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Pacientes de comunidades terapêuticas em São Paulo denunciam torturas e agressões

Rotina é marcada por agressões físicas e psicológicas à dependentes químicos em comunidade não regularizadas em SP

27 nov 2023 - 10h34
(atualizado às 11h04)
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Comunidades terapêuticas são denunciadas por maus-tratos
Comunidades terapêuticas são denunciadas por maus-tratos
Foto: Reprodução/TV Globo

Agressões, torturas e assassinatos estão entre os relatos de pacientes em comunidades terapêuticas para dependentes químicos, exibidos pelo Fantástico, da TV Globo, neste domingo, 26. Muitos desses locais, que deveriam ajudar essas pessoas, não têm licença para funcionar, e já chegaram a ser interditados. 

Em uma das unidades da Comunidade Terapêutica Kairós Prime, localizada em Embu-Guaçu, na Região Metropolitana de São Paulo, teve um dos pacientes assassinado, conforme aponta a reportagem. Onésio Ribeiro Pereira Júnior, de 38 anos, foi espancado e chegou ao hospital sem vida. Ele tinha marcas de violência nos braços, nas pernas, no pescoço e no peito. 

A irmã dele, que não teve a identidade revelada, informou que a vítima foi internada três vezes, sendo duas dela de maneira voluntária. Na última, o rapaz não queria ir. "Ele gritava que se ele fosse internado, ele iria morrer lá dentro. Eu falava: 'pode parar, eu não quero saber'. Ele mentia tanto para a gente quando consumia droga, que a gente não acreditava mais no que ele falava. Jamais eu iria mandar ele para lá sabendo que ia acontecer isso", declarou. 

No dia 25 de setembro, ela recebeu uma chamada de vídeo de dentro da unidade, na qual seu irmão aparecia em uma camisa de força, chorando muito. “Falaram: 'seu irmão tentou fugir'”, descreveu. Algumas horas depois, ela recebeu uma nova ligação, na qual avisavam que ele tinha passado mal, e estava sendo socorrido para o hospital. 

O diretor da unidade de saúde informou a ela que Onésio havia chegado ao local já morto. "O seu irmão foi assassinado. Seu irmão não passou mal". O delegado responsável pelo caso, Júlio Teixeira, afirmou que o rapaz ficou sofrendo as agressões por quase uma hora. 

"Barras de ferro, pés de mesa, tacos de sinuca. Ele ficou 40/50 minutos sofrendo um espancamento com esses objetos em uma camisa de força", esclareceu. Durante a investigação, o dono da Kairós, quatro monitores e um enfermeiro foram presos pelo crime. 

Ao programa, o advogado da Comunidade Terapêutica Kairós afirmou que os envolvidos nos casos de tortura já foram identificados e demitidos, e os nomes, repassados para a polícia.

Outras denúncias

Em outra unidade da Kairós, um homem aparece em um vídeo amarrado, e sendo agredido por sete homens e um cachorro. O comerciante de 42 anos foi espancado  com pedaços de madeira, e arrastado para dentro da unidade. 

Em uma das unidades femininas da comunidade, em Juquitiba, litoral de São Paulo, uma mulher afirma ter sofrido diversas violência durante a sua internação por dependência a medicação, entre dezembro e março deste ano. "A minha prima procurou uma pela internet, e a Kairós é realmente muito bonita. A partir do portão para dentro, as coisas mudam. Sabe o sistema de cadeia?", detalhou. 

Ela relatou que as pacientes eram submetidas a castigos diários, caso não fizessem o que era mandado. Elas eram obrigadas a ficar confinadas em 'quadrado', e até agredidas com golpes de mata-leão. 

"Ou você entra no sistema, ou vai tomar 'gogó', que é o mata-leão. O gogó, geralmente, é dado na frente de todo mundo, para todo mundo ver. Você não sente dor, você apaga", afirmou. 

A equipe do Fantástico chegou a ir até o local, mas a dona se recusou a dar entrevista ou enviar qualquer posicionamento sobre os casos de violência.

81 estabelecimentos irregulares 

A TV Globo aponta que a região de São Lourenço, Itapecerica da Serra, Juquitiba e Embu-Guaçu tem 24 unidades terapêuticas regularizadas. E nos últimos anos, 81 estavam irregulares ou eram clandestinas, e por isso, foram interditadas. Entre 2021 e 2023, o Ministério Público recebeu 61 denúncias sobre essas comunidades. 

"São verdadeiros depósitos de seres humanos, sem nenhum cuidado, nenhuma assistência específica, sem higiene. São locais onde há violações severas dos direitos humanos", afirmou o promotor Alexandre Acerbi. 

Como na região é comum que haja comunidades terapêuticas, as que são fechadas, reabrem em outros endereços, e até, outros nomes. Uma força-tarefa foi criada para acabar com essas comunidades irregulares. 

Fonte: Redação Terra
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