Polícia usa bombas de gás para conter ato no Museu Nacional
Policiais usaram bombas de gás para afastar dezenas de pessoas que se reuniram no entorno do Museu Nacional nesta segunda-feira para manifestar apoio à instituição após um incêndio devastador da noite de domingo que atingiu o emblemático prédio na zona norte do Rio de Janeiro.
Imagens aéreas transmitidas ao vivo pela emissora GloboNews mostraram policiais lançando bombas de gás e usando cassetetes para afastar algumas dezenas de pessoas que tentavam entrar pelos portões do local, que foi isolado pela polícia.
Após o incêndio de domingo, a fachada amarela do Museu Nacional, que já serviu como Palácio Imperial, permanecia de pé na manhã desta segunda-feira, mas suas grandes janelas revelavam corredores queimados e vigas de madeira carbonizadas em um interior sem teto.
De vez em quando, bombeiros saíam do prédio com um vaso ou pintura que conseguiram resgatar após o incêndio de domingo, cuja causa ainda não foi determinada por autoridades.
Pesquisadores, estudantes e outros funcionários do museu, onde 20 milhões de itens foram provavelmente destruídos, se reuniam em pequenos grupos do lado de fora do prédio se consolando e limpando lágrimas.
O vice-diretor do museu, Luiz Duarte, disse à emissora GloboNews que a instituição vinha sendo negligenciada por sucessivos governos federais e que o financiamento de 21,6 milhões de reais anunciado em junho incluía, ironicamente, um plano para instalar equipamentos modernos de proteção contra incêndios.
O comandante do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro, Roberto Robadey, disse a repórteres nesta segunda-feira que os dois hidrantes localizados do lado de fora do prédio estavam secos. Isso forçou bombeiros a utilizarem água de um lago próximo para abastecer os caminhões, mas as chamas consumiram o prédio rápido demais.
"Em um mundo ideal, nós teríamos muitas coisas que não temos aqui: sprinkler dentro da edificação", disse Robaday, acrescentando que o Corpo de Bombeiros irá avaliar sua resposta ao incêndio e tomar medidas se necessário. "Ontem foi um dos dias mais tristes da minha carreira".
Renato Rodriguez Cabral, professor de geologia e paleontologia do Museu Nacional, disse que o declínio do museu não aconteceu de um dia para o outro.
"Isso não é de hoje. É uma tragédia anunciada desde 1892 quando o museu veio para cá", disse Cabral enquanto abraçava alunos e colegas de trabalho. "Sucessivos governos republicanos nunca deram dinheiro, nunca investiram em infraestrutura".
Cabral disse que o prédio recebeu novas fiações há 15 anos, mas que claramente não havia um plano suficiente para proteger o museu de um incêndio, acrescentando: "Os bombeiros praticamente assistiram ao incêndio".
"Para a história e ciência brasileiras, isso é uma tragédia completa", disse. "Não tem como recuperar o que perdemos".
Menos recursos
O museu, ligado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e ao Ministério da Educação, foi fundado em 1818. Seu acervo contava com diversas coleções importantes, incluindo artefatos egípcios e o fóssil humano mais antigo encontrado no Brasil.
De 2013 para cá os recursos destinados ao local caíram significativamente, embora tenham oscilado ano a ano, segundo levantamento da Consultoria de Orçamento da Câmara dos Deputados.
De janeiro a agosto de 2018, foram pagos apenas 98.115 reais à instituição, sendo 46.235 reais via UFRJ, para funcionamento do museu, e outros 51.880 reais pelo Ministério da Cultura, para concessão de bolsas de estudo. No total, a cifra corresponde a 15 por cento da verba de 2017.
De acordo com o levantamento da Câmara, o total de recursos recebido pelo museu foi de 979.952 reais em 2013 e de 941.064 reais em 2014, com forte recuo em 2015, quando passou a 638.267 reais. Em 2016 houve alguma recuperação, para 841.167 reais, valor que novamente voltou a cair no ano passado, para 643.568 reais pagos.
A destruição do prédio, onde imperadores já viveram, foi uma perda "incalculável para o Brasil", disse o presidente Michel Temer em publicação no Twitter. "Foram perdidos 200 anos de trabalho, pesquisa e conhecimento".
O Palácio do Planalto não respondeu de imediato a pedidos por comentário sobre as alegações de negligência.