'Polícia Militar de SP está matando por um retrovisor?', questiona mãe de estudante morto
Silvia Mônica Cardenas Prado cobra respostas sobre as circunstâncias da morte de Marco Aurélio Acosta; SSP diz que caso é investigado e que policiais envolvidos foram afastados
A médica Silvia Mônica Cardenas Prado, mãe do estudante de Medicina morto pela Polícia Militar em uma abordagem na zona sul de São Paulo, questiona o uso da violência das forças de segurança do Estado. Marco Aurélio Acosta, de 22 anos, morreu na madrugada de quarta-feira, 20, após ser baleado à queima-roupa dentro de um hotel na Vila Mariana.
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública informou que o "jovem golpeou a viatura policial e tentou fugir". O Estadão apurou que Marco Aurélio Acosta teria acertado o retrovisor do automóvel da PM. Ainda de acordo com a SSP, ao ser abordado, ele investiu contra os policiais e foi baleado. A pasta informou também que o caso é investigado e que os policiais envolvidos foram afastados.
"Então, a vida de um ser humano vale um retrovisor de um policial? A Polícia Militar de SP está matando por um retrovisor? Eu quero o cadáver do meu filho, eu quero enterrar ele", disse Silvia ao Estadão.
Imagens de câmeras de segurança do hotel mostram o momento da ação dos policiais. Entretanto, ainda não está claro o que teria ocorrido entre o jovem e os PMs na rua, antes de ele ser baleado no saguão do estabelecimento.
A família da vítima cobra respostas sobre as circunstâncias da morte do estudante. Julio Cesar Acosta Navarro, pai de Marco Aurélio, relatou dificuldades para conseguir informações sobre o filho, tanto no hotel quanto na porta do hospital.
Ele disse que esteve com o filho antes de o jovem ser encaminhado ao centro cirúrgico. "Uma luta no hospital para poder salvar a vida dele. Encontrei ele pedindo socorro, sofrendo", disse. "Tem sido um filme de terror, um pesadelo desde o início. E continua sendo."
Polícia teria sido acionada após briga em hotel
Em depoimento à polícia, uma mulher de 21 anos, que estava hospedada com o rapaz, contou que Marco Aurélio tinha consumido bebida alcoólica e que eles teriam brigado. No relato, ela afirma que foi agredida pelo estudante.
Ela contou ainda que a polícia teria sido acionada por funcionários do hotel por conta da discussão. Ela deixou o quarto e foi até a recepção, onde ficou abrigada. O estudante saiu para a rua em busca dela. Logo depois, retornou correndo e os policiais entraram no local.
Aos investigadores, a jovem contou que trabalha como garota de programa e que conhecia o estudante havia dois anos. Nesse período, eles tiveram um relacionamento amoroso, mas ela afirma que não deixou de cobrá-lo e, por isso, ele teria uma dívida com ela de cerca de R$ 20 mil. A discussão entre os dois teria sido motivada por causa dessas questões.
Segundo ela, o recepcionista do hotel teria chamado a polícia após escutar os dois brigando. A jovem diz que conseguiu sair do quarto, desceu as escadas do hotel e se escondeu próximo à recepção. Marco Aurélio teria seguido a jovem e ido até a rua. Ela afirma que, na sequência, escutou um policial entrar no estabelecimento e perguntar por que o estudante teria batido na viatura. Em seguida, escutou o disparo de arma de fogo.
O que diz a SSP
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública afirma que os policiais envolvidos na ocorrência prestaram depoimento, foram indiciados e permanecerão afastados das atividades operacionais até a conclusão das apurações.
A conduta dos agentes é investigada. As imagens das câmeras corporais que registraram o fato serão anexadas aos inquéritos conduzidos pela Corregedoria da Polícia Militar e pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
No boletim de ocorrência, os policiais relataram que Marco Aurélio estaria alterado e agressivo e teria resistido à abordagem policial "entrando em vias de fato com a equipe policial e, em determinado momento, tentou subtrair a arma de fogo" de um dos policiais.
Um dos agentes que estava na ação efetuou um disparo em direção ao estudante "a fim de impedi-lo", diz o registro.
O resgate foi acionado e o rapaz foi socorrido ao Hospital Ipiranga, onde morreu horas depois. Ainda segundo o boletim, "todos os policiais militares portavam câmeras corporais."
As imagens registradas pelas câmeras corporais serão anexadas aos inquéritos conduzidos pela Corregedoria da Polícia Militar e pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
Quem era o estudante de Medicina
Marco Aurélio tinha 22 anos e estudava Medicina na Universidade Anhembi Morumbi. "A alegria da nossa casa, da nossa família, foi embora. Meu melhor amigo foi embora", escreveu Frank Cardenas, irmão de Marco, nas redes sociais.
Ele integrava o time dos alunos de Medicina da Universidade Anhembi Morumbi e era conhecido como "Bilau". Em nota de pesar publicada nas redes sociais, a equipe afirmou que o estudante será lembrado com amor e carinho.