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Padre liga ação da GCM a início de tumulto na Cracolândia

Lancelotti diz que moradores de rua foram proibidos de se proteger da chuva em estação; versão oficial é de agressão contra guardas

9 dez 2020 - 22h16
(atualizado em 10/12/2020 às 08h06)
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O padre Julio Lancelotti, da Pastoral Povo da Rua, afirma que o arrastão registrado na Cracolândia aconteceu após guardas-civis impedirem que usuários de droga ficassem sob a marquise da Estação Júlio Prestes para se proteger da chuva de granizo que atingia o centro de São Paulo. O relato contraria a versão oficial de que o tumulto teria iniciado porque dependentes químicos agrediram GCMs.

Padre Julio Lancelotti
Padre Julio Lancelotti
Foto: Reprodução / Estadão Conteúdo

O episódio mais recente de conflito na Cracolândia aconteceu na tarde de terça-feira, 8. Um grupo que estava no entorno da Praça Princesa Isabel depredou ao menos seis veículos, invadiu carros e saqueou motoristas.

O tumulto durou cerca de 20 minutos até ser controlado pela Polícia Militar, que mantém uma base na área e também atuou no conflito, sem que ninguém tenha sido preso. Na região, comerciantes dizem ainda temer novos ataques.

O arrastão foi filmado por testemunhas. "O que está sendo divulgado é só uma parte da narrativa", diz o padre Julio Lancelotti, que atua no acolhimento de moradores de rua, entre eles frequentadores da Cracolândia. "Quando começou a chuva, muitos procuraram proteção na marquise da Júlio Prestes, mas a GCM (Guarda Civil Metropolitana) atacou para que não entrassem." Nas redes sociais, ele publicou vídeo que reforçaria a versão, mas não flagra o suposto ataque da GCM. As imagens mostram guardas-civis protegendo a Estação, que fica perto do "fluxo", onde os usuários de drogas se concentram. Ao fundo, é possível ouvir o som aparentemente de bomba.

Para ele, o episódio não justifica o ataque contra motoristas, mas precisa ser considerado na busca por soluções. "O tratamento violento gera resposta violenta. Precisamos entender por que chegamos a um ponto tão dramático", diz. "Chama a atenção que a Polícia Militar estava a 100 metros do local do arrastão. Pessoas eram atacadas e havia um crime acontecendo. Por que não interveio?"

Secretário executivo da PM, o coronel Alvaro Batista Camilo defende que a atuação foi "rápida", embora os policiais não tenham conseguido pegar os criminosos em flagrante. Ontem, um inquérito foi instaurado para identificar os autores, segundo a Secretaria da Segurança Pública (SSP).

"A polícia já está capilarizada e, quando foi acionada, rapidamente colocou ordem. Entre o começo da ação e tudo ser restabelecido, durou cerca de 20 minutos", afirma. "O arrastão não visava as pessoas e ninguém ficou ferido. Eles queriam os bens, principalmente celular, para trocar por drogas."

Segundo ele, o efetivo policial e o patrulhamento direto também foram reforçados após o caso. Dados da pasta mostram, ainda, mais de 1.270 prisões na Cracolândia nos últimos dois anos, além da apreensão de 3,6 toneladas de droga e 15 armas de fogo.

"O problema da Nova Luz é complexo. Se fosse simples, já estava resolvido", diz Camilo. "Não é um problema só de polícia, precisa de um trabalho conjunto da área de Assistência Social e de Saúde no tratamento e acolhimento dessas pessoas."

Em nota, a Secretaria de Segurança Urbana, responsável pela GCM, diz que o "fluxo" havia sido transferido da Rua Dino Bueno para a Alameda Cleveland, por retirar materiais de demolições em uma quadra da região. "A ação foi informada e combinada previamente", diz.

A pasta contesta a versão do padre. "A GCM iniciou a operação, que ocorria dentro da normalidade, no entanto, um grupo de frequentadores passou a arremessar pedras, paus e outros objetos na direção dos agentes públicos. A injusta agressão precisou ser contida para preservar a segurança de todos na região." Também segundo a pasta, a GCM "reforçou o policiamento fixo" e "intensificou as rondas" na área.

Medo

Comerciantes da área se dividem entre medo e resignação. "A sensação é horrível, a gente vive inseguro", diz uma lojista, que não quis se identificar. "Precisa ter alarme e barra de ferro na porta porque é daqui que tiro meu sustento."

Trabalhando perto do local do arrastão, Leonardo da Silva, de 47 anos, diz já estar "bem acostumado". "Não pode deixar nada fácil porque levam."

Estadão
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