RJ: protestos marcam enterro de jovem morto por bala perdida
Entregador teria sido confundido com traficantes durante ação do Bope em favela no Centro
O enterro do entregador Rafael Neris, de 23 anos, foi marcado por comoção e protestos na tarde desta terça-feira (30) na capital do Rio de Janeiro. O rapaz foi morto durante uma operação do Batalhão de Operações Especiais (BOPE) da Polícia Militar, na noite do último domingo (28), no Morro da Coroa, região central da cidade. Parentes e amigos do jovem contestam a truculência da operação e afirmam que o tiro partiu da arma de policiais.
Após o enterro, por volta das 15h30, pessoas próximas ao jovem fizeram uma manifestação e caminharam até o Palácio Guanabara, sede do governo do Estado, para cobrar punição aos culpados. Parentes e amigos usavam camisetas estampadas com o rosto do rapaz pedindo justiça. Testemunhas afirmam que o jovem foi morto porque teria sido confundido com um traficante.
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Rafael tinha uma empresa de entregas de mercadorias. Ele atuava para editoras de livros e também entregava pizzas na comunidade onde morava. Era o que ele estava fazendo no momento em que o Bope entrou na localidade em uma ação contra o tráfico na região. O rapaz acabou atingido na cabeça, foi levado ao hospital Souza Aguiar, mas não resistiu. Na operação, um outro homem foi morto, apontado pela polícia como chefe do tráfico, e um terceiro ficou ferido.
Em nota ao Terra, a PM informou que “o comando do Bope instaurou Inquérito Policial Militar (IPM) para apurar as circunstâncias do fato” e que “as armas dos policiais foram apreendidas pela 5ª DP (Delegacia de Polícia) e encaminhadas para perícia”.
Rafael Neris era proprietário da empresa RR Express Soluções em Logística. Parecendo não acreditar na morte violenta do seu funcionário, o editor Sérgio Cohn, proprietário da editora Azougue, acompanhou o enterro e contou à reportagem que o rapaz era muito competente e tinha planos para sua pequena empresa. “Certa vez, eu marquei uma entrega de livros com ele num sábado. Fiquei preocupado de ele não aparecer. O Rafael chegou e me disse que não faltava a compromissos. Tinha uma postura de seriedade total”, conta Sérgio.
Segundo o editor, Rafael, que prestava serviços para a editora há sete meses, não se queixava da violência na região onde morava e tinha uma postura muito positiva. “Ele era muito propositivo. Era sempre ‘bola pra frente’. Sempre pensando em fazer, em construir. A gente conversava muito sobre como ele poderia fazer a empresa dele acontecer de vez”. Agora, as outras editoras para as quais o rapaz prestava serviço de entrega também pensam em redigir uma carta em apoio a ele e à sua família.
Para Sergio Cohn, o fato de ter sido confundindo com traficantes não justifica o que aconteceu. “Tentaram desqualificar a imagem de quem foi morto. Uma tentativa dolorosa para os amigos e para a família. Mas, independente disso, ninguém deve morrer assim. É uma violência que não pode existir em nenhum sentido. Bandido pode morrer assim? Não, ninguém pode”.