Pai afirma que MC morreu após sofrer agressões de policiais militares em SC
Jhonatan Votri, conhecido como MC Jotta V, morreu após contar em um vídeo ter sido agredido por policiais militares; caso é investigado
O músico Jhonatan Votri, conhecido como MC Jotta V, de 25 anos, morreu poucos dias após contar em um vídeo ter sido agredido por policiais militares em Içara, na região de Criciúma, no Estado de Santa Catarina. O caso é investigado pela Polícia Civil.
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"Acabei de levar uma abordagem. Soldado me oprimiu, fui reclamar e o outro policial ainda me deu soco na cara. Gravando esse vídeo porque vou lá na Corregedoria", disse Jhonathan no vídeo, gravado na madrugada de sábado, dia 6.
No dia 10 de abril, alguns dias após a abordagem e de sentir fortes dores, Jhonatan veio a óbito. Ao Terra, o pai do MC, Richard Votri, afirmou que o filho morreu após uma infecção pulmonar em decorrência das agressões.
Na declaração de óbito do Instituto Médico Legal (IML) a qual a reportagem teve acesso, consta sobre o jovem que "vítima de agressão física, evoluiu com septicemia de origem pulmonar, ocasionando o óbito". O documento também aponta que o MC teria sido foi agredido com objeto contundente.
Segundo Richard, seu filho estava em uma tabacaria local na noite da abordagem, quando decidiu comprar refrigerante em uma loja próxima. Ao retornar de bicicleta com sua compra, ele foi abordado pela polícia. "Como ele não bebe nada, foi comprar refrigerante de bicicleta em um posto próximo, a cerca de 400 metros mais ou menos", disse o pai.
Horas após a abordagem, o jovem deu entrada no hospital queixando-se de dores no peito, sintoma que Richard acredita estar diretamente ligado às agressões que o filho relata ter sofrido durante a abordagem policial.
"O hospital falou que bateram raio-x, bateram tudo, não acharam nada quebrado", relembrou. Apesar das dores intensas, seu filho foi liberado com medicamentos para a dor e orientações para repouso em casa.
No entanto, a dor persistiu e se intensificou nos dias seguintes. O músico foi levado ao hospital diversas vezes, mas foi liberado para tratamento em casa em todas as ocasiões, de acordo com o familiar.
"Antes disso tudo acontecer meu filho já sofria perseguição de PMs há cerca de um ano e meio. Em outras duas ocasiões ele já tinha sido agredido e denunciou tudo na Corregedoria. Meu filho não tem passagem nenhuma e a polícia não podia ver ele na rua que batia. Tanto que cerca de uma semana antes de acontecer essa abordagem mais recente ele foi na delegacia, porque o Ministério Público determinou que ele deveria ir, prestar depoimento sobre um dos casos de agressão anteriores", diz Richard.
O pai registrou boletim de ocorrência e o advogado que representa a família acompanha o caso. "Eu e meu filho era unha e carne. Só tinha eu e ele, a mãe dele já era falecida. O sonho do meu filho era só ser feliz. O único sonho dele era o microfone, poder fazer as músicas dele e ele tinha muito potencial, tem vídeo dele com mais de 370 mil visualizações. Meu filho deixa dois filhos lindos, um menino de 3 anos e uma menina, de 7. É muito dolorido", lamentou o familiar.
Em nota enviada ao Terra, a Polícia Militar de Santa Catarina (PMSC), através do 29º Batalhão PM, afirma que na segunda-feira, dia 8 de abril, foram recebidos na sede do 29º BPM, em Içara, o jovem Jhonatan, acompanhado de seu pai.
"O mesmo relatou ter sofrido agressões em uma abordagem policial de rotina ocorrida na madrugada de sexta para sábado (05 e 06.04.2024), na qual, inclusive, resultou na lavratura de um Termo Circunstanciado, em desfavor de Jhonatan. Prontamente foram iniciadas diligências e instaurado o Inquérito Policial Militar", afirmou a corporação.
A PM também informou que no dia 10 tomou conhecimento, através das redes sociais, que Jhonatan havia falecido. "Diante dos fatos, foram colhidos mais elementos de informação, como imagens de câmeras, arrolamos testemunhas e está sendo aguardando o laudo pericial do IGP, acerca da causa mortis, para que as devidas providências de apuração correta dos fatos possam ser realizadas. Sendo assim, PMSC envida todos os esforços para elucidar o mais brevemente os fatos a cerca da referida ocorrência", acrescentou a Polícia Militar.
Em nota, a Polícia Civil de Santa Catarina, por meio da Delegacia de Polícia da Comarca de Içara, informa que o laudo cadavérico realizado no corpo do jovem indica que a morte ocorreu em razão de problemas pulmonares. "A PCSC descarta a possibilidade de morte do jovem em decorrência das lesões que teriam sido provocadas pelos policiais militares, no entanto, a investigação ainda não foi concluída", informou a corporação.