PM é investigado por atirar nas costas de suspeito e tentar mudar versão
Câmeras corporais da Polícia Militar registraram ação que ocorreu na Zona Norte do Rio de Janeiro
Um sargento da Polícia Militar do Rio de Janeiro é investigado por atirar nas costas de um suspeito e tentar mudar a versão. A ação foi filmada pelas câmeras corporais da corporação, que captou até o momento em que os agentes combinavam o que iriam registrar no boletim de ocorrência. A informação é do Fantástico.
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O caso aconteceu no dia 27 de fevereiro deste ano, na Zona Norte da capital fluminense. Uma equipe da PM é acionada para atender ao caso de assaltantes agindo em um carro. Quando a viatura encontra o veículo descrito na ocorrência, um dos policiais desembarca e atira, enquanto outro PM corre até o suspeito, mandando-o descer.
A câmera capta mais sons de tiros, mas não dá para saber qual dos policiais está atirando. O motorista desceu do carro com as mãos para cima, seguido de um mais um som de tiro. Na sequência, um dos policiais grita 'desce’, como se o suspeito ainda não tivesse desembarcado. Outro agente também o manda descer.
"Sou trabalhador, cara", se defende o motorista. "Trabalhador é o car*lho. Desce que tá roubando os outros, desce!", diz o policial enquanto dispara mais algumas vezes. Em outra câmera, é possível ver o homem no chão, tentando se explicar para os agentes. "Sou trabalhador". Nesse momento, o homem se levanta e leva um tiro nas costas.
Conforme o Fantástico, o policial que atirou não gravou a própria conduta, como manda a regra da corporação. Só depois de atingir o motorista, o sargento Daniel de Souza Braga pega a câmera corporal, que ele já deveria estar usando. "Filmando aqui. Não sei mexer nessa p*rra direito. Esqueci. Troca de tiros tá sendo gravada aqui, hein", diz.
Um reforço da guarnição é acionado, e quando chega, outro PM envolvido no caso fala ao telefone com um superior. "O sargento se excedeu um pouquinho, deu nas costas do cara quando o cara desceu. Eu só dei nas pernas, nas rodas, entendeu?".
Pouco antes de levar o homem baleado nas pernas e nas costas, o PM o chama de “animal” e deseja que ele “fique aleijado”. Já no hospital, ele continua: "Antes de levar ele, fala teu nome aí, animal! Fala o nome certo, hein? Se ele morrer, melhor".
Na porta da delegacia, os policiais combinam a versão que será dada em depoimento. "Dezessete disparos no carregador", afirma um. Outro declara: "Então, mas ó: ele tentou evadir e desviou. Então fugiu. O problema disso tudo é o excesso, a quantidade de disparos. Sua arma é particular?", questiona. "Não, é da polícia", esclarece. "O senhor não mirou nele. Entenda bem. O senhor não mirou nele, o senhor mirou no veículo".
A Justiça determinou que o Ministério Público e a Corregedoria da Polícia Militar investiguem o caso, a partir das imagens e depoimento coletados no dia do crime. "Nesse caso, não tem nenhum protocolo que vai dizer para atirar em alguém que já está rendido, já está dominado e não oferece nenhum risco. Não tem legítima defesa, não tem nada que ampare o policial nesse caso", Robson Rodrigues, ex-chefe do Estado-Maior da PM-RJ.
O homem detido naquele diz confessou que roubou a bolsa de uma mulher naquela madrugada e foi condenado a seis anos de prisão. Já o policial que atirou contra ele foi afastado preventivamente das ruas, conforme informou a PM para o programa, para avaliar sua conduta.