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"Perdi tudo, lama para todo lado", diz vítima das chuvas no Rio

Região metropolitana teve dezenas de casas alagadas; Paraty e Angra concentraram maioria das mortes

2 abr 2022 - 21h43
(atualizado em 3/4/2022 às 09h32)
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Chuvas no Rio de Janeiro
Chuvas no Rio de Janeiro
Foto: P. DE ANGRA DOS REIS via REUTERS

RIO - Os temporais que atingiram o Estado do Rio de Janeiro deixaram ao menos 15 mortos e os bombeiros ainda fazem buscas por desaparecidos na noite deste sábado, 2. A maioria das vítimas (13) era de Paraty e Angra dos Reis, no litoral sul, mas na região metropolitana da capital, dezenas de casas foram alagadas. Famílias e comerciantes que perderam "quase tudo" durante as fortes chuvas passaram o dia somando os prejuízos, limpando imóveis e tentando recuperar o que restou.

Moradora de Jardim Xavante, em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, o técnico de refrigeração Rinaldo Oliveira, de 49 anos, foi alertado por volta das 23h de sexta-feira, 1º, sobre o risco de o rio transbordar. Ele conseguiu tirar o carro da rua e levá-lo para um ponto mais alto. Em apenas 30 minutos, porém, sua casa foi tomada pela água. Perplexo, ele viu o freezer e o botijão de gás da sua cozinha sendo arrastados pelas águas para fora do portão do imóvel.

"Tínhamos colocado coisas em cima valor em cima das mesa, para não molhar, mas a água subiu 1,20 metro dentro de casa. Perdi tudo. Lama para todo o lado", conta Oliveira, que divide o terreno de casa com o pai, a irmã, a prima e um tio. Ninguém se machucou. "Entendi que não seria possível salvar nada, desliguei a luz de casa e fui para o andar de cima ficar com a minha irmã. Desde que a água baixou, estamos basicamente jogando tudo fora e limpando a lama de dentro de casa".

Em Belford Roxo, houve também deslizamento de terra, sem vítimas. Diversos bairros do município registraram casas invadidas pela água. Segundo a prefeitura, houve 180 pontos de alagamento e 300 desalojados. A professora Viviane Carneiro, de 46 anos, estava sozinha em casa na noite de sexta em Heliópolis, também em Belford Roxo, quando a rua em que mora começou a encher por causa das chuvas. Ela mora no mesmo endereço há 40 anos e sua casa nunca havia sido inundada.

Viviane conta que um dos seus filhos precisou dormir na farmácia onde trabalha. Outro ficou na casa de um amigo, que mora em um morro perto do colégio. Sozinha em casa, ela conseguiu colocar tijolos embaixo da geladeira, para não ser alcançada pela água. Mas perdeu praticamente tudo - camas, sofá, roupas e documentos. Desempregada, não sabe como vai repor as perdas. "Fui dispensada de uma escola particular durante a pandemia e faço empadas para vender. Mas raramente tem saída, é muito complicado por causa da pandemia", disse ela.

O governador do Rio, Cláudio Castro (PL), foi a Nova Iguaçu acompanhar o trabalho de socorro aos atingidos. "Aqui em Nova Iguaçu, graças a Deus, não teve nenhuma morte, mas teve em Paraty, Angra e Mesquita. Desde ontem (sexta), fiquei falando com os prefeitos dos municípios atingidos. Já estamos assistindo a todas as cidades atingidas e, já cedo aqui para a Baixada, vieram as Secretarias das Cidades e de Infraestrutura para começar a apoiar as prefeituras no processo de limpeza", afirmou o governador.

Nova Iguaçu chegou a decretar estágio de alerta máximo, quando há risco muito alto de enxurradas, inundações e deslizamentos. O Hospital Geral da cidade foi atingido por infiltrações em dois Centros de Terapia Intensiva e 13 pacientes de uma das alas foram transferidos para os setores de pós-operatório.

Em Mesquita, também na região metropolitana, um homem de 38 anos morreu eletrocutado quando tentava socorrer outra pessoa na sexta-feira, 1º. SegundoCastro, bombeiros e Defesa Civil resgataram mais de cem pessoas com vida desde a noite de sexta no Estado. No início da tarde de sábado, o Corpo de Bombeiros informou ter recebido mais de 700 chamados em todo o Estado por ameaças de desabamento, deslizamento e alagamento.

Na Costa Verde, no Centro Histórico de Paraty, alguns comércios ficaram fechados neste sábado por causa da falta de funcionários, que não conseguiram transporte para o trabalho. Rosana Davinha, dona de um restaurante, disse que o Centro Histórico de Paraty não foi muito afetado. "O Centro Histórico nunca enche, nem na pior enchente", disse a comerciante.

Áreas fora do centro foram bastante afetadas pelos deslizamentos de terra. No bairro de Ponta Negra, sete pessoas da mesma família foram soterradas - a mãe e seis filhos, que tinham entre dois e 17 anos. Um sétimo filho foi resgatado com vida, levado ao hospital e tem quadro de saúde estável. Segundo a prefeitura de Paraty, 219 famílias foram atingidas por alagamento ou perdas materiais, em 22 bairros. Há 15 famílias abrigadas em escolas municipais.

Estadão
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