Operação prende PM suspeito de matar delator do PCC e mais 14 policiais da escolta de Gritzbach
Suspeito de atirar em Antônio Vinicius Gritzbach foi detido pela Corregedoria; mais 14 agentes foram por fazerem parte da segurança pessoal do empresário. Defesas
A Corregedoria da Polícia Militar prendeu nesta quinta-feira, 16, o PM suspeito de ser um dos assassinos do delator do Primeiro Comando da Capital (PCC) Antônio Vinicius Lopes Gritzbach, executado em novembro no Aeroporto Internacional de Guarulhos, na Grande São Paulo. Segundo o Estadão apurou, o detido é o cabo Dênis Antônio Martins.
A operação desta quinta também prendeu mais 14 policiais que faziam parte da escolta do delator, apontada como ilegal pela Secretaria da Segurança Pública. Nem todos esses agentes, porém, estavam no dia do assassinato.
O Estadão não conseguiu localizar a defesa de Martins, de 40 anos. A polícia disse ainda investigar quem é o segundo atirador, a possível relação de outro PM com o crime e quem é o mandante - a suspeita é que seja do PCC.
Dos outros 14 policiais (veja a lista mais abaixo), o Estadão conseguiu localizar a defesa de quatro agentes, mas o advogado responsável disse que ainda não iria se posicionar. O secretário da Segurança, Guilherme Derrite, afirmou que esses policiais já eram investigados pela Corregedoria da PM em processo instaurado em abril de 2024, que apura o envolvimento de agentes das forças de segurança com o PCC.
A investigação chegou ao policial militar apontado como atirador por meio de um trabalho de reconhecimento facial com base nas imagens do dia do ataque. Os 14 policiais da escola já estavam afastados desde a época do assassinato.
"Conseguimos identificar, qualificar e foi só o tempo de solicitar à Justiça a prisão daqueles que realizavam essa escolta, que era uma escolta ilegal, é um serviço para um criminoso, isso jamais pode ser admitido. É um serviço para um indivíduo que era réu em duplo homicídio e tinha participações com o crime organizado", disse Derrite.
No total, foram cumpridos 14 mandados de prisão preventiva, um de prisão temporária (contra o possível atirador) e outros 7 de busca e apreensão em endereços na capital e Grande São Paulo. Esses são os policiais que faziam parte da escolta de Gritzbach, segundo a investigação:
- Erick Brian Galioni (soldado)
- Jefferson Silva Marques (soldado)
- Leandro Ortiz (cabo)
- Giovanni de Oliveira Garcia (1º tenente)
- Talles Rodrigues Ribeiro (soldado)
- Alef de Oliveira Moura (soldado)
- Julio Cesar Scalett Barbini (cabo)
- Abraão Pereira Santana (soldado)
- Samuel Tillvitz da Luz (soldado)
- Leonardo Cherry de Souza (cabo)
- Adolfo Oliveira Chagas (soldado)
- Wagner de Lima Compri Eicardi (cabo)
- Romarks Cesar Ferreira de Lima (cabo)
- Thiago Maschion Angelim da Silva (1º tenente)
Polícia acredita que mandante era membro da facção
A prisão de Dênis Antonio Martins não foi pela acusação de homicídio, mas por outro crime apontado pela Corregedoria: o de reunião com militares com armamento ou material bélico para praticar violência, conforme o artigo 150 do Código Penal Militar.
"Ele (o suspeito de ser atirador) foi preso por um crime antecedente, um crime preparatório, que está previsto no Código Penal Militar. Ele é suspeito do homicídio e a continuidade da investigação será feita pelo DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa, que está à frente da investigação)", disse o corregedor da PM, coronel Fábio Amaral.
Essa foi uma maneira de a Corregedoria pedir a prisão sem invadir a competência da Polícia Civil. Mais tarde, o DHPP pediu a prisão do cabo Dênis Antônio e mais duas pessoas que teriam ajudado na execução.
"Com a prisão de um dos atiradores, a investigação do homicídio e do mandante vai prosperar muito e muito rápido. Temos quebras (de sigilo telefônico) que nos levam a outras pessoas, que não são policiais militares. Quanto aos mandantes, temos duas linhas de investigação, ambas (de que o mandante seria membro) da facção", completou Ivalda Aleixo, diretora do DHPP.
Um dos outros pedidos de prisão feitos pela Polícia Civil mira a modelo Jackeline Moreira, apontada como namorada de um suspeito de ser olheiro do PCC. Além de indícios de que ela teria ajudado o namorado a ocultar provas das autoridades, o DHPP acredita que ela também agia no tráfico de drogas.
Governo enfrenta crises na área de segurança
Nas redes sociais, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), disse que desvios de conduta serão severamente punidos e submetidos ao rigor da lei. A execução do delator no aeroporto - acompanhada de denúncias de elo de policiais com o PCC - foi uma das crises da gestão Tarcísio na área da segurança nos últimos meses.
O governo também tem sido pressionado pelo aumento do número de mortes pela PM. Entre os casos de repercussão, estão o assassinato de um estudante de Medicina em um hotel na zona sul da capital paulista e de um garoto de quatro anos em uma favela de Santos.
Começamos o dia com passo importante para solucionar de vez a execução de Vinícius Gritzbach. Operação Prodotes, deflagradas pela corregedoria da PM, com 15 mandados de prisão preventiva e sete mandados de busca e apreensão, já prendeu 14 criminosos. Entre eles, um dos atiradores… pic.twitter.com/DdhO3ndx6K
— Tarcísio Gomes de Freitas (@tarcisiogdf) January 16, 2025
Quem era o delator executado em Guarulhos
O empresário Antonio Vinicius Lopes Gritzbach estava no centro de uma das maiores investigações feitas até hoje sobre a lavagem de de dinheiro do PCC em São Paulo, envolvendo os negócios da facção na região do Tatuapé, zona leste paulistana.
Sua trajetória está associada à chegada do dinheiro do tráfico internacional de drogas ao PCC. Ele fechara acordo de delação premiada em abril. Em reação, a facção pôs um prêmio de R$ 3 milhões pela sua cabeça.
Gritzbach era um jovem corretor de imóveis da construtora Porte Engenharia quando conheceu o grupo de traficantes de drogas de Anselmo Bechelli Santa Fausta, o Cara Preta. Vinícius Gritzbach foi demitido pela empresa em 2018.
Foi a acusação de ter mandado matar Cara Preta, em 2021, que motivou a primeira sentença de morte contra ele, decretada pela facção.
Para a polícia, Gritzbach havia sido responsável por desfalque em Cara Preta de R$ 100 milhões em criptomoedas e, quando se viu cobrado pelo traficante, decidira matá-lo. O empresário teria contratado Noé Alves Schaum para matar o traficante.
O crime aconteceu em 27 de dezembro de 2021. Além de Cara Preta, o atirador matou Antonio Corona Neto, o Sem Sangue, segurança do traficante. Conforme as investigações, Schaum foi capturado pelo PCC em janeiro de 2022, julgado pelo tribunal do crime e esquartejado por um criminoso conhecido como Klaus Barbie, referência ao oficial nazista que atuou na França ocupada na 2ª Guerra, onde se tornou o Carniceiro de Lyon.