Ex-deputado vai a juri por duplo homicídio após quase 9 anos
Após quase nove anos e 34 recursos negados nos tribunais superiores, começou nesta terça-feira (27), em Curitiba, pouco depois das 13 horas, o júri popular do ex-deputado estadual Luiz Fernando Ribas Carli Filho, de 35 anos. Acusado de matar dois jovens em uma batida de trânsito, ele chegou à 2ª Vara Privativa do Tribunal, localizada no bairro Centro Cívico, acompanhado de seus advogados e em um carro escoltado pela Polícia Militar (PM).
Desde o início da manhã, a movimentação em frente ao prédio já era intensa. Muitas pessoas fizeram fila para conseguir as 200 senhas que garantiam assento no fórum. Até mesmo a entrada da imprensa foi controlada e restrita a um número pequeno de profissionais. Familiares do réu e das vítimas também estão no local. Um pequeno grupo de manifestantes que perderam familiares em acidentes de trânsito permanece na porta.
Dentre os 25 representantes da comunidade previamente convocados pela Justiça, sete serão sorteados para sentenciar se Carli é culpado de duplo homicídio com dolo eventual (quando o réu assume o risco de matar). O resultado deve sair ao final das exposições da promotoria e da defesa. Os jurados se manifestam individualmente e em sigilo, escolhendo cédulas contendo as palavras “sim” e “não”. A decisão é computada pela maioria de votos (as respostas dadas às perguntas do juiz). A expectativa é de que o julgamento termine apenas na quarta-feira (28).
No dia 7 de maio de 2009, o Passat do então parlamentar decolou pela Avenida Monsenhor Zanlorenzi, no Mossunguê, e caiu sobre o Honda Fit em que estavam Gilmar Rafael Yared, de 26 anos, e Carlos Murilo de Almeida, de 20, matando ambos na hora. O político dirigia a 170km/h, sendo que o limite da via era de 60km/h, e estava com a carteira de habilitação suspensa, além de 30 multas acumuladas, incluindo 23 por excesso de velocidade. Um exame, depois descartado dos autos, indicou que ele tinha bebido. O resultado foi de 7,8 decigramas de álcool por litro de sangue, quantidade cerca de quatro vezes maior que o limite permitido à época, de dois decigramas.
Na época do acidente, o parlamentar teve ferimentos graves na cabeça, foi para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Evangélico e ficou internado por quase um mês. Renunciou ao cargo na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), sofreu dezenas de cirurgias e vive quase recluso em Guarapuava, sua cidade natal, a 260 quilômetro de Curitiba. Carli Filho é de família tradicional na política paranaense. Seu pai, Luiz Fernando Ribas Carli, foi prefeito durante três gestões. Seu irmão, Bernardo Ribas Carli (PSDB), e seu tio materno, Plauto Miró (DEM), exercem atualmente mandato na Alep.
A defesa do ex-deputado, sob responsabilidade do advogado René Dotti, tentou evitar o julgamento, buscando classificar o crime como homicídio culposo (sem intenção de matar). Assim, a pena ficaria entre dois e quatro anos, podendo ser convertida para prestação de serviços à comunidade, como pagamento de cestas básicas. Se condenado por homicídio doloso, Carli Filho pode pegar até 20 anos de prisão.
Essa é a primeira vez que um político do Estado vai a júri popular. Em outubro de 2001, o hoje deputado federal João Arruda (PMDB-PR), sobrinho do senador Roberto Requião, envolveu-se em uma batida em que duas jovens morreram, também em Curitiba. O peemedebista foi condenado por homicídio culposo, entretanto, parte da pena de prestação de serviços acabou convertida em pagamento de multa.