que o regimento da Câmara seja mudado para permitir manifestações dentro da Casa e que uma possível desocupação ocorra respeitando a integridade física dos participantes.

"O que a gente garante é que se todas as pautas forem cumpridas, a gente sai. Mas estamos abertos a negociações", disse o jovem.

Para conceder entrevista, o grupo debateu por cerca de 30 minutos e escolheu dois porta-vozes. Para fazer as fotos, foram mais alguns minutos de reunião. Desde o início da ocupação, as discussões têm feito parte da rotina de quem está acampado dentro e fora da Câmara.

"Lá fora, eles fazem a abertura e o fechamento do dia, com discussões às 8h e às 22h, e grupos de trabalho temáticos. Tem gente que cuida da segurança, da alimentação, do almoxarifado, para ver os cartazes e essas coisas, e da comunicação, atualizando nossa página no Facebook. Aqui dentro, a gente senta e discute quando surge uma demanda", conta outro jovem, que se identificou como Amarildo de Bangu.

A permanência da ocupação foi tema de exaustivas discussões até a noite de sábado, quando a maioria dos mais de 40 que haviam dormido na Câmara de sexta para sábado decidiu sair, depois de quatro horas de debate. Quinze continuaram, número que foi diminuindo ao longo da semana. Chão frio, colchonetes finos, falta de chuveiros e impossibilidade de um "banho de sol" são as principais dificuldades relatadas pelos manifestantes.

"Mas o que nos cansa mais é o diálogo não avançar. Se estivéssemos com todas as dificuldades práticas, mas tendo um diálogo construtivo, nos sentiríamos melhor. E tem também a expectativa de que a qualquer momento podem tentar nos tirar daqui", diz uma manifestante, contando que um esquema de vigilância foi organizado durante a noite, com o rodízio de quem ficará acordado. Segundo eles, além de policiais e guardas internos da Câmara, seguranças particulares dos vereadores também circularam pelo prédio nos últimos sete dias.

A página do movimento no Facebook, a "Ocupa Câmara Rio", tem mais de 3,2 mil seguidores, e é usada para divulgar as reivindicações e pedir doações de comida, cobertor e colchonete, entre outros itens. De acordo com outra manifestante, que prefere ser chamada de Amarildo e estava do lado de fora da Câmara, as doações chegam em dinheiro, refeições e lanches. "Muita gente que trabalha aqui no centro vem para ajudar. Quem vai para casa todos os dias também traz bolsas e evita comer aqui, para economizar".

Lanches como pães e biscoitos são as principais refeições. Entre os integrantes, há dois veganos, que não comem nada de origem animal, e três vegetarianos, que têm mantido a dieta com a ajuda das doações.

Do lado de fora da Câmara, 15 barracas, duas tendas e três lonas abrigam os manifestantes. Cartazes com diversas bandeiras fazem um mosaico de reivindicações - contra a corrupção, pedidos de renúncia do governador Sérgio Cabral, questionamentos sobre onde está Amarildo, além de pautas feministas, rejeições aos leilões de petróleo, críticas às remoções no Jardim Botânico e defesa dos direitos dos taxistas, camelôs e animais.

Por meio de nota divulgada pela assessoria de comunicação, a Câmara Municipal reafirmou que não tem como atender às demandas dos manifestantes que ocupam o Palácio Pedro Ernesto, "por representarem prática de ilegalidade e descumprimento do que estabelece a legislação em vigor - o regimento interno, a Lei Orgânica Municipal e a Constituição Federal".

O posicionamento da Câmara é o mesmo apresentado pelo presidente da Casa, vereador Jorge Felippe (PMDB), durante reunião no sábado passado com a comissão de manifestantes. Dos cinco itens da pauta de reivindicações, o único que Jorge Felippe informou que poderá atender é o que trata da programação e divulgação com antecedência de todas as reuniões da Câmara, além da garantia de participação popular irrestrita nas sessões.

Protestos contra tarifas mobilizam população e desafiam governos de todo o País
Mobilizados contra o aumento das tarifas de transporte público nas grandes cidades brasileiras, grupos de ativistas organizaram protestos para pedir a redução dos preços e maior qualidade dos serviços públicos prestados à população. Estes atos ganharam corpo e expressão nacional, dilatando-se gradualmente em uma onda de protestos e levando dezenas de milhares de pessoas às ruas com uma agenda de reivindicações ampla e com um significado ainda não plenamente compreendido.

A mobilização começou em Porto Alegre, quando, entre março e abril, milhares de manifestantes agruparam-se em frente à Prefeitura para protestar contra o recente aumento do preço das passagens de ônibus; a mobilização surtiu efeito, e o aumento foi temporariamente revogado. Poucos meses depois, o mesmo movimento se gestou em São Paulo, onde sucessivas mobilizações atraíram milhares às ruas; o maior episódio ocorreu no dia 13 de junho, quando um imenso ato público acabou em violentos confrontos com a polícia.

A grandeza do protesto e a violência dos confrontos expandiu a pauta para todo o País. Foi assim que, no dia 17 de junho, o Brasil viveu o que foi visto como uma das maiores jornadas populares dos últimos 20 anos. Motivados contra os aumentos do preço dos transportes, mas também já inflamados por diversas outras bandeiras, tais como a realização da Copa do Mundo de 2014, a nação viveu uma noite de mobilização e confrontos em São PauloRio de JaneiroCuritibaSalvadorFortalezaPorto Alegre e Brasília.

A onda de protestos mobiliza o debate do País e levanta um amálgama de questionamentos sobre objetivos, rumos, pautas e significados de um movimento popular singular na história brasileira desde a restauração do regime democrático em 1985. A revogação dos aumentos das passagens já é um dos resultados obtidos em São Paulo e outras cidades, mas o movimento não deve parar por aí. “Essas vozes precisam ser ouvidas”, disse a presidente Dilma Rousseff, ela própria e seu governo alvos de críticas.

Agência Brasil Agência Brasil
Compartilhar
Publicidade
Seu Terra












Publicidade