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Pai de Bernardo acusa madrasta e amiga como autoras do crime

No 3º dia de júri, o médico Leandro Boldrini negou ter participado da morte do filho em abril de 2014

14 mar 2019 - 02h22
(atualizado às 08h21)
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O médico Leandro Boldrini, pai do menino Bernardo Boldrini, de 11 anos, disse em depoimento que a madrasta do garoto foi a mentora do crime. A criança foi morta em abril de 2014 em Três Passos, no norte do Rio Grande do Sul. O júri começou na última segunda-feira, 11.

(Imagem ilustrativa)
(Imagem ilustrativa)
Foto: BCFC / iStock

"Eu digo quem matou, foi a Graciele e a Edelvânia", falou. "Há provas concretas no processo e não me encaixo em nenhuma delas. Mataram, ocultaram, jogaram soda cáustica e não fui eu, senhores jurados", completou durante a sessão.

Além dele, a madrasta do garoto, Graciele Ugulini, Edelvânia e o irmão dela, Evandro Wirganovicz - respondem por homicídio qualificado e ocultação de cadáver. De acordo com o Tribunal de Justiça gaúcho, o julgamento deve durar cinco dias.

Sempre voltado para os sete jurados e sem demonstrar emoção em nenhum momento da audiência, o pai do menino prestou depoimento durante três horas. O réu acrescentou que não se preocupou com o sumiço de Bernardo no dia 4 de abril de 2014 (uma sexta-feira), data da morte, porque o menino costumava ir para a residência de amigos para jogar videogame. Ao justificar que procurou pelo garoto somente no domingo, o médico disse que teria orientado o menino sobre o limite de retorno para casa, às 19 horas dos domingos.

Boldrini disse que não estranhou o fato de a mulher ter levado Bernardo para Frederico Westphalen, cidade próxima a Três Passos. Lembrando que a madrasta não gostava da criança, disse: "Eu queria que os dois se acertassem". Em resposta aos questionamentos da juíza responsável pelo caso, Sucilene Engler, o réu admitiu que era um pai mais "provedor do que presente", justificando que a rotina de trabalho o impedia de ser mais presente. Conforme Boldrini, os atritos entre Bernardo e Graciele teriam começado com o nascimento da filha do casal Maria Valentina.

O Ministério Público e as testemunhas de acusação apontaram que o menino era alvo de descaso por parte do pai e da madrasta. A mãe do menino, Odilaine Uglione, se matou em fevereiro de 2010 na clínica do então marido. Ao ser questionado sobre o relacionamento com Bernardo, o médico disse que a relação era boa. "Era uma relacionamento de pai. Ele não está mais aqui infelizmente, mas é um amor de pai. Amo até hoje meu filho", disse.

Dois vídeos gravados por Leandro Boldrini antes da morte da criança foram apresentados durante o primeiro dia de depoimentos, na última segunda-feira. Em um deles o menino está dentro de um armário e pede para o pai parar de filmar. Em outro, ele também pede para pararem de filmar e empunha uma faca e um facão. Em outro vídeo, o menino grita "socorro" por cinco vezes seguidas.

O promotor Ederson Vieira mostrou extratos de ligações do réu na época do crime, citando um espaçamento de quase um dia sem ligar para o filho desaparecido. O réu não respondeu às questões de Vieira. Ainda foi exibido, a pedido do promotor, um áudio em que o padrinho da criança pergunta ao médico por que ele não estava fazendo nada diante do desaparecimento de Bernardo.

Nesta quinta-feira é aguardado o depoimento da madrasta Graciele Ugulini, que se manteve em silêncio durante toda a tramitação do processo.

Perito aponta falsa assinatura de Leandro

Os promotores do caso questionaram o médico a respeito da prescrição de Midazolam - medicamento sedativo - utilizado em superdosagem na execução de Bernardo. À época do crime, foi descoberta um receita com prescrição do réu, o que foi negado por ele, alegando não ter controle do número de páginas do seu bloco receituário.

Antes do depoimento de Boldrini, o perito Luiz Gabriel Passos, contratado pela defesa do médico, contestou a veracidade da assinatura. Na sua manifestação nesta quarta-feira, o perito se debruçou sobre características da assinatura utilizada na receita do midazolam e procurou mostrar que não obedecia a padrões de outras assinaturas do médico.

Ele mostrou, em um dos momentos, o que seria "ponto anormal de parada", que não existiria em outras assinaturas do médico. Ele afirmou que flagrou o detalhe com auxílio de microscópio, porque, a olho nu, o carimbo o esconde. A avaliação serviu para embasar a afirmação de que a assinatura não era do médico. O laudo, porém, chegou a ser questionado pelos promotores do caso.

O caso

Bernardo desapareceu no dia 4 de abril de 2014. O corpo foi encontrado no dia 14, enterrado em um matagal, em Frederico Westphalen, a 80 quilômetros de Três Passos. A polícia prendeu a madrasta, Graciele Ugulini, o pai de Bernardo Leandro Boldrini, a assistente social Edelvânia Wirganovicz e o irmão de Edelvânia, Evandro Wirganovicz, como suspeitos do crime.

A investigação apurou que o garoto era rejeitado pela madrasta, sofria com o descaso pai e havia pedido à Justiça para morar com outra família. Por acordo proposto pelo pai e aceito por Bernardo no início daquele ano, haveria uma tentativa de reaproximação familiar. Foi nesse período que o menino foi assassinado.

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