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Prima de ciclista morta na Paulista vê "SP mais humana"

Cicloativista havia anos, Márcia Prado pedalava pela avenida de casa para o trabalho quando foi atropelada por um ônibus, em 2009

29 jun 2015 - 09h11
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A ghost bike instalada na avenida para lembrar o acidente que matou Márcia recebeu mais flores nesse domingo
A ghost bike instalada na avenida para lembrar o acidente que matou Márcia recebeu mais flores nesse domingo
Foto: Janaina Garcia / Terra

A inauguração da ciclovia da avenida Paulista, nesse domingo, trouxe para São Paulo a produtora rural Roberta Ferrari Andrade, de 48 anos, moradora do Rio de Janeiro. Roberta se considera cicloativista, mas o motivo da vinda para a capital paulista, segundo ela, teve outro propósito: a homenagem à prima-irmã Márcia Regina de Andrade Prado, atropelada e morta na avenida, de bicicleta, em janeiro de 2009.

Cicloativista havia anos, Márcia pedalava pela avenida de casa para o trabalho quando foi atropelada por um ônibus da viação Oak Tree. Morreu no local, à época, aos 42 anos. Desde então, uma bicicleta branca (a ghost bike) foi colocada em frente ao local onde aconteceu o acidente – uma forma de os cicloativistas homenagearem as vítimas e não deixar que esses casos sejam esquecidos pela população.

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Uma multidão de ciclistas, cicloativistas e pedestres compareceu à Paulista nesse domingo para a inauguração da ciclovia
Uma multidão de ciclistas, cicloativistas e pedestres compareceu à Paulista nesse domingo para a inauguração da ciclovia
Foto: Janaina Garcia / Terra

Roberta conversou com a reportagem do Terra após a pedalada de inauguração dos 2,7 km de ciclovia no principal cartão postal paulistano. Antes, deu um abraço no prefeito Fernando Haddad (PT) e na primeira-dama, Ana Estela, que haviam ido com o casal de filhos ao evento.

“Esse é um momento bonito e de celebração da vida, pois a Márcia deu a vida por amor a São Paulo. Porque o objetivo dela, com o cicloativismo, era deixar São Paulo mais humana – e o que eu vi aqui hoje me parece ser o marco dessa humanidade possível”, afirmou. “Moro no Rio e vim para cá porque esse era o sonho dela – meu sentimento é de gratidão por esse pessoal das bicicletadas e pelo prefeito, que abraçou a causa de maneira tão bela”, declarou.

Indagada sobre o que ela diria ao cidadão contrário às ciclovias em São Paulo? “Que eles aquietem a mente e ouçam coração – viver é lindo, vale a pena, e tem espaço para todos”, encerrou.

Roberta Ferrari Andrade, prima-irmã da cicloativista Márcia Andrade Prado, que morreu atropelada por um ônibus, na Paulista, em janeiro de 2009
Roberta Ferrari Andrade, prima-irmã da cicloativista Márcia Andrade Prado, que morreu atropelada por um ônibus, na Paulista, em janeiro de 2009
Foto: Janaina Garcia / Terra

Em 2012, Márcia ganhou uma homenagem póstuma ao ter seu nome escolhido para batizar a Rota Cicloturística entre São Paulo e Santos – percurso sugerido à época pelo instituto CicloBR, um dos coletivos de cicloativistas de São Paulo.

“Márcia era bastante ativa no cicloativismo. Encontrava informações pela internet, pesquisava as leis, entrava em contato com órgãos públicos. Participava dos encontros na Praça do Ciclista, das ações, das viagens. Era muito presente na Bicicletada e nas manifestações diversas”, descreve Márcia outro coletivo, o Vá de Bike, em seu site oficial.

Bióloga é morta em 2012, estudante perde o braço em 2013 

Outra ghost bike instalada na Paulista chama a atenção para mais um caso: o da bióloga Juliana Ingrid Dias, morta aos 33 anos, em março de 2012, ao ser atropelada por um ônibus do transporte coletivo quando voltava do trabalho para casa. Em junho de 2013, a vítima foi o limpador de vidros David Santos Souza, então com 21 anos: ele teve o braço direito decepado ao ser atropelado pelo estudante de psicologia Alex Kozloff Siwek, que chegou a ser preso, mas acabou solto. O jovem hoje usa uma prótese.

Protesto contra pedaladas toma ‘pedala’ de ciclistas em SP:

Prefeitura estuda fechamento da Paulista aos domingos

Na inauguração da ciclovia, Haddad admitiu que o fechamento da Paulista aos domingos deve ser a próxima empreitada pela ocupação da via como espaço de convivência. Antes disso, porém, o Minhocão deve ser fechado à circulação de carros também aos sábados – atualmente, é apenas aos domingos.

“O fechamento definitivo [da Paulista] aos domingos é alvo de um estudo a cargo da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), que testa dois modelos: o da Paulista e o do Minhocão. E lembrando que a Paulista já foi fechada, no passado, aos domingos – um por mês. No caso da avenida, o estudo sobre isso partiu dos técnicos; no caso do Minhocão, a proposta partiu da comunidade local”, afirmou.

Indagado sobre prazos, o prefeito disse apenas que “nos próximos meses” deve haver uma resposta. “Não temos pressa. Mas é importante porque ela é um espaço público, e faltam espaços públicos. As pessoas moram em apartamentos e, quando não estão em um dia de trabalho, querem ar livre para que possam respirar”, afirmou.

Já o secretário municipal de Transportes, Jilmar Tatto, reforçou que a proposta do município é pela “abertura da Paulista”: “Temos é que abrir a Paulista, que hoje está fechada – e abrir para todos: aos ciclistas, aos pedestres, aos veículo não motorizados”, sinalizou. “Do ponto de vista da circulação viária, não há dificuldade nenhuma: há várias alternativas na cidade, e já falei com a área técnica da CET, que consegue uma operação espacial aos acessos de hospitais e a moradores da região, por exemplo, comko já é feito perto do Autódromo de Interlagos quando acontece a Fórmula 1”, declarou. “Não estamos inventando a roda: no mundo todo já estão se abrindo espaços públicos nesses moldes”, enfatizou o secretário.

Obra custou mais de R$ 12 milhões

Ao todo, a ciclovia na Paulista tem 2,7 km de extensão, sem contar o 1,7 km de ciclovia também na rua Itápolis. A via tem duas mãos e ocupa o canteiro central da avenida entre a Praça Oswaldo Cruz e a rua Haddock Lobo, mais um trecho, após o túnel de acesso à avenida Rebouças, entre a rua da Consolação e a avenida Angélica. No sentido oposto da Paulista, já na avenida Bernardino de Campos, no sentido Vila Mariana (zona sul), estão em andamento obras de requalificação urbana que liguem a Paulista a esse trecho. No total, estão sendo gastos R$ 12,1 milhões oriundos do Fundo Especial do Meio Ambiente, vinculado à Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente.

Fonte: Terra
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