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Professor avalia que protestos são sintoma de uma sociedade que vai mal

Governo não pode recair em erros do passado com repressão, diz historiador

14 jun 2013 - 17h54
(atualizado às 18h08)
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A insatisfação de parte da população brasileira com governantes não é novidade. Porém, somente em poucas ocasiões na história do País o descontentamento se transformou em protestos que reuniram multidões. Ao longo do último século, grandes manifestações - pontuais, mas marcantes - mudaram os rumos do Brasil, ainda que em alguns casos não tenham obtido os resultados desejados. Contudo, "é preciso aprender com revoltas anteriores para não se repetir os mesmos erros" que levaram a mortes e violência generalizada no passado, avalia Antonio Celso Ferreira, professor de história do Brasil na Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) em Assis.

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Protestos ocorrem com frequência nas grandes cidades do Brasil: desde passeatas clamando por paz até marchas por aprovação de leis. Contudo, quando alguma medida indigna a população a ponto de reunir milhares de pessoas em diversos locais dispostas a demonstrar sua insatisfação, esses protestos podem se transformar em revoltas. São raros e significativos os exemplos de imensas manifestações políticas na história recente do País. Os comícios pedindo a volta das eleições diretas para a presidência da República, em 1984, e o movimento dos caras-pintadas pelo impeachment do então presidente Fernando Collor, em 1992, são alguns dos mais vivos na memória popular.

No entanto, há várias décadas já ocorriam manifestações contrárias a medidas impopulares - e não raro elas tinham motivação semelhante à do movimento nacional que se opõe ao aumento na tarifa do transporte público em diversas capitais brasileiras neste ano. Ferreira lembra a onda de protestos do final do século 19 chamada Revolta do Vintém, que levou a população a protestar de maneira agressiva contra o que foi então considerada uma cobrança excessiva nas passagens dos bondes no Rio de Janeiro. Décadas mais tarde, nos anos 1940 e 1950, inúmeros movimentos nacionais também se mobilizaram contra o aumento das passagens, segundo o professor. Em comum entre eles há o fato de que são organizados e formados principalmente por jovens estudantes.

"Esses setores jovens são os que mais percebem a vida urbana, as contradições da cidade. Essas categorias são interclasses - participam tanto as classes médias quanto as mais populares - e sempre aparecem em vários momentos da história. Os caras-pintadas podem ser o movimento mais conhecido, mas muito antes deles houve protestos contra o governo", disse Antonio Celso Ferreira em entrevista ao Terra. Ele lembra que houve manifestações fortes no passado, com estudantes sendo reprimidos, e alerta que o Brasil não pode recair em falhas anteriores.

A reação popular à decisão do governo federal de impor a vacinação obrigatória contra a varíola em 1904 levou o povo do Rio de Janeiro a se revoltar e resultou em violenta repressão por parte das forças de segurança, transformando a então capital do Brasil em um campo de batalha. Ao fim do conflito, foram registrados 30 mortos e mais de 100 feridos. Bondes e postes foram depredados ao longo de mais de 10 dias de revolta.

"Exemplos da história mostram que movimentos como esses podem se encaminhar para um final muito trágico", avalia Ferreira, que coordena o coordena o Centro de Documentação e Memória da Unesp (Cedem). Para ele, o Brasil "tem que aprender com os exemplos do passado: a repressão sempre termina mal".

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Para o professor, há semelhanças entre o movimento atual contra o aumento das passagens e revoltas como a do Vintém e da Vacina, os comícios das Diretas Já e os protestos que resultaram no impeachment de Collor. Ele pondera que há objetivos maiores que apenas questões econômicas e políticas na insatisfação demonstrada pela população. "É uma manifestação muito maior de setores jovens: são estudantes de universidade pública, de particulares, do ensino médio, jovens que estão sentindo que o futuro está muito obscuro, muito incerto."

Relembrando revoltas anteriores, o historiador acredita que os protestos devem durar ainda muitos dias. "Isso não deveria ser encarado pelos governantes como baderna. É o sintoma de uma sociedade que vai mal, que precisa estabelecer melhores ligações com os jovens", avalia Antonio Celso Ferreira. "A gente precisa ir além da lógica partidária. Esses são protestos difusos: embora se apresentem como protestos contra o aumento das passagens, por baixo há um descontentamento muito maior, uma busca por manifestar a vontade de criar de novas relações sociais, de um novo modo de relacionamento dos governos em geral com as multidões."

O historiador cita os protestos no Brasil na época da ditadura militar (1964-1985), "violentamente reprimidos", para indicar uma solução para o impasse entre autoridades e manifestantes. "O mais aconselhável, em vez da repressão - que (no caso atual) foi um horror, irresponsável e assustadora -, é a negociação. É a melhor saída."

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Fonte: Terra
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