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Passeata de bebês na USP pede negociação para encerrar greve

Ato promovido por comissão de pais que têm filhos nas creches da USP pede que reitoria negocie com grevistas para que trabalhos suspensos há mais de três meses sejam retomados

28 ago 2014 - 17h59
(atualizado em 29/8/2014 às 18h30)
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Há três meses, três casais de São Paulo se revezam na estratégia batizada de “Creche-Crise” – “Creche Residencial Itinerante Solidária e Experimental”: cada um deles cuida, a cada dia da semana, de dois filhos dos outros dois pares, além de seus próprios, para que nenhuma das crianças, de um ano e meio a quatro anos, fique sozinha enquanto os adultos trabalham. A iniciativa foi uma maneira que a professora de artes Kelly Sabino, de 30 anos, encontrou para lidar com a suspensão dos trabalhos da creche da Universidade de São Paulo, em greve desde o último dia 27 de maio.

Cerca de 200 pessoas, entre bebês, funcionários e professores da USP, realizaram um protesto nesta quinta-feira por negociações que ponham fim à greve na universidade e nas creches da instituição
Cerca de 200 pessoas, entre bebês, funcionários e professores da USP, realizaram um protesto nesta quinta-feira por negociações que ponham fim à greve na universidade e nas creches da instituição
Foto: Janaina Garcia / Terra

Kelly é docente na instituição e integrou nesta quinta-feira um grupo de pais e mães de alunos das creches da USP, na capital e n o interior, que realizaram uma passeata com os bebês pelo campus em São Paulo. Segundo a guarda universitária, cerca de 200 pessoas participaram do ato –metade delas, pequenos –que começou na creche central e terminou em frente à reitoria. Estudantes, funcionários e professores, representantes ou não do movimento grevista, se juntaram ao protesto.

Tanto a professora quanto outros pais e mães se disseram afrontados com as declarações do reitor, semanas atrás, à rádio CBN. Em entrevista, Zago disse que, até aquela data (8 de agosto), o impacto da greve na sociedade era “nenhum”. “Não é a greve que tem impacto, mas os atos ilegais praticados por grevistas”, definira. Dias depois, o Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região (TRT-2) negaria liminar à universidade, que pleiteava a declaração de ilegalidade da paralisação.

“Como que o reitor afirma que não há impacto com a greve, se trabalhamos e não temos a creche para deixar nossos filhos? Meu trabalho na universidade não parou”, reclamou a professora, que tem dois filhos pequenos na creche central. “Não é apenas a creche fechada: é um projeto educacional bacana que é interrompido; são crianças que, sabemos, hoje brincam sozinhas e chegam ao ponto de criar amigos imaginários. Está muito difícil.”

A manifestação seguiu embalada por paródias de músicas infantis endereçadas ao reitor –a mais repetida, “O Zago (e não ‘o sapo’) não lava o pé --, brincadeiras e um piquenique em frente à reitoria.

Mãe de uma menina de três anos matriculada na creche, a física na USP Cintia Suplicy, 32 anos, discorda que o impacto seja o afirmado por Zago. “Tem criança que chora todo dia, porque acostuma com os amiguinhos e com as instrutoras, e eu mesma deixo minha filha ora no avô, no tio, na minha mãe... é um revezamento, e fora que o trabalho na creche da universidade é de excelência”, observou.

Segundo Cintia, a comissão de pais e mães protocolou uma carta ao reitor solicitando dele uma audiência na qual querem tratar de quatro pontos: o “impacto da greve na creche nas crianças e nas famílias”, a entrega de um abaixo-assinado com cerca de 700 assinaturas para que um acordo entre a administração e os grevistas ponha fim à paralisação e a “efetivação de negociações democráticas e transparentes”, a “garantia de manutenção da educação básica”.

“As creches da USP são incríveis, têm um trabalho de excelência reconhecido pelas famílias dos alunos e pela sociedade. Hoje são cerca de 500 crianças em São Paulo e no interior, e cerca de 4 mil funcionários e professores recebem auxílio-creche. Tememos que a administração queira eliminar a creche de seu quadro, já que é atividade-meio, não atividade-fim, mas entendemos que as creche das USP não apenas dialogam com as creches municipais, como são referência”, avaliou a educadora Gislaine de Oliveira, 32 anos, mãe de dois filhos que já passaram pela creche central.

A manifestação dos bebês, como o ato foi chamado, foi a segunda na história da USP –a primeira, em 1975, pedia justamente que as creches fossem instaladas nas universidades estaduais paulistas (USP, Unesp e Unicamp).

Em 39 anos, manifestação de bebês é a 2ª da USP

A psicóloga Ana Mello, 59 anos, que há 25 anos trabalha nas creches e na Escola de Aplicação da universidade, participou do primeiro ato. “Eu fico emocionada de ver no que querem transformar as creches. É um absurdo, esta universidade construiu coisas extraordinárias com as creches e a Escola de Aplicação, mas nos últimos 15 anos esse sistema mal tem tido gestão. Até 2000, as creches da capital e interior atendiam, juntas, 750 crianças; 14 anos depois, esse número quase chega a 500 crianças. É o maior desmonte que a USP já teve”, lamentou Ana.

Fonte: Terra
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